Nunca percebi bem o interesse público da pergunta, mas sempre que aparece alguém candidato a um determinado cargo de destaque político, o jornalista, mais cedo ou mais tarde, atira com a dita para cima da mesa:
"Já fumou droga?"
Não me passa pela cabeça porque motivo o cidadão comum tenha interesse em saber se Pedro Passos Coelho fumou ou não droga. Ainda por cima a questão foi levantada na sequência de uma entrevista relacionada com a candidatura de PPC a líder do PSD, e não numa qualquer campanha de penalização/despenalização do consumo. O candidato deu a sua resposta e o entrevistador continuou a sua tarefa com questões que nada tinham a ver com o tema. A modos como se alguém lhe tivesse colocado um papelinho no bolso para quando tivesse uma branca ou falta de assunto.
Não fiquei particularmente espantado visto este tipo de entrevistas acabarem por ser uma mini-biografia do entrevistado, com uma ou duas frases avulsas que permitam distinguir o "pensamento" do próprio no meio da carneirada. Até aqui tudo bem. O busílis está na resposta, verdadeiro momento zen do candidato, uma autêntica epifânia. Num espectacular passe de mágica PPC mascarou-se de Bill Clinton português. Não, não é isso que estão a pensar.
Mostrando um enorme engenho e muito pouca angústia no momento do penalty, PPC revelou ao mundo que sim, é verdade, já tinha fumado haxixe. Não revela se, ao contrário de Bill Clinton, inalou. Mas revela, numa total candura, que não sabia o que estava a fumar, e só o veio a saber alguns dias mais tarde.
É bonito. E ao mesmo tempo um pouco inquietante. Significa que temos um potencial candidato a candidato a primeiro-ministro que fuma, sem questionar, a primeira merda que lhe põem à frente.
Caro PPC, eu conheço uma pessoa que tomou pílulas anti-concepcionais pensando que estava a tomar speeds. E, de seguida, agiu em conformidade. Trinta anos depois ainda é tema de gozo. Sugiro que, subtilmente, tente perceber quais foram os seus amigos que leram a sua entrevista de hoje.
(The Drugs Don't Work, The Verve)
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