segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Grinderman

Este Dupond anda a escrever tão bem que desconfio que o gajo anda mas é a traduzir os artigos da Uncut...

A excelente posta sobre os Grinderman e o Cave está tão bem esgalhada que é sem dúvida merecedora deste bico público.

Aqui há gato...


Chama-se Tobias a grande contratação felina para a temporada 2010/2011 cá de casa. Tobias apresenta boa compleição física, bom porte atlético e vai dos 0 aos 100 kms em vários dias, porque não faz outra coisa que não seja dormir, dormir e dormir. Nos intervalos come e bufa, porque não deixa ninguém pôr-lhe a mão. Espero vendê-lo ao Benfica para o ano, por oito milhões e meio...


Uma noite com os rapazes...

1. Sou fã de Nick Cave. Quanto fã és tu, perguntas tu, Marilú. Quando o meu filho nasceu, sugeri chamar-lhe Nick Cave. A minha mulher, surpreendentemente, não deixou. Como alternativa, propus Lucas (o nome do primogénito do sr. Cave). A minha mulher não deixou, ameaçou-me com o divórcio e um enxerto de porrada. Que tal Eduardo, disse eu? Desconfiou mas, após lhe recordar que é o nome do meu amigo mais antigo, aceitou. Ainda hoje desconhece que o homem se chama Nicholas Edward Cave... Se isto não vos basta, afirmo aqui, que fui um dos otários que comprou o Nocturama, esse disco que está para os Bad Seeds como o Death Of A Ladie's Man está para o Leonard Cohen ou o Self Portrait para o Bob Dylan.

2. Todo este relambório vem a propósito da edição, já amanhã, do segundo trabalho dos Grinderman, ao qual foi dado o nome, revelando muita originalidade, de Grinderman 2. Só o ouvi 2 vezes, porque tenho o novo Interpol a bater à porta, e fiquei um pouco desiludido com o resultado. Principalmente depois do que nos foi oferecido no primeiro disco. Quando ouvi o anterior LP fiquei com a ideia que Cave se fartou de estar em casa a jogar scrabble com a mulher e a criançada, e resolveu ir para a farra com a metade dos Bad Seeds que estava disponível na altura. Resultado: um álbum de rock de garagem, sempre nos limites, a lembrar os bons velhos tempos de John Spencer ou White Stripes, com a fúria dos Birthday Party a servir de base a algumas das melhores letras do NC, pós-The Boatman's Call. Como catarse não podia ser melhor. Ou podia? Alguns tempos depois, o resultado da paródia fez-se sentir no último dos NC&TBS, Dig Lazarus Dig, através da incorporação de sons muito mais agressivos, com Cave e Ellis a usarem as guitarras como elemento fundamental do som da banda, o que não acontecia desde Henry's Dream, o disco enjeitado. O preço a pagar: a saída de Mick Harvey, o sideman dos tempos dos Boys Next Door, após uma crescente subalternização do seu papel na banda em favor do novo wonderboy, Warren Ellis.



3. O novo disco não traz nada de novo, bem pelo contrário. Não aponta um outro caminho, limitando-se a apresentar um conjunto de canções que parecem saídas de outtakes do primeiro disco. As letras, contudo, são excelentes. Cheias de visões de um apocalipse privado, como é habitual, carregadas de um humor corrosivo e violento, a roçar o sadismo. À excepção de Evil, a mais curta canção do disco, e do tema que o fecha, Bellringer Blues, tudo o resto parece ensombrado pelos 2 últimos discos do combo, os já referidos Grinderman e Dig Lazarus, Dig, representando uma continuidade e um apaziguamento sonoro, onde o anterior representou uma ruptura no som dos Bad Seeds que culminou na produção de um dos melhores discos da banda, de há muito tempo para cá, Dig Lazarus, Dig.

4. E depois de ver o inenarrável vídeo para o single Heathen Child, só espero que a Suzie Bicks venha buscar o maridinho ao pub, por uma orelha, e o leve para casa em dois tempos. 2011 está à porta e há um novo disco dos Bad Seeds para fazer.

domingo, 12 de setembro de 2010

Li e Gostei - Benjamim, Chico Buarque


Depois do extraordinário "Leite Derramado", voltei a aventurar-me por terras buarqueanas e não me arrependi. Benjamim é um grande livro. Lá mais para o fim do ano pego no "Budapeste" para ver o que acontece.

