1978: Uma estadia prolongada na República Federal Alemã (sim, ainda existia) alarga-me os horizontes a vários níveis e mais um. Com o Punk a dar as últimas, saem da toca as bandas New Wave. A televisão local, e alguns canais holandeses que via por estar perto da fronteira, apresentam diversos programas sobre música pop, coisa inédita em Portugal. O Musikladen é uma espécie de Top Of The Pops mas sem tabela (que me lembre). Lá aparecem os Ramones, os Blondie a promover 'Denis', Elvis Costello e os Devo. Infelizmente, por cada um destes nomes, temos de gramar dez cópias maradas dos Abba, Boney M e pop manhoso com muita brilhantina e lantejoula. Por outro lado, o Rockpalast transmitia concertos rock (quase) na íntegra. A coisa alternava entre uns UFO e Uriah Heep de má memória com Stranglers, Nina Hagen, Boomtown Rats e Joe Jackson. Por todo o lado aparecia um tal Udo Lindenberg, uma improvável estrela rock, que nunca deu o salto para fora das fronteiras germânicas.
Lá fora assiste-se aos regresso de Sprinsteen após a longa batalha judicial com o antigo manager. A espera compensou largamente. A pompa e circunstância de Born To Run é substituída por uma sonoridade mais sóbria, mais próxima dos primeiros discos, mas não tão caótica. As canções abandonam o imaginário adolescente e afundam-se no desespero e no tédio dos subúrbios, vidas perdidas entre os dias nas fábricas e as noites de copos. É o melhor disco de Bruce, é o disco do ano. É o disco de todos os anos.
Também Lou Reed regressa com o seu melhor desde Berlin. Pelo meio ficaram discos mediocres, com um par de boas canções cada. O futuro também não será muito melhor. The Blue Mask á parte, Lou será mais um cadáver a repousar no longo cemitério que foram os anos 80.
Neil Young descobre o Prozac e canta sobre amor e passarinhos e os Kraftwerk continuam a deslumbrar e editam o seu trabalho mais pop. Alguns anos depois, alguns incompetentes vão pegar em Man Machine e em Low, misturam com fatiotas Luís XIV e maus cabeleireiros e darão origem à pop mais boçal saída das caves do Império Britânico desde os tempos dos Slade.
Dos USA chega-nos um compêndio pop da autoria dos Blondie. O anterior Plastic Letters era um disco catita, mas Parallel Lines é um monumento. Cada canção é um potencial hit single, é o disco que eleva Debbie Harry á condição de diva da sua geração. Os Pere Ubu editam os seu primeiro álbum que confirma a genialidade de David Thomas que já se adivinhava desde o lançamento, dois anos antes, do single Final Solution, um dos melhores 7" da década.
Howard Devoto aborreceu-se do som primário dos Buzzcocks e avança com os Magazine, abrindo a porta ás influências da década que findava e apontando o caminho a alguns dos seus pares. Caminho que o próprio Devoto não trilharia ao enveredar por uma curta carreira a solo, que produziu um disco desinspirado e pouco interessante. Regressaria no final da década para uma outra história.
Darkness On The Edge Of Town (Bruce Springsteen)
Parallel Lines (Blondie)
All Mod Cons (The Jam)
Power In The Darkness (Tom Robinson Band)
First Edition (P.I.L.)
Street Hassle (Lou Reed)
Comes A Time (Neil Young)
Question/Answer (Devo)
The Man Machine (Kraftwerk)
Real Life (Magazine)
The Modern Dance (Pere Ubu)
Os pensamentos iluminados de duas mentes brilhantes escorrem pelas páginas deste coiso.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
1977 - Top 10+
1977: Tudo corre mal. O Punk estoura em Inglaterra mas esquecem-se de me avisar. Algumas más companhias (só podia ser) levam-me a coleccionar monumentais montes de esterco. Dos Stones mid-70s aos Barclay James Harvest, dos Triunvirat aos Queen, durante 3 anos vou acumular apocalípticas quantidades de lixo. Nem tudo vai ser mau. É uma época onde vou encontrar Springsteen, Lou Reed e Dr. Feelgood. Se ninguém descobrir, tenho a reputação intacta.
Lá fora chovem novidades. A fonte de música nova parece inesgotável. Inúmeras bandas editam os seus primeiros trabalhos, cada um melhor que o outro. O Top 10 podia bem ser preenchido apenas com caloiros, mas alguns veteranos insistem em editar excelentes álbuns, mantendo enorme coerência no trabalho até aqui apresentado.
