Viajo um pouco pela Europa por obrigação profissional e sei que todos os nativos têm uma versão do nosso «Parece impossível! Isto só neste país...».
Mas não tenho como escapar, a propósito da discussão dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo: parece impossível! Isto só neste país...
A realidade não incomoda os portugueses tanto como a percepção que dela têm. Faziam-se abortos com a regularidade com que se fazem bolos-rei no Natal? Tudo bem, desde que não o despenalizem. Há milhares de moças (e moços) à venda nas esquinas das ruas e nas bermas das estradas em condições infra-humanas de dignidade e higiene? Seja, mas bordéis com controlo sanitário e assitência médica, Deus nos livre! Os casais homossexuais já vivem juntos às abertas? Que se dane, mas casar é que não. E adoptar? Cruz credo, t'arrenego!
Isto faz-me lembrar quando, em catraio, a minha mãe se passava dos carretos se eu vestisse roupa interior em mau estado (leia-se meias ou cuecas furadas, etc.) porque, argumentava ela: «Imagina se tens um acidente, que vão os médicos do hospital pensar»? E nessa altura ela até era capaz de ter alguma razão, que os médicos ainda eram todos portugueses e de certeza reparariam nisso. Parece que estou a ouvi-los, perante um quadro desastroso de tripas de fora e ossos à mostra: «Ó enfermeira Lurdinhas, já viu o elástico das cuecas deste gajo? Parece impossível! Isto só neste país...»
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