1979: Mais uma estadia de 4 meses na RFA com um saldo positivo. Com 16 aninhos não dava para entrar nos clubes nocturnos (cambada de fascistas!) mas nas matinées e nas festas de garagem havia um ambiente muito ecléctico. Era frequente cruzar o Eurodisco da moda com os Police (que estavam a aparecer em força), os Blondie e o Joe Jackson. Era uma época onde a música pop voltava a ser popular, graças ao período de terra queimada do Punk. O single voltava a reinar e a rádio passava Echo Beach, Turning Japanese e I Want You To Want Me.
Uns meses antes, no liceu, alguém me chamou a atenção para um programa da Rádio Renascença, o Rotação, onde era suposto passar uma música engraçada. Parece que o senhor que apresentava o programa percebia do assunto. Devo ter ouvido meia-dúzia de vezes e meti a sugestão na gaveta. Sempre fui um visionário.Lá por fora os Clash conseguem editar, ao mesmo tempo, o último grande álbum da década de 70 e o primeiro da década de 80. Com lançamento em Dezembro de 79 no Reino Unido e em Janeiro de 80 nos Estados Unidos, London Calling é presença obrígatória nas listas de melhores álbuns de duas décadas. Uns vigaristas!
Cohen regressa após o tropeção Death Of A Ladies Man, o pedregulho produzido por Phil Spector um par de anos antes. É o seu álbum mais sóbrio desde Songs From A Room e marca o fim de um ciclo. O trovador da guitarrinha trolaró saiu de cena com este disco.
Neil Young e os Crazy Horse editam Rust Never Sleeps, um disco gravado, maioritariamente, ao vivo. Apesar da beleza das canções incluídas no lado acústico, é o lado B que o torna inesquecível e arrasador. Cria um modelo que, dez anos mais tarde, será utilizado pelas grandes bandas de Seattle.
Os Specials são a força motriz do revivalismo Ska. As suas canções, carregadas de um humor cínico e uma visão peculiar do quotidiano, destacam-se no meio das várias edições que deram à costa nessa onda. Os Madness, também editam um excelente primeiro álbum mas rapidamente navegam por águas distintas e transformam-se numa das maiores máquinas de produção de singles pop da década de 80. As restantes bandas (Selecter, Mo-Dettes, Bodysnatchers, Bad Manners) editam um par de singles decentes e saem de cena.
A escolha de álbum do ano é complicada. Unknowm Pleasures é um disco magnífico e influenciou inúmeras bandas ao longo das décadas de 90 e 00. Infelizmente, salvo raríssimas excepções (Interpol p.e.), a maioria dessas bandas não passavam da tentativa de cópia barata e não possuíam alma própria. Tenho dúvidas se o disco teria o mesmo impacto caso Ian Curtis não se tivesse suicidado e passasse os anos 90 em Ibiza a gravar o Tehcnique ou o Regret. Mas para o caso, as minhas dúvidas não interessam para nada. Cheguei aos Joy Division de marcha-atrás (poupem nas piadas, sff). Primeiro o Love Will Tear Us Apart, depois o Closer e por fim, o Unknown Pleasures. Continuo a achar o Closer o melhor dos dois, um disco que nem parece ter sido feito pela mesma banda. De certa forma, dado o impacto de Closer, quando ouvi o Unknown Pleasures, tive uma pequena sensação de desilusão. O que é estúpido.
A minha escolha vai para o Fear of Music. Desde o primeiro momento que o ouvi que tive a certeza de ser um clássico. Um disco que escutaria 20 anos depois com o mesmo prazer e sempre com a mesma sensação de descoberta. 33 anos depois, continuo a pensar a mesma coisa. Continuo a achar que é o melhor disco dos Talking Heads, apesar de Remain In Light. Tal como os Joy Division, também os Talking Heads influenciaram muitas bandas nos últimos anos. Felizmente, as bandas que beberam nesta fonte (Vampire Weekend, Franz Ferdinand, TV On The Radio) são de excelente colheita.
A lista podia (e devia) ser mais longa. Há bons discos que ficaram de fora. Os Police, com Regatta de Blanc, provam que uma banda chata como a potassa pode, às vezes, produzir discos supimpas. De todos os que tentaram fazer carreira à custa de mamar na teta do reggae, os Police obtiveram o melhor resultado com este disco. Infelizmente não pararam aqui.
Muita gente próxima não me vai perdoar a exclusão de Drums And Wires, um disco que ouvi até à exaustão e o meu favorito da banda. Lamentável. Imperdoável.
De todos, o que mais me custa excluir é The Perfect Release de Annette Peacock. Por causa de uma canção, The Succubus. Mas só havia lugar para 10.
The B-52's (The B-52's)
London Calling (The Clash)
Armed Forces (Elvis Costello)
Joe's Garage (Frank Zappa)
Entertainment! (Gang Of Four)
Recent Songs (Leonard Cohen)
Rust Never Sleeps (Neil Young)
Metal Box (P.I.L.)
The Specials (The Specials)
Fear Of Music (Talking Heads)
Unknown Pleasures (Joy Division)
154 (Wire)
The Perfect Release (Annette Peacock)
Broken English (Marianne Faithful)
Do It Yourself (Ian Dury)
Regatta de Blanc (The Police)
Forces Of Victory (Linton 'Kwesy' Johnson)
Drums And Wires (XTC)
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