domingo, 28 de março de 2010

Mens Sana In Corpore (mais ou menos) Sano


Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.

Peça uma alma corajosa que careça do temor da morte,

Que ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,

Que suporte qualquer tipo de labores,

Desconheça a ira, nada cobice e creia mais

Nos labores selvagens de Hércules do que

Nas satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.

Revelarei aquilo que podes dar a ti próprio;

Certamente, o único caminho de uma vida tranquila passa pela virtude

Juvenal, Sátira X

De há umas semanas a esta parte, tenho aproveitado, diariamente, a nova passagem pedonal que se estende do Freixo até Valbom, para desfrutar do Douro enquanto, correndo, vou deitando fora os excessos de uma vida de excessos.

Durante a semana, e por força deste Inverno negro, poucas pessoas se vê – só mesmo os desportistas a sério ou os pagadores de promessas, como eu.

Mas ao domingo tudo muda. E se estiver de sol, como hoje, a passagem dá-se ares de Passeio Alegre. Casais e casados, pais com filhos, cães com donos e muita gente trajando um cuidadoso casual de "náiques" e "adidas" e "pumas. Uns correndo. Outros caminhando. Alguns encostados ao parapeito em sóbria cavaqueira como se, caracolando pelo convés de um paquete, desfrutassem de um cruzeiro por águas do Douro. Alguns raros ciclistas sibilam por entre os passantes, os capacetes de meia-melancia elevando-se acima da estatura média dos demais

O Douro, esse, vai passando barrento e indiferente ao buliço matinal, a maré baixa infiltrando-se nas narinas dos que percorrem as suas margens. Nem é bem um rio: é uma auto-estrada de terra batida que reflecte as nuvens e desliza até ao seu destino.

E, enquanto corro e suo e arquejo e ouço os Beach House no meu iPod, penso que muita gente faz diariamente o mesmo que eu, em máquinas complicadas que medem a velocidade, a distância percorrida, o ritmo, a inclinação, as calorias perdidas, salpicando de suor inútil uma esteira sem fim. A máquina onde passeiam parados mede-lhes também o ritmo cardíaco. Aqui não é preciso, eu sei que o meu coração bate e isso é tudo.

Eles pagam para olhar para uma parede, ou um espelho ou uma televisão. Eu tenho o Douro e os campos e outras pessoas, as que caminham, as que correm e as que, pela noitinha, namoram dentro dos carros estacionados. E também os gatos malhados que me observam das soleiras dos pequenos armazéns valboeiros virados ao rio.

Acho que fiz melhor negócio do que eles. Por isso, decidi renovar a inscrição. Todos os dias.


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