quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A tua mamã tem mais barba que o meu papá


Na rúbrica matinal Conselho Superior (diariamente às 8h45 na Antena 1) Octávio Teixeira defendia ser o casamento gay uma questão de direitos humanos e congratulava-se com a anunciada aprovação na Assembleia da República. Momentos depois considerava a adopção de crianças por gays um assunto muito mais delicado, que só deveria ser discutido daqui a 20 ou 30 anos (e porque não 40 ou 50, ou 500 ou 1000, pergunto eu) quando a sociedade portuguesa estivesse pronta para tal. Adiantava também que nesta situação estavam em causa não só o direito dos gays à adopção mas também a defesa do interesse das crianças.

Mais tarde li algures, num blogue ou no Público, que ninguém tem o direito a adoptar, as crianças é que têm o direito a ser adoptadas.

Não vou fazer grandes considerações sobre o casamento gay. Já começo a ficar farto do assunto. Eu sei, é comodista e até hipócrita da minha parte. Não sou gay, sou casado, tenho um filho (e o melhor do mundo, ainda por cima), nunca fui perseguido por manifestar a minha heterossexualidade, por beijar uma mulher na rua ou por andar de mão dada em público com outra pessoa (de outro sexo). Acho alguma graça à tanga do referendo, principalmente quando surge pela direita baixa e como bandeira daqueles que ainda há pouco tempo achavam uma perda de tempo discutir assuntos menores. Com a angariação de 90,000 assinaturas e a realização de um referendo poupar-se-ia muito mais tempo, estou certo...

O que me intriga é este súbito interesse e alarme quanto aos fundamentais interesses das crianças. Confesso a  minha ignorância. Não sei quais são. Ignorância pura. Para combater esta minha falha fui consultar a Convenção Sobre os Direitos da Criança, adoptada por unanimidade em 20 de Novembro de 1989 pelas Nações Unidas. São 51 páginas de boa leitura e encontra-se disponível aqui. E em português.

Continuei sem perceber. Estava à espera de encontrar um artigo com um teor deste género: "é proíbida a adopção de crianças por gays, maricas, fufas e larilas de todos os géneros. E por comunas que também gostam de comer criancinhas mas noutro sentido." Mas não. Parece que as Nações Unidas se estão nas tintas para os supremos interesses dos petizes. Ou então têm vistas curtas.

No entanto, a páginas tantas, encontrei um artigo (o 16º) que reza o seguinte:

1. Nenhuma criança pode ser sujeita a intromissões arbitrárias ou ilegais na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou correspondência, nem a ofensas ilegais à sua honra e reputação.


2. A criança tem direito à protecção da lei contra tais intromissões ou ofensas.

E como se encaixará este pormenor nos casos dos filhos biológicos? Como? Não sabiam? Nem todos os gays são estéries! E há mesmo uma meia-dúzia que sabe como se fazem sem recorrer aquela história da inseminação artificial, que não tem graça nenhuma. Será que a existência de um filho biológico no seio de um casal gay não ameaça os supremos interesses da criança, como acontece com os adoptados?

Agora podia engatar com uma cena de um casal com filhos em que um deles resolve mudar de sexo, mas isto já era gozar com as tropas...

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