terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Zé Marmeleira e os Arcade Fire


O que têm em comum os National, os Grizzly Bear, os Vampire Weekend, os Fleet Foxes, os Spoon e os Arcade Fire? Resposta: música pop educada e politicamente correcta. Começa assim o postal de Zé Marmeleiro sobre o LP The Suburbs, dos Arcade Fire. E começa da forma clássica, atirando a carta do politicamente correcto para cima da mesa. Porquê? Ninguém sabe, mas é da praxe que o carimbo do politicamente correcto serve para tudo e mais alguma coisa e quem o retirar do bolso primeiro enfia com uma carimbadela de totó, menino da mamã, menino do coro, na testa do antagonista. E como o Marmeleiro Zé não é nenhum totó, logo se refere às bandas citadas como coisa para bater palminhas em grupo. Palminhas ao som dos National? Porque não? Também já acompanhei o Decades, dos Joy Division, com palminhas e hi-fives, mas estava acompanhado de dois rastas numa coffee-shop de Amesterdão a... tomar um cimbalino. Será que isso conta?

Adiante. Após várias frases sem qualquer sentido, dignas de uma redacção do terceiro ano cuja classificação não lhe dá para ir à oral, somos confrontados com a presença dos piores fantasmas da pop dos anos 80 do século passado (não se pronunciarão aqui os seus nomes). Ó Zézito, anos 80 do século passado? Então de que século poderiam ser? Do século XIX? Será que o marmelo não percebe que escreve para a Time Out sobre música pop, e não para a History Today? Quanto aos nomes que aqui não se pronunciarão, eu pronuncio-os. São os New Order. Os piores fantasmas da pop dos anos 80 (do século passado, obviamente) são os New Order. Poderia especular sobre quais serão os melhores fantasmas da pop dos anos 80 (daquele século que vocês sabem), segundo a opinião de Marmelo José, mas isso era um golpe demasiado baixo, nunca o faria, mas já que insistem... os Spandau Ballet, os Matt Bianco e os Huey Lewis and The News (porque o cronista é cosmopolita). Nunca os Duran. O Marmelo é muito macho.

E o escriba clama O que aconteceu ao indie rock? Ao grito do punk? Ao feedback? Caro Zé, lamento desiludi-lo, mas qualquer analfabeto o pode informar que o punk nasceu em 1976 e morreu, vá lá, uns nove mesitos depois. Estamos em 2010. Já é tempo de enterrar o defunto... Quanto ao feedback, se gosta tanto de torrar as orelhitas e o feedback vale só por si, aconselho vivamente a edição revista e aumentada da última edição do Lou Reed, o Metal Machine Music. Um tratado de modernidade sobre o feedback. Editado, originalmente, em 1975. Muito fashion. Enfiar o feedback num disco dos Arcade Fire é como espetar o mesmo numa cançãozita do viril (não sou eu que digo, é o Marmelo...) Springsteen.

A epístola termina com o nosso herói a lamentar a falta de matéria-prima (porque ideias, pelos vistos, há muitas) em The Suburbs. De matéria-prima, de pathos, de angst e de história. Good Golly Miss Molly! Vou ali ler o L'Étranger (no original, obviamente) e volto já...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mão Morta na Serra do Pilar


Concerto dos Mão Morta na Serra do Pilar. Coloquei algumas fotos de má qualidade (a máquina e a habilidade do operador não dão para mais) que dá para ver o look men in black, muito sóbrio, da banda que, se tudo correr bem, acabará por fazer o Coliseu, mais cedo ou mais tarde. O som não era nada mau, mas podia ser melhor. Só assisti a uma hora e pouco, por força das baterias do herdeiro terem descarregado por completo. Mesmo assim, aqui vai: 3 músicas do novo disco a abrir, o magnífico Tiago Capitão (nmo tem tudo para se tornar um clássico), uma que não me lembro o nome (os neurónios tb já não são o que eram) e Conspiração. Do Pesadelo em Peluche ainda tocaram Novelos de Paixão e O Seio Esquerdo de R.P. Intercalaram as novas com os clássicos Oub'Lá, Cão da Morte, E Se Depois, e Anarquista Duval.

Aproveitei para me encontrar com o António Alberto, aqui do Musicbook, com quem comecei a ir a concertos, no entanto já não fazíamos isto há uns bons 20 anitos. No mínimo. Valeu.

A Estrada, de Cormac McCarthy


Já devem ter reparado que, por norma, falo dos livros que estou a ler, mas nunca dos que acabei de ler. Há vários motivos para o fazer. Quem quiser ler críticas a livros, sabe onde encontrar profissionais fiáveis em quem confiar antes de gastar o dinheiro que tanto lhe custou a ganhar, não vem ler parvoíces escritas por dois semi-analfabetos, num blogue marado. Por outro lado, quando acabo de ler um livro, arrumo-o de vez e preocupo-me apenas com a escolha do seguinte, seguindo um critério rigoroso que, por norma, tem como base científica a selecção daquele sobre o qual o meu olhar cai quando olho para as estantes repletas de exemplares em estado pura lã virgem.

Mas hoje não vou falar do livro que estou em vias de terminar, A Estrada. Limito-me a deixar aqui a opinião de um gajo que lê mais e melhor que eu, o Dupont. Passeando junto à rebentação das pequenas ondas de final de tarde do mar da praia de Moledo, como dois personagens saídos da Morte em Veneza de Thomas Mann, mas sem a morte e sem a pederastia, e lembrando-me que lhe tinha oferecido um exemplar há tempos idos, inquiri-o.

Olha lá, tu já leste A Estrada?

Ao que ele respondeu, com ar angustiado:

Foda-se...
E pronto, com esta vos deixo. Se querem a minha opinião, A Estrada é um livro magnífico, que eu desaconselho vivamente. Boas leituras.