segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Revista K, número 1


Na sequência de uma conversa com o Dupont resolvi ir vasculhar nos caixotes atafulhados de revistas que tenho a ocupar espaço que poderia ser melhor ocupado com batatas, cebolas, alhos e garrafas de whiskey que insistem em me dar no Natal apesar de me manter abstémio a 95% desde Junho de 2004.

A missão tinha um objectivo bem claro, para contrastar com a cor das minhas mãos no final da tarefa, encontrar a minha colecção de revistas K. Com o número 1 editado em Outubro de 1990, a K incluía nas suas fileiras nomes como Carlos Quevedo, Paulo Portas, Rui Henriques Coimbra, Vasco Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso, Agustina Bessa-Luís, Nuno Miguel Guedes, João Bénard da Costa, Pedro Ayres de Magalhães, Pedro Rolo Duarte entre muitos outros. Uma equipa que misturava nomes consagrados com outros que, hoje em dia, são referências na blogosfera e na imprensa nacional.

Mais importante que tudo isso, apresentava uma irreverência e uma tendência para a provocação gratuita nunca antes vista no panorama nacional. Nem depois. A começar logo no número 1. E na capa, a lembrar o célebre livro da terceira classe do ensino primário dos anos finais do Estado Novo.

É difícil destacar artigos ou rubricas mas, neste primeiro número, saltava á vista uma entrevista em formato de ataque directo à jugular, feita por Graça Lobo ao Secretário de Estado da Cultura dessa época, o futuro primeiro-ministro Santana Lopes. Pode ser lida na íntegra aqui. De ir às lágrimas.

Não resisto a publicar aqui este delicioso excerto:

K: Que curso é que tirou?


P.S.L. Direito.


K: E com que nota?

P.S.L. Acabei com 15, na Clássica de Lisboa. Fui sempre um dos melhores alunos do meu curso. Tenho quase pronta a minha dissertação de mestrado, para depois seguir para o doutoramento. Quando fui para o Governo da primeira vez tinha 29 anos; depois fui para o Parlamento Europeu.

K: É natural: tinha por trás o maior partido português ...

P.S.L. Eu sei. E foi como sabe: não falei na campanha porque o meu partido assim o entendeu - e eu achei bem, embora tenha sido um papel custoso, que eu fiz com todo o sacrifício. Mas eu acho que nos devemos sacrificar por causas colec­tivas, projectos colectivos. Trabalhei muito com o doutor Sá Carneiro. Eu era o seu assessor jurídico quando ele era Primeiro-Ministro. Era um gaiato, como se diz em certas zonas do país. O doutor Sá Carneiro, lembro-me, na altura dispensou a segurança e zangou -se com a polícia. E eu andei a fazer de guarda-costas dele; ele não aguentava, por causa da coluna, levar pancada nas costas quando estava no meio das pes­soas e eu, como era mais alto, lá andava sempre com os braços à volta, e adorava fazer o que ele me pedisse. Lembro-me que à noite - nunca escrevi isto; um dia hei-de escrever, tenho já muita história para contar, com quase 34 anos -, à noite ia ver o colchão dele, se ele tinha a tábua para as costas, e ia pôr-lhe um bocadinho de whisky que ele gostava e nunca me cairam os parentes na lama, pelo contrário.

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