Bowie edita Low e Heroes, os dois primeiros capítulos da trilogia de Berlim. O segundo, por ser mais convencional e uma continuidade de Low, ficou de fora. Mas é injusto. Low, com o seminal lado B, vai marcar gerações de novos músicos que chafurdam na pop electrónica. Para o bem e para o mal. O inner circle de Bowie também está bem representado com Eno a apresentar o seu álbum mais introspectivo (contagiado pelas sessões de Low?) e Iggy a assinar a sua obra-prima. Apesar do brilhantismo dos álbuns estreia dos Television e Suicide, o ano pertence ao Punk britânico. Chovem discos, cada um melhor que o outro, e tudo leva com o carimbo Punk em cima. Mesmo quando essa catalogação se torna muito discutível. O disco do ano é, obviamente, Never Mind The Bollocks. A facção neo-chique prefere o primeiro disco dos Clash. A discussão fica para os académicos da coisa. A cunha do ano é metida pelos Stranglers. O disco talvez não mereça estar no Top10 do ano, mas este é o meu Top10 e eu é que mando. A idade mais entradota dos músicos, aqueles teclados prog e a atitude go fuck yourself da banda irritou meio mundo, mas os 6 albuns editados entre 77 e 81 revelaram uma banda com uma identidade muito própria, que sabia bem para onde ia e que estava nas tintas para os efeitos secundários.
Low (David Bowie)
Never Mind The Bollocks (Sex Pistols)
Rattus Norvegicus (The Stranglers)
Before And After Science (Brian Eno)
The Idiot (Iggy Pop)
Marquee Moon (Television)
Trans Europe Express (Kraftwerk)
Rocket To Russia (Ramones)
Suicide (Suicide)
The Clash (The Clash)
Ficaram de fora:
My Aim Is True (Elvis Costello)
In The City (The Jam)
77 (Talking Heads)
Exodus (Bob Marley and The Wailers)
New Boots And Panties (Ian Dury)
Lá fora chovem novidades. A fonte de música nova parece inesgotável. Inúmeras bandas editam os seus primeiros trabalhos, cada um melhor que o outro. O Top 10 podia bem ser preenchido apenas com caloiros, mas alguns veteranos insistem em editar excelentes álbuns, mantendo enorme coerência no trabalho até aqui apresentado.
Bowie edita Low e Heroes, os dois primeiros capítulos da trilogia de Berlim. O segundo, por ser mais convencional e uma continuidade de Low, ficou de fora. Mas é injusto. Low, com o seminal lado B, vai marcar gerações de novos músicos que chafurdam na pop electrónica. Para o bem e para o mal. O inner circle de Bowie também está bem representado com Eno a apresentar o seu álbum mais introspectivo (contagiado pelas sessões de Low?) e Iggy a assinar a sua obra-prima. Apesar do brilhantismo dos álbuns estreia dos Television e Suicide, o ano pertence ao Punk britânico. Chovem discos, cada um melhor que o outro, e tudo leva com o carimbo Punk em cima. Mesmo quando essa catalogação se torna muito discutível. O disco do ano é, obviamente, Never Mind The Bollocks. A facção neo-chique prefere o primeiro disco dos Clash. A discussão fica para os académicos da coisa. A cunha do ano é metida pelos Stranglers. O disco talvez não mereça estar no Top10 do ano, mas este é o meu Top10 e eu é que mando. A idade mais entradota dos músicos, aqueles teclados prog e a atitude go fuck yourself da banda irritou meio mundo, mas os 6 albuns editados entre 77 e 81 revelaram uma banda com uma identidade muito própria, que sabia bem para onde ia e que estava nas tintas para os efeitos secundários.
