Após ler e reler a excelente e divertida prosa do Dupont sobre os benefícios das corridas sem sentido à beira Douro, qual hamster encharcado em ecstasy numa roda giratória em versão Run Lola Run, senti-me como uma galinha doida (mas não preta) no meio de uma encruzilhada.
Pequeno flashback. No rescaldo de uma consulta médica de rotina fui informado pela simpática profissional de saúde que as minhas tensões andavam a brincar aos astronautas, o colesterol tinha atingido uma cotação em bolsa de fazer inveja a qualquer empresa cotada no PSI20, o coração andava a fazer um tiqui-tiqui-tiqui esquisito e o excesso de peso tornava-me um candidato preferencial para o papel principal do próximo biopic do Vasco Santana. Após a prescrição de uma bateria de análises e contra-análises de fazer corar de vergonha qualquer vencedor da Volta à França, apresentaram-se pela direita baixa as indicações finais: guloseimas, out! café, 2 por dia e nem mais um soldado para as ex-colónias, exercício físico, já!
Quem me conhece sabe que sou bem menino para obedecer espartanamente às duas primeiras ordens, não sem blasfemar o suficiente para ser recebido com pompa e circunstância à porta do Inferno pelo Belzebú in persona. Quanto à história do exercício físico é que temos o caldo entornado. Imediatamente gritei a plenos pulmões: Jamais! Mal sabia eu que a traição estaria para breve e, como sempre, vem de quem mais está perto e de onde menos se espera. A prosa do Dupont era uma facada nas costas, um ferro em brasa pelo rabo acima do meu Grilo Falante pessoal, que a partir do momento em que a li, me passou a buzinar aos ouvidos: Vai! Tu consegues! Vais ver que é giro! Vais-te divertir e fazer amigos! O teu corpo vai ficar mais másculo e vais chegar a casa a cheirar a suor como um verdadeiro herói de Esparta!
Estava quase a sucumbir à tentação quando tive uma epifânia na forma de uma prosa do Grande Miguel Esteves Cardoso que, qual Anjo da Guarda, mais uma vez me apontou o rumo certo para a Salvação, como tantas vezes o fez na longínqua década de 80. Na sua coluna do Público de ontem, sob o título Conservar energia, MEC apontava o exemplo de Winston Churchill que quando lhe perguntaram pelo segredo do seu sucesso (coisa pouca, enfrentar praticamente sózinho a corja nazi até os americanos deixarem de assobiar para o ar e fingir que nada se passava do lado de cá do Atlântico) afirmou peremptoriamente: "A conservação de energia. Nunca ficar de pé quando podia estar sentado e nunca ficar sentado quando podia estar deitado."
E continua o Grande Miguel, "A verdade é que Churchill passava muito tempo a dormir, deitado numa banheira ou deitado na cama. Gastava tempo para conservar energia. Era um bêbado e um comilão sem vergonha nem limites."
Conclui Miguel, o Grande, "é estranho ver pessoas a cansarem-se de livre vontade, correndo ou fazendo ginástica. É um desperdício de tempo e de força, por muito que a força aumente."
E se está bem para Miguel, que escreve como ninguém, e para Winston, que os tinha grandes e de chumbo, está bem para mim que escrevo porcarias como esta em blogues de quinta categoria. E estará bem para o Dupont a muito breve prazo. Tão certo como me chamar Dupond. Com D.
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