domingo, 26 de agosto de 2012

50 anos, 50 álbuns

Fazer uma lista dos 50 álbuns favoritos era, como devem calcular, demasiado óbvio (por isso, lá iremos, daqui a pouco). Como tal, resolvi fazer uma lista dos meus álbuns favoritos, ao longo destes 50 anos de vida, mas introduzi algumas regras para tornar a coisa mais aliciante:

Discos ao vivo, colectâneas e versões, não valem.
Só foi escolhido um disco por ano.
Não pode haver mais que um disco por autor, incluíndo discos a solo de membros de bandas.

Parece fácil? Tentem e vão ver. Aqui ficam as minhas escolhas:

Autor, Álbum, Ano
Getz/Gilberto, Getz/Gilberto, 1963
The Kinks, Kinks, 1964
Bob Dylan, Highway 61 Revisited, 1965
The Velvet Underground, The Velvet Underground & Nico, 1966
The Doors, The Doors, 1967
Van Morrison, Astral Weeks, 1968
Led Zeppelin, Led Zeppelin II, 1969
Neil Young, After The Gold Rush, 1970
Leonard Cohen, Songs Of Love and Hate, 1971
Lou Reed, Transformer, 1972
Roxy Music, For Your Pleasure, 1973
Genesis, The Lamb Lies Down On Broadway, 1974
Joni Mitchell, The Hissing of Summer Lawns, 1975
David Bowie, Station To Station, 1976
Sex Pistols, Never Mind The Bollocks, 1977
Bruce Springsteen, Darkness on the Edge of Town, 1978
Talking Heads, Fear of Music, 1979
Joy Division, Closer, 1980
Echo & The Bunnymen, Heaven Up Here, 1981
John Cale, Music For A New Society, 1982
Tom Waits, Swordfishtrombones, 1983
Lloyd Cole & The Commotions, Rattlesnakes, 1984
The Jesus and Mary Chain, Psychocandy, 1985
The Smiths, The Queen Is Dead, 1986
Pixies, Surfer Rosa, 1987
Nick Cave & The Bad Seeds, The Mercy Seat, 1988
Mekons, Mekons Rock'n'Roll, 1989
Jane's Addiction, Ritual de lo Habitual, 1990
Nirvana, Nevermind, 1991
Pearl Jam, Ten, 1992
Morphine, Cure For Pain, 1993
Jeff Buckley, Grace, 1994
Tricky, Maxinquaye, 1995
Barry Adamson, Oedipus Schmoedipus, 1996
Tindersticks, Curtains, 1997
Mercury Rev, Deserter's Songs, 1998
The Flaming Lips, The Soft Bulletin, 1999
Calexico, Hot Rail, 2000
The White Stripes, White Blood Cells, 2001
Queens Of The Stone Age, Songs For The Deaf, 2002
Robert Wyatt, Cuckooland, 2003
Franz Ferdinand, Franz Ferdinand, 2004
Arcade Fire, Funeral, 2005
Arctic Monkeys, Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, 2006
Beirut, The Flying Club Cup, 2007
TV On The Radio, Dear Science, 2008
Grizzly Bear, Veckatimest, 2009
John Grant, Queen of Denmark, 2010
Dirty Beaches, Badlands, 2011
Mark Lanegan Band, Blues Funeral,  2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Memórias difusas de Vilar de Mouros (30 anos depois) - parte 2


(continuação)

 A manhã seguinte demonstrou que a nossa opção não foi a melhor. Ao longo das primeiras horas começaram a chegar grupos de gente aos magotes e, tal como nós, optaram pela solução mais fácil, acampar na praia. Correndo o risco de vermos o local onde estávamos alcançar um índice populacional superior à baixa de Tóquio, resolvemos arrumar as trouxas e subir o rio em algumas centenas de metros, á procura de um local com sombra e com pouca gente. Não foi preciso procurar muito. Rapidamente assentamos arraiais junto a uma pequena clareira, a uns bons 30 metros da margem do rio, no meio do mato bravo mas, por enquanto, limpo e sossegado. No local ainda foi possível aproveitar o que restava de uma antiga fogueira, rodeada por enormes calhaus, a que daríamos bastante uso.

 Nos primeiros dias, o tempo passava-se entre o tasco e o local do festival, totalmente aberto aos transeuntes, devido ao facto de cortar a meio uma rua á qual, com muito boa vontade, se poderia chamar de “principal”. À distância de 30 anos, uma primeira visão do espaço onde o Festival iria decorrer era reveladora do completo amadorismo e da dimensão do potencial desastre que se aproximava. À época, o entusiasmo juvenil, a sensação de liberdade e a total inconsciência no sentido lato do termo, faziam tábua rasa de tudo o resto.

 As casas de banho, e por casas de banho entenda-se retretes ou sanitas, conforme preferirem, seriam insuficientes se estivéssemos a falar da comunhão solene de um órfão de pai e mãe com um enorme défice de competências sociais. Como se tratava de um festival onde eram esperadas cerca de 20,000 pessoas na primeira noite (números avançados pela organização), rapidamente se chega à conclusão que o técnico que planeou esta parte do evento tinha um mórbido sentido de humor, era um perfeito incompetente ou sofria de prisão de ventre desde o regicídio de 1908.

 No que toca à alimentação, e tirando o já referido tasco da azenha, sobrava a boa vontade de alguns indígenas que vendiam sandes a preços nada especulativos, ao contrário do que se poderia esperar. O resto era o zero absoluto. Da parte da organização, que me lembre, nada foi providenciado. Segundo julgo saber existia um ou dois parques de campismo “oficiais” onde a situação poderá ter sido diferente. A maioria das pessoas que ocorreu ao Festival e que, tal como nós, acamparam no meio do mato e tinham pouco ou nenhum dinheiro, passaram fome e/ou roubaram a fruta dos pomares vizinhos. Desde já, aqui ficam as minhas desculpas pelos actos à época cometidos e um muito obrigado pela compreensão dos locais que sempre nos trataram com o maior carinho, em vez de nos aviarem umas sacholadas na cornadura que era aquilo que merecíamos.

 O palco, uma minúscula estrutura de betão de pouco mais de metro e meio de altura, era ladeado por uns frágeis andaimes que ameaçavam desmoronar-se à primeira rajada de vento e serviam de suporte às colunas do PA que, alguns dias mais tarde, seriam cobertas por uns plásticos, devido ao anúncio de uns chuviscos de verão. Junto ao palco, abandonados à sua sorte, repousavam meia-dúzia de gradeamentos que, durante os primeiros 5 minutos do concerto dos Bunnymen, serviu para manter o público afastado do palco. Na cobertura de zinco, era visível um conjunto de lamparinas, que constituía o sistema de luzes e  seria utilizado ao longo dos nove dias do evento.

 Tudo aquilo parecia mais apropriado a um arraial minhoto que a um Festival de música onde estariam presentes milhares de pessoas. Mal sabíamos nós que, alguns dias depois, estaríamos mesmo a assistir, atónitos, a uma verdadeira desfolhada minhota.

 (continua)