Quando parecia que a quota de insanidade semanal do PSD tinha sido ultrapassada em grande estilo pelas afirmações surrealistas de Manuela Ferreira Leite sobre o primeiro-ministro, dizendo que este se encontra sob suspeita, uma vez que o povo português não conhece o «conteúdo das escutas» das conversas entre José Sócrates e Armando Vara no processo Face Oculta, desbaratando de uma só assentada várias leis da República e chutando para canto a lei do bom senso, eis que da direita baixa surge mais um ataque ao governo Sócrates sob a forma de suspeição, essa arma de arremesso em que o PSD se tornou especialista nos últimos anos.
Numa altura em que Portugal necessitava de uma oposição forte, com propostas concretas para os graves problemas que o país enfrenta, eis que o PSD se lembra de ir desenterrar uma comissão de inquérito à Fundação das Comunicações Móveis com o intuito de denegrir uma das principais bandeiras eleitorais de José Sócrates. Como falta de timing não podia ser pior. As eleições já passaram há muito e o impacto causado pelas eventuais conclusões desta comissão será completamente abafado em função dos putativos benefícios usufruídos pelas criancinhas e pelos seus babados paizinhos. Cobrir-se de ridículo à custa do dinheiro dos contribuintes não deveria ser um dos atributos dos deputados da Nação. Se existem indícios que algo foi feito à margem da lei, entregue-se o caso ao Ministério Público. E proceda-se em conformidade.
Obviamente que o PSD está à espera, ao mandar esta carta para a mesa, de replicar o efeito da comissão de inquérito à Fundação Prevenção e Segurança, em 2001, ao tempo da governação de António Guterres, e que levou à demissão de... Armando Vara. Mas das duas, uma: ou o PSD mostra de uma vez por todas os trunfos que tem na manga e deixa-se das insinuações costumeiras, ou as intervenções dos membros da dita comissão arriscam-se a parecer excertos de episódios dos Ficheiros Secretos.
(Liars A to E, Dexys Midnight Runners)
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