Tal como aconteceu com Neon Bible, tivemos de esperar três anos pelo novo Arcade Fire. E, mais uma vez, a espera compensou. Primeira nota, é o disco mais longo que a banda produziu até agora (64 minutos) e, por vezes, isso nota-se. Não há chouriços para encher, mas há um par de canções que se estranham. O tempo dirá se se entranham. Como não podia deixar de ser, há também os habituais hinos para estádios, vãos de escada ou elevadores (não, não é brincadeira. Há vários clips que mostram a banda a tocar Wake Up em sítios onde dificilmente caberia um doberman bem apessoado).
Ao primeiro tema, a primeira sensação de estranheza. The Suburbs é uma canção primaveril para cantarolar no chuveiro, os Arcade Fire em versão lolipop. O pagode dura pouco. O tema seguinte, Ready To Start, perfila-se como um candidato a ponto alto dos concertos. Butler protesta, Businessmen drink my blood, Like the kids in art school said they would, e nós protestamos também. Os Arcade Fire não estão aqui para brincar, e quando WB proclama Now I'm Ready To Start, replicamos We Hope You'll Never Stop!
Em Empty Room, os AF vestem as roupas da E Street Band, num rock'n'roll curto mas poderoso, um émulo de Out In The Street (do LP The River), com Régine a dar o corpo (e a voz) ao manifesto. O tema Half Light, divido em duas partes, é outro ponto alto do novo disco. Inicia com a brutal suavidade característica dos AF de The Funeral, com o embalo da voz de Régine Chassagne, e transporta-nos para o final arrebatador onde todos os instrumentos parecem possuídos por um desejo de atingir um clímax que sabem ser impossível de alcançar. Segue-se Suburban War, um dos temas em que mais aposto para os espectáculos e para favorito das multidões. Um hino à solidão, num registo pop marcado por uma percussão sincopada e um piano quase solitário, que mantém os outros instrumentos estranhamente afastados da habitual parede sonora.
Por fim, após o futuro clássico We Used To Wait, chega o meu momento favorito, mais uma peça em dois andamentos distintos, Sprawl. Na primeira parte, WB lamenta-se, Took a drive into the sprawl, to find the places we used to play, it was the loneliest day of my life, you're talking at me but I'm still far away, com uma guitarra deprimente saída directamente de The Last Goodbye de Jeff Buckley. Em socorro surge a boa da Régine, numa entusiasmante segunda parte muito pop, com sintetizadores saídos do nevoeiro dos anos 80, e mais uma canção sobre flores e andorinhas, à boa maneira das Strawberry Switchblades. Será? Dead shopping malls rise like mountains beyond mountains, And there's no end in sight, I need the darkness, Someone please cut the lights. Como é bom o cheiro a depressão pela manhã...
(originalmente publicado aqui)
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