quinta-feira, 27 de setembro de 2012

1975 - Top 10+

1975: Para todos os efeitos, musicalmente, este é o meu ano zero. A entrada para o liceu e consequente acompanhamento de gajos mais velhos de partidos de extrema-esquerda entupiram o meu quarto de lixo (panfletos, livros de Mao, cassetes maradas). A minha banda favorita são os Black Sabbath, dos quais gravei todos os albuns. Também ouço umas coisas de Led Zeppelin, mas não gosto dos Deep Purple. O prog também começa a entrar com os Yes e os Genesis à cabeça. Compro o meu primeiro disco, uma edição espanhola de A Hard Day's Night, que ainda possuo, que apresenta o título 'Que Noche La De Aquel Dia!' na capa. Isto vai piorar.

Graças a um longo processo de divórcio, Dylan regressa da tumba com o seu melhor disco desde 'Blonde On Blonde', destilando veneno por todos os poros. Bowie continua a sua corrida por fora e apresenta o som de Filadélfia a um público branco abrindo caminho para o triunfo do Disco Sound. Os Neu! e os Kraftwerk continuam a lançar sementes que darão frutos estranhos e diversos ao virar da década. Joni Mitchell muda as agulhas, vira-se para ambientes jazzy e assina o seu melhor disco até ao momento (calma, pessoal, eu sei que o 'Blue' é do caraças, mas isto tem a ver com amoques pessoais). No ano seguinte, repetiria a dose com 'Hejira'.

O disco do ano é 'Born to Run'. Depois de dois disquitos engraçados mas que passaram, justamente, despercebidos, Springsteen apresenta um disco de Rock'n'Roll grandioso, com canções longas que contam histórias de esperança e ilusão adolescente, os seus protagonistas são James Deans sem os maneirismos artificiais de 'Rebel Without A Cause', a produção recupera a wall of sound que Phil Spector perdeu pelo caminho. Com 'Born To Run' a indústria viu nascer o maior nome do Rock'n'Roll da década de 70. Springsteen demoraria 3 anos a lançar um novo disco. Mas a espera seria recompensadora.

Algures em Nova Iorque, uma desconhecida abre o seu disco de estreia a vociferar: 'Jesus died for somebody sins, but not mine'.

Blood On The Tracks (Bob Dylan)
Young Americans (David Bowie)
Between The Lines (Janis Ian)
The Hissing Of Summer Lawns (Joni Mitchell)
Radio-Activity (Kraftwerk)
Neu! (Neu!)
Horses (Patti Smith)
Tonight's The Night (Neil Young)
All Around My Hat (Steeleye Span)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

1974 - Top 10+

1974: A revolução chegou mas nem por isso o meu interesse pela música aumentou. Lá em casa entram singles dos Abba e do Demis Roussos (cortesia de uns tios emigrantes) e albuns do GAC e de Sérgio Godinho (juntamente com a gaivota que voava). Na escola, o panorama era um bocadinho melhor. Graças a um gravador manhoso que uma professora de desenho levava para as aulas, ouvi, pela primeira vez, Joan Baez e Dylan (folkie) a que não liguei puto. Nem a uma canção sobre um desgraçado de um pescador cantada pelo Juan Manuel Serrat. A única canção que me chamava a atenção e ficou na memória (porque pedia para a repetir vezes sem conta - sim, já nessa altura era uma melga com estas coisas) era o Partisan do Leonard Cohen.

Mas se em casa o panorama era mau, lá por fora era bem pior. O rock'n'roll está morto e enterrado. Bowie pica o ponto com o seu album mais fraco da década (mas mesmo assim, muito acima da concorrência), os Genesis destacam-se da boçalidade do prog apontando os caminhos por onde Gabriel iria seguir daqui a nada e os Kraftwerk atiram um ovni para o futuro, que seria agarrado pelo pessoal do hip-hop e da música de dança uns anitos mais tarde.

A folk britânica mantém viva a chama (os Steeleye Span também podiam estar aqui incluídos) e na América, três canadianos continuam a traçar o seu percurso negro e irregular (Cohen e Young) ou consistente e luminoso (Mitchell) que, no caso de Neil Young, virá a marcar uma geração 15 anos depois. Mais ao sul, na solarenga L.A., um copofónico com uma paixão por Jack Kerouac e com alma de Dean Martin apresenta-se ao mundo.

O álbum do ano é On The Beach, mas daqui a 5 minutos pode bem ser outro.

Diamond Dogs (David Bowie)
The Lamb Lies Down On Broadway (Genesis)
New Skin For The Old Ceremony (Leonard Cohen)
On The Beach (Neil Young)
I Want To See The Bright Lights Tonight (Richard and Linda Thompson)
Like An Old Fashioned Waltz (Sandy Denny)
The Heart Of Saturday Night (Tom Waits)
Grievous Angel (Gram Parsons)
Autobahn (Kraftwerk)
Court And Spark (Joni Mitchell)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

1973 - Top 10+

1973: ainda faltam 4 anos para Never Mind The Bollocks e o cheiro a mofo é insuportável. A minha jukebox continua a existir em Onda Média. Gosto dos Beatles, de Elton John e do Quarteto 1111, mas a música não entra no Top 10 das minhas prioridades, onde figuram os livros, apanhar caracóis, lagartixas e ranhosas, e dar um chuto numa bola de futebol sem bater com a tromba no chão.

