terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Farsa

Há seis ou sete anos atrás, estava eu metido de pés e mãos num projecto a decorrer no Hospital de S.João que me ocupava dez horas por dia, recebi uma inesperada chamada telefónica de um amigo próximo. Pois queria falar comigo, pois era urgente, pois era já para amanhã.

Encontramo-nos dois dias depois num pequeno restaurante em frente ao dito hospital e, assim que me sentei, o meu amigo fez-me jurar a pés juntos que o que ali fosse dito nunca poderia ser divulgado sob pena de morte através de sevícias múltiplas. Acedi.

Eu é que sou o Mânfio, afirmou com a voz trémula. O Mânfio era um personagem fictício, surgido alguns meses antes que habitava o ciberespaço da comunidade do futebol de praia e que comentava com alguma jactância a actividade desportiva e os seus protagonistas. Confesso que não fiquei surpreendido. À época o nome dele tinha sido um dos três que incluí numa lista de suspeitos. E ele era o principal.

Curiosamente essa suspeita desvaneceu-se e, à altura deste almoço, as minhas suspeitas estavam viradas para outrém. Como dizia John Watts, first impressions often lie. Não foi o caso.

Preciso de um favor, continuou. O meu amigo ia passear para o estrangeiro, um fim-de-semana romântico, longe de tudo e de todos. Com uma boa amiga, confessou com um leve rubor na face. E em consequência não podia ir ao BS. Ora a sua ausência aliada à falta da habitual crónica do Mânfio iria desmascará-lo. Seria o fim daquela farsa. O que ele precisava era de quem o substituísse em tão árdua tarefa. Um duplo.

O acordo foi selado com um aperto de mão.

(Great White Hoax, Julian Cope)

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