terça-feira, 11 de maio de 2010

Memória selectiva ou amnésia colectiva?

Luís Filipe Vieira assumiu que este título "não é de Lisboa. Este título é de Portugal. O Benfica nasceu em Lisboa e tem muita honra na sua história, mas nunca se fechou, nem se deixou fechar. Nós somos do norte e do sul, qualquer lugar onde haja um benfiquista", disse Luís Filipe Vieira, no Salão Nobre da CML. Antes de oferecer uma camisola do clube ao anfitrião, o presidente das "águias" sublinhou ainda que o "título não foi ganho contra ninguém" e "é de todos aqueles que gostam de futebol". in Diário de Notícias de 11 de Maio.

A imprensa escrita e falada tem dado enorme destaque ao discurso de unidade e abertura que se tornou a imagem de marca de Luís Filipe Vieira nos últimos tempos. Leia-se, desde que ficou claro que o Benfica ficaria à frente do Porto no campeonato. Na hora da vitória, os conselheiros de Vieira ajudaram a disfarçar o habitual discurso troglodita do presidente benfiquista, tornando-o mais aberto, unificador e nacional. Por um lado causando um contraste com a imagem regionalista e sectária, em tempos justamente colada a Pinto da Costa e aos adeptos do Porto e, por outro lado, recuperando a imagem de União Nacional de que o clube beneficiou no tempo da outra senhora.

Foi nesta gente que teve origem a brilhante, mas pouco original, estratégia que visa demonstrar à sociedade o actual estado de descalabro em que se encontra o clube da cidade do Porto, atestando a caducidade do seu presidente Pinto da Costa. Mensagem que tem sido propagandeada em tudo que é jornal desportivo e programa televisivo "da especialidade". Um filme que já vimos várias vezes, sempre que, por milagre ou mérito, o Benfica supera o Porto na classificação. Mas a que esta gente volta sempre com enorme galhardia. Uma reprise da fita trapatoniana de 2005.

Nos últimos 20 anos os dois colossos lisboetas, e agora estou a juntar à imagem os vizinhos do outro lado da circular, espalharam o perfume do seu futebol pelos relvados nacionais com os seguintes resultados: 2 campeonatos, 4 taças de Portugal e 3 super-taças para o Sporting, 4 campeonatos, 3 taças de Portugal e 1 super-taça para o Benfica. Em termos absolutos, 9 troféus para o Sporting, 8 para o Benfica.

No mesmo período de tempo, a rapaziada cá de cima conquistou 14 campeonatos, 8 taças de Portugal e 12 super-taças. 34 troféus. Quem tiver dificuldade em contar deve usar uma calculadora. Os dedos das mãos e dos pés não chegam. O dobro (!) dos troféus conquistados por Sporting e Benfica juntos.

No entanto, estes números não chegam para demonstrar a vacuidade dos argumentos dos paladinos benfiquistas. Um troféu chega para cegar a multidão ululante. Um troféu. A taça de Portugal foi á vida numa derrota em casa com uma equipa que não se classificou para uma prova europeia. Foram afastados da Liga Europa com uma goleada em Liverpool que, por sua vez, foi eliminado pelo Atlético de Madrid, recentemente chegado da Liga dos Campeões, de onde havia sido afastado por um Porto de terceira categoria.

O Benfica é campeão com mérito. Se o Braga tivesse sido campeão, o mérito seria ainda maior. As armas esgrimidas entre os dois clubes, ao longo do ano, são incomparáveis. Mas se o Braga fez uma excelente época, porque atingiu um patamar nunca antes alcançado na história do clube, o Benfica fez, apenas, uma boa época. Sempre defendi que, para o meu clube, o FCPorto, ter uma grande época, não bastava ser campeão. Tinha de fazer um percurso de relevo na Liga dos Campeões, leia-se passar à fase de play-off, ou, em alternativa, conquistar a dobradinha. O Benfica não conseguiu nada disso.

Mas eu não sou adepto do Benfica. E para quem anda, há anos, a auto-denominar-se "maior clube do mundo" por causa do número de adeptos, argumento de fazer corar qualquer sócio de um clube da II divisão de Xangai, até feijão-frade parece caviar.

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