1. Sou fã de Nick Cave. Quanto fã és tu, perguntas tu, Marilú. Quando o meu filho nasceu, sugeri chamar-lhe Nick Cave. A minha mulher, surpreendentemente, não deixou. Como alternativa, propus Lucas (o nome do primogénito do sr. Cave). A minha mulher não deixou, ameaçou-me com o divórcio e um enxerto de porrada. Que tal Eduardo, disse eu? Desconfiou mas, após lhe recordar que é o nome do meu amigo mais antigo, aceitou. Ainda hoje desconhece que o homem se chama Nicholas Edward Cave... Se isto não vos basta, afirmo aqui, que fui um dos otários que comprou o Nocturama, esse disco que está para os Bad Seeds como o Death Of A Ladie's Man está para o Leonard Cohen ou o Self Portrait para o Bob Dylan.
2. Todo este relambório vem a propósito da edição, já amanhã, do segundo trabalho dos Grinderman, ao qual foi dado o nome, revelando muita originalidade, de Grinderman 2. Só o ouvi 2 vezes, porque tenho o novo Interpol a bater à porta, e fiquei um pouco desiludido com o resultado. Principalmente depois do que nos foi oferecido no primeiro disco. Quando ouvi o anterior LP fiquei com a ideia que Cave se fartou de estar em casa a jogar scrabble com a mulher e a criançada, e resolveu ir para a farra com a metade dos Bad Seeds que estava disponível na altura. Resultado: um álbum de rock de garagem, sempre nos limites, a lembrar os bons velhos tempos de John Spencer ou White Stripes, com a fúria dos Birthday Party a servir de base a algumas das melhores letras do NC, pós-The Boatman's Call. Como catarse não podia ser melhor. Ou podia? Alguns tempos depois, o resultado da paródia fez-se sentir no último dos NC&TBS, Dig Lazarus Dig, através da incorporação de sons muito mais agressivos, com Cave e Ellis a usarem as guitarras como elemento fundamental do som da banda, o que não acontecia desde Henry's Dream, o disco enjeitado. O preço a pagar: a saída de Mick Harvey, o sideman dos tempos dos Boys Next Door, após uma crescente subalternização do seu papel na banda em favor do novo wonderboy, Warren Ellis.
3. O novo disco não traz nada de novo, bem pelo contrário. Não aponta um outro caminho, limitando-se a apresentar um conjunto de canções que parecem saídas de outtakes do primeiro disco. As letras, contudo, são excelentes. Cheias de visões de um apocalipse privado, como é habitual, carregadas de um humor corrosivo e violento, a roçar o sadismo. À excepção de Evil, a mais curta canção do disco, e do tema que o fecha, Bellringer Blues, tudo o resto parece ensombrado pelos 2 últimos discos do combo, os já referidos Grinderman e Dig Lazarus, Dig, representando uma continuidade e um apaziguamento sonoro, onde o anterior representou uma ruptura no som dos Bad Seeds que culminou na produção de um dos melhores discos da banda, de há muito tempo para cá, Dig Lazarus, Dig.
4. E depois de ver o inenarrável vídeo para o single Heathen Child, só espero que a Suzie Bicks venha buscar o maridinho ao pub, por uma orelha, e o leve para casa em dois tempos. 2011 está à porta e há um novo disco dos Bad Seeds para fazer.
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