Bryan Ferry mostra quem manda nos Roxy e depois da edição de For Your Pleasure dá um chuto no rabo a Eno e deslumbra com Stranded, o disco que o próprio Eno confessaria, mais tarde, ser o seu favorito. Bowie escreve algumas das suas melhores canções em Aladdin Sane, enquanto se prepara para matar Ziggy. Marley continua a dar pérolas a porcos, leia-se a um mundo que insiste em o ignorar, mas tudo iria mudar dois anos mais tarde. A complexidade de Dark Side Of The Moon deslumbra e vai tornar-se na principal arma de arremesso de uma espécie em rápida expansão, as Melgas Floidianas. No sentido contrário, os Genesis produzem um disco de um lirismo deslumbrante, desenhando os cenários de uma Inglaterra saída de um capítulo de Alice no País das Maravilhas. De todo o lixo que comprei antes de 1979, é dos raros discos que ainda mantenho.

O disco do ano é Berlin, de Lou Reed. Os momentos delicodoces e satíricos de Transformer foram substituídos pela solidão, depressão, dependência da heroína, violência. Lou vintage.

There Goes Rhymin' Simon (Paul Simon)
GP (Gram Parsons)
Aladdin Sane (David Bowie)
Raw Power (The Stooges)
For Your Pleasure (Roxy Music)
Stranded (Roxy Music)
Dark Side Of The Moon (Pink Floyd)
Selling England By The Pound (Genesis)
Catch A Fire (Bob Marley)
Innervisions (Stevie Wonder)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

1972 - Top 10+

1972, enquanto eu passeava na baixa portuense, após mais uma visita ao ortopedista, com umas botas que, anos mais tarde, viriam a ser incluídas numa adenda à Convenção de Genebra, Bowie e a tropa glam apresentavam ao mundo plataformas de metro e meio, make-up exageradíssimo e roupas capazes de fazer corar o António Variações. E música. A melhor música do planeta.

Se o album estreia dos Roxy Music é o disco do ano, 1972 pertence a David Bowie. Hunky Dory já tinha sido um grande disco, a primeira obra-prima, mas ninguém conseguiria antecipar o monumental sucesso de Ziggy Stardust, o disco e o personagem que marcariam os dois anos seguintes da carreira de David. Os Roxy Music apanharam boleia e ultrapassaram Bowie pela direita alta e neo-chique. Mas o ponto alto do ano de David é a recuperação de Lou Reed, morto e esquecido desde o abandono dos Velvet Underground. Transformer, o disco que mais vezes ouvi, é o grande regresso e o disco mais importante da carreira de Lou, pós-Velvet.

Obviamente que só apanhei estes discos alguns anos depois. O primeiro deve ter sido Talking Book de Stevie Wonder, por volta de 75 ou 76. Acabei por rapinar todos os discos de Wonder da década, excepção feita a Secret Life Of Plants, que acho um bocado maçador. Hotter Than July tinha umas cançõezitas trauteáveis e o que se seguiu não pode nem deve ser aqui mencionado.

Harvest (Neil Young)
Exile On Main Street (The Rolling Stones)
Ziggy Stardust (David Bowie)
Transformer (Lou Reed)
Foxtrot (Genesis)
Catch A Fire (Bob Marley)
Can't Buy A Thrill (Steely Dan)
Talking Book (Stevie Wonder)
Close To The Edge (Yes)

domingo, 16 de setembro de 2012

1971 - Top 10+

1971, a música que ouvia em casa da minha avó, na Rádio Renascença, não me deixou grandes (nem pequenas) memórias. A coisa mais antiga que me lembro de ouvir eram os fados de Coimbra do José Afonso e não posso garantir que tenha sido em 1971. Mas fora da minha esfera pessoal, e por incrível que pareça, andavam uns caramelos a fazer alguma coisa de jeito. Da minha colheita pessoal resolvi destacar os seguintes:

Blue (Joni Mitchell)
Who's Next (The Who)
The Low Spark Of High-Heeled Boys (Traffic)
Sticky Fingers (The Rolling Stones)
L.A. Woman (The Doors)
Dersertshore (Nico)
Hunky Dory (David Bowie)
Tago Mago (Can)
What's Going On (Marvin Gaye)

O álbum do ano é Songs Of Love And Hate de Leonard Cohen que conheci 7 ou 8 anos mais tarde (o disco, não o Lenny). Não foi o primeiro disco de Cohen que conheci mas foi, seguramente, o que mais ouvi e mais discuti. Teses de doutoramento foram feitas a horas tardias sobre o significado das canções, em especial o magnum opus, Famous Blue Raincoat. Tanto tempo perdido à volta de algumas palavras quando o verdaadeiro sentido da canção só podia ser um: o meu.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

1970 - Top 10+

Tal como prometido, começo aqui a apresentação do Top 10 elástico dos meus álbuns favoritos (e consequentemente, na Lista Rebelde). Deixo de fora a década de 60 por ter alguma dificuldade em perceber a importância que foi dada a muitos dos discos dessa época que por aqui se encontram empilhados.  Nestas coisas, prefiro os exageros contemporâneos à visão histórica e distanciada da coisa.

Bridge Over Troubled Water (Simon & Garfunkel)
Déjà Vu (Crosby, Stills, Nash & Young)
After The Gold Rush (Neil Young)
If I Could Only Remember My Name (David Crosby)
Loaded (Velvet Underground)
III (Led Zeppelin)
Black Sabbath (Black Sabbath)
Christmas and The Beads Of Sweat (Laura Nyro)
Fotheringay (Fotheringay)
John Barleycorn Must Die (Traffic)
Atom Heart Mother (Pink Floyd)