Paul Morley nunca o afirma ao longo das cerca de 400 páginas do seu livro, mas Joy Division - Piece by Piece é um livro sobre a morte. Não sobre A Morte, mas sobre a morte dos seus protagonistas. A história começa em 1977 e alguns dos principais protagonistas morrerão antes da história acabar. Curtis, o mito, Hannett, o feiticeiro, Gretton, o entusiasta, Wilson, a alma, Joy Division, a banda, New Order, o sobrevivente. Todos mortos em 2007.
É irónico que os três sobreviventes, Morris, Albrecht e Hook, venham a ser conhecidos em toda esta história como personagens quase menores. Como se a composição da melhor canção de todos os tempos, Love Will Tear Us Apart, da outra melhor canção de todos os tempos, Atmosphere, e também de Transmission, a melhor canção de todos os tempos, não tivessem sido escritas a oito mãos. Bem como todas as outras. Mas eles estão vivos, e esta história é feita pelos mortos. Still. Apesar de Blue Monday, o maxi-single mais vendido de sempre, em Inglaterra, que quase os levou à ruína, apesar da Madchester de final da década, que não existiria sem eles, apesar do sucesso à escala planetária. Tudo por causa de um fantasma.
O livro é uma compilação, apresentada por ordem cronológica, dos escritos de Paul Morley sobre os Joy Division. E sobre Tony Wilson. E sobre Manchester, a cidade. A história começa em 1977, os Joy Division ainda não são Joy Division, na verdade, ainda não são Warsaw. E termina em 2007, poucos dias após o anúncio da morte de Tony Wilson, o homem que arrastou o jovem Morley, em Maio de 1980, até à urna onde repousava o cadáver de Curtis e lhe anunciou que um dia ele teria de contar toda a história, porque esse era o seu dever para com ele próprio, para com o Norte, para com Manchester, para com Curtis.
Mas a história começa ainda antes, com outro cadáver, com outro suicídio, que não tem nada a ver com a nossa história e tem tudo a ver com a história de Morley. O suicídio do pai, pouco antes do suicídio do próprio Curtis, os dois fantasmas que vão assombrar a história do autor, o cadáver que ele viu e o que desejava ter visto. A obsessão que o levou a ser proibído de escrever sobre os Joy Division pelo New Musical Express, a frustração de não poder declarar a magnificiência de Unknown Pleasures e o deslumbre de Closer. E a glória de Love Will Tear Us Apart, Atmosphere e Transmission. Cada uma delas, a melhor canção de todos os tempos.
Não me recordo de ouvir os Joy Division pela primeira vez. Mas lembro-me de quando ouvi Love Will Tear Us Apart de forma obsessiva, até rebentar com a fita da cassete com a emissão do Rolls Rock onde a canção estava gravada. Ouvi-a no parque de campismo da Praia Verde, no Algarve, um lugar importante para outra história que não esta. Tinha 17 anos e foi a última vez que passei férias com os meus pais. Exilado no gulag algarvio com saudades dos amigos, dos discos, dos livros, da namorada. Não necessariamente, mas muito provavelmente, por esta ordem.
Um ano depois, num outro país, com saudades dos discos, com saudades dos livros, com saudades dos amigos, mas com uma outra namorada, deitei a mão a Unknown Pleasures e a Closer. Os dois no mesmo dia, numa minúscula loja de discos da vila de Überlingen, no sul da Alemanha. Mas essa é uma outra história e eu não a vou contar. Pelo menos a vocês. Mas a história dos Joy Division, contada por Paul Morley, recomendo-a vivamente.
Ena, não conhecia este livro! Como fã dos JD tenho de o comprar!
ResponderEliminarè um excelente livro. muito interessante para quem se interessa pela época, tão rica em termos de convulsões e diferentes direcções após a morte do punk. então se és fã dos JD, é a cereja em cima do bolo ;)
ResponderEliminar