O senhor Ziyaad Lunat do Comité de Solidariedade com a Palestina insurgiu-se contra um artigo publicado no jornal Público onde se alegava que o pedido de boicote ao concerto de Leonard Cohen em Israel era um perfeito disparate. Numa carta incluída na secção do leitor da edição de ontem, o senhor Lunat apresentava como exemplo o boicote efectuado por vários desportistas, músicos e artistas de outras áreas, que se teriam recusado actuar na África do Sul durante a época do Apartheid e sugeria que medidas idênticas fossem tomadas de modo a colocar pressão sobre o governo de Israel de modo a terminar com a opressão na Palestina.
A situação ocorrida nos anos 80 teve um impacto maior após o lançamento da canção Sun City por um grupo de artistas autodenominado Artists United Against Apartheid, cujo mentor foi o guitarrista da E Street Band, Steve Van Zandt. O boicote proposto incidia sobre actuações realizadas no resort de luxo Sun City, paraíso de jogo e prostituição para brancos e onde os negros não podiam entrar.
A situação levantada pelo concerto de TelAviv tem uma configuração completamente diferente. O acesso ao concerto não será exclusivo de uma elite, estarão presentes adeptos da causa palestiniana, adeptos de Israel e adeptos da paz, apenas. Apesar de origem judaica, será preciso mais do que muito boa vontade para encontrar algum hino à ocupação da Palestina na música de Leonard Cohen. Os mais atentos recordar-se-ão que uma das suas canções, Democracy, foi usada na campanha da eleição de Bill Clinton para a Presidência dos EUA.
O senhor Ziyaad Lunat do Comité de Solidariedade com a Palestina está a ver a coisa só com um olho. Impedir o acesso a elementos culturais através do boicote a Israel só pode prejudicar a causa palestiniana, impedindo a importação de novas ideias e sua divulgação junto das novas gerações de Israel mostrando a verdadeira imagem do que se passa em Gaza. Impedir a livre circulação de livros, música ou cinema é um erro estratégico que só interessa a regimes totalitários.
Veja-se o exemplo da obra Palestina do ilustrador Joe Sacco, premiada em todo o mundo e traduzida em várias línguas, que em Portugal teve a honra de prefácio pelo Presidente Mário Soares, dificilmente conhecido por ser amante de Banda Desenhada, e que só foi possível pela presença em diversas ocasiões do autor na zona do conflito e que tenta retratar de forma isenta e desapaixonada os dois lados da questão.
(Sanity Assassin, Bauhaus)
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