Há uns anos atrás, um amigo enviou-me um daqueles questionários esquisitos, pedindo-me para responder porque queria pôr os resultados no "site" que então entretinha. Apenas me lembro de uma das respostas que era, à pergunta "Qual o melhor sentimento", a saudade. Eu gosto de ter saudades, aprecio navegar nas águas da nostalgia. Mas detesto o saudosismo e o Senhor Francisco Buarque, distingue isso muito bem nos seus romances em que, por via de regra, o personagem central é um homem em fim de caminho, obcecado pelo que ficou para trás, não tendo a capacidade de rever a história ternamente como quem folheia um álbum de fotografias, mas como quem quer construir desesperadamente uma máquina do tempo que o leve de volta.

Chegado à meia-idade, é isso que constantemente me interrogo: como vai ser quando, privado de poder desfrutar de quase tudo o que hoje aprecio, me limitar a ser espectador dos outros? Conseguirei ter elegância na aceitação da inevitabilidade, ou virarei Benjamim? A não perder.

Li e Gostei - A Casa do Silêncio, Orhan Pamuk

Foi o primeiro livro que li deste autor galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 2006. Como bem aqui escreveu o Dupond, aqui não se faz crítica literária, que é feio.

Mas é um livro mágico, que tem entrada directa nos meus 100 favoritos (onde já estão mais de 300...).

De facto, cada vez aprecio mais os autores orientais (publicados por cá). Tornei-me fã de Naguib Mahfouz depois de ler o excelente "O Beco dos Milagres", prazer prolongado pelo intrigante "As Noites das Mil e Uma Noites".

Preparo-me para, em breve, petiscar "O Contador de Histórias", de Rabih Alameddine, um autor jordano de ascendência libanesa do qual conheço absolutamente nada - o que só aumenta o gozo - mas sobre o qual já li coisas que aguçaram a curiosidade.


Gitanes vs Gauloises

Já se terá porventura escrito nestas últimas semanas tudo que de mais ou menos relevante haveria a dizer sobre a polémica expulsão de membros da comunidade cigana patrocinada pelo senhor Sarkozy - incluindo a vergonha que foi a repescagem do Quaresma por força da lesão do CR7.

Por mim, acho irónico que seja a França, berço dos direitos humanos decorrentes da Revolução de 1789, a fazê-lo: liberdade, igualdade e fraternidade, se fores branquinho, não usares burka ou fez ou solidéu.

Não consigo é evitar dar por mim, lendo os mais inflamados parágrafos de defesa dos direitos da comunidade cigana a circular livremente no território da UE, a pensar no seguinte: quantos destes rapazes de eriçada pena, aceitariam (ou aceitaram) viver na vizinhança de um acampamento cigano? Quantos não se sentem genuinamente inseguros e ameaçados por terem ciganos nas proximidades? Quantos permitem que os seus filhos (nem digo filhas, para não parecer sexista) convivam livremente com rapaziada da etnia cigana (ou romani, a expressão parva que agora se inventou)?

A medida do governo francês é imperdoável. Mas o cheiro fétido da hipocrisia avança por aí fora.

Direito de Resposta

Eu cá não sou politicamente correcto e não gosto dos Arcade Fire (o Dupond acha que eu sou uma besta, mas pronto...). Mas os National, Senhor? Porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?
De repente, dá-me a ideia que o mestre Marmeleiro juntou-se ao coro dos que analisam as bandas (não a música, parece-me) pela escala underground, quer dizer: se se atira um nome que ninguém conhece, bom. Se os tipos até já venderam uns disquitos e por isso começam a parecer a modos que mainstream, então uuuh! fora! é paneleiro!

Não sou um aficionado de música como o Dupond, um rapaz de quem um amigo comum dos anos 80 dizia conhecer tudo que se edita, até a banda mais garageira do Sri Lanka, mas tal como o Papa dos Monty Python, posso não perceber muito de arte, mas sei aquilo de que gosto.