Low (David Bowie)
Never Mind The Bollocks (Sex Pistols)
Rattus Norvegicus (The Stranglers)
Before And After Science (Brian Eno)
The Idiot (Iggy Pop)
Marquee Moon (Television)
Trans Europe Express (Kraftwerk)
Rocket To Russia (Ramones)
Suicide (Suicide)
The Clash (The Clash)
Ficaram de fora:
My Aim Is True (Elvis Costello)
In The City (The Jam)
77 (Talking Heads)
Exodus (Bob Marley and The Wailers)
New Boots And Panties (Ian Dury)
terça-feira, 2 de outubro de 2012
1976 - Top 10+
1976: As coisas estão mais ou menos na mesma. No entanto, um tipo do Barreiro que conheci nesse Verão, enviou-me uma caixa com uma vintena de k7s, onde se encontravam 'Blood On The Tracks', 'Who's Next', 'Déjà Vu', a BSO do Woodstock, Kraftwerk, Hendrix e outras coisas que já não me lembro. A minha discoteca pessoal (composta por 3 vinis dos Beatles e umas 5 ou 6 dezenas de k7s) aumentava e melhorava consideravelmente.
Lá por fora, as coisas continuam cinzentas e a pedir um bom pontapé no rabo. Stevie Wonder edita o seu último grande álbum. Os anos 80 e 90 seriam desastrosos para um dos músicos mais influentes de 70. O Pub Rock antecipa o Punk com os Dr. Feelgood, Kilburn & The High Roads e os 101'ers, mas o disco a escutar era Howlin' Wind de Graham Parker. Bowie, afundado em cocaína e no projecto The Man Who Fell To Earth, reinventa-se mais uma vez e grava Station To Station, um disco de apenas 6 canções que aponta para uma porta que seria aberta no ano seguinte. É um disco imperfeito e pouco coerente, mas é o meu disco favorito de David Bowie.
Também Joni Mitchell e Tom Waits editam os meus discos favoritos dos respectivos catálogos (afinal, parece que o ano não foi tão mau como isso). O disco de Waits alterna entre o humor autodepreciativo e as narrativas capazes de fazer chorar as pedras da calçada. É o melhor disco de Waits antes de Swordfishtrombones e contém 2 das suas maiores canções. É a minha escolha para disco do ano. Apesar de Hejira.
O álbum dos Ramones é o disco mais importante do ano. Para muitos, marca o fim da década de 70 sem, contudo, marcar o início de 80. Percebe-se a ideia, mas não deixa de ser uma injustiça para uma das décadas que viu nascer um sem número de nomes e tendências que marcariam as décadas seguintes.
Hejira (Joni Mitchell)
Desire (Bob Dylan)
Ramones (Ramones)
The Modern Lovers (The Modern Lovers)
Kate and Anna McGarrigle (Kate and Anna McGarrigle)
Station To Station (David Bowie)
Small Change (Tom Waits)
Rastaman Vibration (Bob Marley & The Wailers)
Songs In The Key Of Life (Stevie Wonder)
Howlin' Wind (Graham Parker)
Lá por fora, as coisas continuam cinzentas e a pedir um bom pontapé no rabo. Stevie Wonder edita o seu último grande álbum. Os anos 80 e 90 seriam desastrosos para um dos músicos mais influentes de 70. O Pub Rock antecipa o Punk com os Dr. Feelgood, Kilburn & The High Roads e os 101'ers, mas o disco a escutar era Howlin' Wind de Graham Parker. Bowie, afundado em cocaína e no projecto The Man Who Fell To Earth, reinventa-se mais uma vez e grava Station To Station, um disco de apenas 6 canções que aponta para uma porta que seria aberta no ano seguinte. É um disco imperfeito e pouco coerente, mas é o meu disco favorito de David Bowie.
Também Joni Mitchell e Tom Waits editam os meus discos favoritos dos respectivos catálogos (afinal, parece que o ano não foi tão mau como isso). O disco de Waits alterna entre o humor autodepreciativo e as narrativas capazes de fazer chorar as pedras da calçada. É o melhor disco de Waits antes de Swordfishtrombones e contém 2 das suas maiores canções. É a minha escolha para disco do ano. Apesar de Hejira.
O álbum dos Ramones é o disco mais importante do ano. Para muitos, marca o fim da década de 70 sem, contudo, marcar o início de 80. Percebe-se a ideia, mas não deixa de ser uma injustiça para uma das décadas que viu nascer um sem número de nomes e tendências que marcariam as décadas seguintes.
Hejira (Joni Mitchell)
Desire (Bob Dylan)
Ramones (Ramones)
The Modern Lovers (The Modern Lovers)
Kate and Anna McGarrigle (Kate and Anna McGarrigle)
Station To Station (David Bowie)
Small Change (Tom Waits)
Rastaman Vibration (Bob Marley & The Wailers)
Songs In The Key Of Life (Stevie Wonder)
Howlin' Wind (Graham Parker)
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