Qual é o dia em que deixamos de brincar? Hoje ainda pegamos nos carrinhos e amanhã já não lhe pegamos mais? Em que dia um brinquedo vai para a prateleira primeiro de casa, depois da memória, definitivamente?
Na noite de consoada, a meio das conversas habituais sobre natais passados e prendas que marcaram a história da família (normalmente pelo lado burlesco), o meu Pai relembrou-me de um brinquedo que, ao tempo, era o meu favorito: uma réplica de um autocarro de dois andares dos STCP (os verdes e creme) que era uma delícia e que me acompanhava por toda a parte. Brinquei centenas de horas com aquele autocarro de dois andares. E quando calhava de andar num a sério, era um deslumbramento. As escadas de acesso ao andar cimeiro, as campaínhas embutidas no tecto, pequenos discos vermelhos emoldurados em cromado ou então - sorte suprema! - o poder ocupar a cadeira da primeira fila, imediatamente por cima do lugar do condutor. Eu ainda lembro os tróleis de dois andares (carmim ocre e creme) que eram estranhos: a frente tinha um capot exterior ao lado do habitáculo so condutor.
E é destas coisas que eu me lembro da infância. O Porto era então um sítio calmo e melancólico. Recordo que as ruas eram muito mais sossegadas - eu jogava futebol em plena rua Egas Moniz, onde nasci, a qualquer hora do dia, o que é absolutamente impensável nos dias que correm. E estavam povoadas de autocarros verdes e creme e de eléctricos amarelo-torrado e tinham mais gente, mais côr e mais movimento. A Baixa era um local mágico.
Que será feito do meu autocarro de dois andares?
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