"Abrindo um novo capítulo no rosário de queixas de pedofilia por membros da Igreja e de ocultação destes crimes, o The New York Times noticiou hoje que altos responsáveis do Vaticano – incluindo o actual Papa Bento XVI – não tomaram medidas contra o padre americano Lawrence C. Murphy, que terá abusado de 200 crianças surdas enquanto trabalhou numa escola do Wisconsin para deficientes auditivos, entre 1950 e 1974.
O diário nova-iorquino refere a existência de correspondência directa sobre este caso trocada entre bispos de Wisconsin e o cardeal Joseph Ratzinger (agora Papa Bento XVI e na altura responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, CDF), que prova que a preocupação central não foi pensar na demissão do padre, mas na forma de proteger a Igreja do escândalo.
O cardeal português José Saraiva Martins, ex-presidente da Congregação para a Causa dos Santos, denunciou o que considera ser “uma conspiração” contra a Igreja Católica. “É um pretexto para atacar a Igreja”, disse aos jornalistas. “Não devemos ficar demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo. É isso que acontece em todas as famílias. Não se lava a roupa suja em público.”
(in Publico, de 25 de Março de 2010)
O homem que nos trouxe, em tempos, pérolas do calibre de "a homossexualidade não é normal" e "as mulheres que pensem casar com muçulmanos precisam de ter muita cautela", volta a esmagar-nos com o peso da sua eloquência. Desta vez, sob a forma de comentário ao recente caso de encobrimento de um padre pedófilo do Wisconsin, por parte de altos responsáveis do Vaticano.
"Alvos de uma conspiração" é uma afirmação forte, mas é a utilizada pelo pároco para descrever a situação em que o ex-cardeal Ratzinger e alguns membros do seu círculo íntimo se encontram devido a recentes denúncias veiculadas através do New York Times. Se esta "conspiração" é mais ou menos grave, ou equivale a uma vingança por parte das vítimas da outra conspiração, protagonizada pela hierarquia da Igreja para encobrir os abusos sexuais do padre pedófilo, não se sabe. Ficará guardado para outro momento de boa disposição que o simpático D. José Saraiva Martins fará o favor de partilhar com os seus fiéis muito em breve.
Uma notinha final. Chamar "lavar roupa suja" a uma exposição de práticas de violação de menores por um padre é, do ponto de vista literário, uma figura de estilo sublime. Não lembraria a Oscar Wilde (peço desculpa por citar um reputado homossexual). Do ponto de vista das vítimas faz o estimável D. José Saraiva Martins parecer uma besta quadrada, o que provavelmente não lhe fará justiça.
Sem comentários:
Enviar um comentário