Ontem à noite fui ver o Panda Bear à Casa da Música. Ver o Panda Bear é uma força de expressão. É mais correcto dizer: tentar ver o Panda Bear. Apesar de me encontrar num óptimo lugar, durante os 90 minutos que durou o concerto consegui ver o senhor, vá lá, durante uns bons 20 minutos. Porquê? Por causa do fumo.
Com a sala preenchida a um terço, mesmo que todos os espectadores presentes tivessem fumado 2 maços de SG Filtro durante aquela hora e meia, não eram capazes de produzir 10% da quantidade de fumo que envolveu os dois músicos durante quase todo o concerto.
A coisa torna-se mais ridícula quando, nos tempos que correm, é expressamente proibido fumar nas salas de espectáculo. Além de se ter perdido a tradição do singular charrito a meio do concerto chegamos ao cúmulo de, caso se acenda um cigarro clandestino no meio da audiência, vermos cair em cima do infrator a corporação de bombeiros de serviço no local, como se estivessemos a meio de um Benfica-Sporting.
Já tinha vivido uma situação parecida no Coliseu do Porto. Mas como aconteceu naquele que foi, com toda a certeza, o pior concerto que vi em toda a vida, a coisa não foi grave. Apesar dos avisos de alguns amigos que se preocupam com o meu bem-estar e quando todas as circunstâncias aconselhavam a ficar em casa, comprei bilhete para ver os Sisters of Mercy. E apesar de o cartaz indicar o nome da banda e as críticas dos dias seguintes mencionarem o evento, pela parte que me toca podia bem ser o Trio Odemira a cantar o This Corrosion em playback. Durante 90 minutos, o palco do Coliseu parecia a batalha de Alcácer-Quibir. Não se via puto.
Caros Senhores dos Fumos das casas de espectáculos, nos anos 50 o Elvis subia para um estrado com uma guitarrita á tira-colo, uma pandeireta e um contrabaixo, começava a gingar as ancas e o nível de humidade da sala atingia níveis nunca vistos. E não precisava de fumos. Se quisermos ver gajos a sair do meio de fumo, vamos assistir ao Frei Luís de Sousa ou vamos saltar fogueiras no S. João.
Percebido?