sexta-feira, 16 de novembro de 2012

1980 - Top 10+

Graças ao Propedêutico, a melhor invenção da História da Humanidade na perspectiva de um mandrião de 17 anos, tive um ano de 1980 tremendamente ocupado. Na realidade, a coisa começou a meio de 79. Entre jogos de futebol, praia de Abril a Setembro, noitadas na cave da Família Leal, sestas no sofá dos Machados, emissões do Rock em Stock e do Rolls Rock e as crónicas do MEC, a vida era dura. As maratonas de Sueca e King e as directas para a Vandoma não eram para qualquer um. Foi o meu Vietname. No meio de tudo isto, com a febre do Punk/New  Wave devidamente instalada, fui despachando algumas gorduras da minha discografia, algumas das quais bem me arrependo.

A safra de 1980 é vintage. A quantidade de bons discos editados é de tal ordem que dava para encher as Páginas Amarelas. Reduzir a uma lista de 10 é tarefa impossível. Começo pelo disco do ano: Closer. É um objecto estranho na produção pop desse ano e de todos os anos. Apesar do culto, talvez excessivo, à volta dos Joy Division, Closer não teve descendência. As bandas que citam os JD como influência (ou, não citando, ela é evidente) foram beber a Unknown Pleasures ou ao 12" Transmission. Discos como Atmosphere e Closer, mais este que aquele, permanecem intocados, como se estivessemos em presença de objectos sagrados. Não conheço outro caso assim na música pop mais ou menos convencional.
Apesar de já ser ouvinte assíduo do Rolls Rock, a curiosidade (primeiro) e a paixão (depois) por Closer foi-me causada pelos textos do Miguel Esteves Cardoso, que á época escrevia para os semanários O Jornal e Sete, e que podem ser lidos no livro Escrítica Pop, esgotado durante longos anos mas reeditado recentemente. Mais tarde tive acesso aos textos de um outro arauto dos Joy Division, Paul Morley, o mesmo dos Art Of Noise, que muito cedo viu nos Joy Division algo que mais ninguém via. Aconselho vivamente a leitura do seu livro sobre o assunto (podem encontrar uma pequena crítica que escrevi, aqui http://tinyurl.com/cxzz3su). Mas os textos do MEC são melhores.

Outro disco do ano é Remain In Light, dos Talking Heads. Na realidade, o disco foi gravado à época do anterior Fear Of Music, com uma participação reduzida dos membros dos TH. Enquanto gravavam Fear Of Music, David Byrne e o produtor Brian Eno trabalhavam à parte, noutro estúdio, naquilo que viria a ser Remain In Light e My Life In The Bush Of Ghosts, que seria editado no ano seguinte. Podia e devia ser o disco do ano.

Peter Gabriel renasce das cinzas e edita o seu melhor album. De sempre. Depois de abandonar os Genesis editou dois discos engraçados mas que não passaram no teste do tempo, apesar de conterem um par de boas canções. Mas o terceiro LP é um disco perturbador e claustrofóbico, cheio de personagens esquizofrénicas e solitárias. É um disco despido da grandiloquência característica do som da sua antiga banda, próximo de um disco como Fear Of Music, mostrando que Gabriel estava pouco interessado em voltar a trilhar caminhos antigos. Intenção que ficaria bem clara no alinhamento dos magníficos concertos que deu nesse ano em Portugal.

Melhores do ano:
Closer (Joy Division)
Remain In Light (Talking Heads)
Colossal Youth (Young Marble Giants)
Peter Gabriel III (Peter Gabriel)
Songs The Lord Taught Us (The Cramps)
The Voice Of America (Cabaret Voltaire)
Crocodiles (Echo & The Bunnymen)
Grotesque (The Fall)
Crazy Rhythms (The Feelies)
I Just Can't Stop It (The Beat)

Também vintage:
Wild Planet (The B-52's)
American Music (The Blasters)
The River (Bruce Springsteen)
Scary Monsters (David Bowie)
Searching For The Young Soul Rebels (Dexys Midnight Runners)
The Return Of The Durutti Column (Durutti Column)
The Correct Use Of Soap (Magazine)
Pretenders (Pretenders)
The Psychedelic Furs (The Psychedelic Furs)
Borderline (Ry Cooder)
Kaleidoscope (Siouxsie & The Banshees)
More Specials (The Specials)
Suicide II (Suicide)
Kilimanjaro (Teardrop Explodes)
Black Sea (XTC)

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