domingo, 9 de agosto de 2009

Raul Solnado




Já escreveram milhentas coisas sobre o Raul Solnado, do fantástico humorista e actor, da perda para o país e de todos os demais lugares comuns que sempre inundam os periódicos nestas alturas. Os amigos já prestaram mil depoimentos e mil homenagens ainda virão. Lembro sempre as palavras do padre Alexandrino Brochado, da Capela das Almas: “Dos mortos ou se diz bem, ou não se diz nada”. Sempre discordei disto, mas neste caso nada a opor.

Eu também quero escrever sobre o Raul Solnado. Não dos discos, do Zip-Zip ou da Cornélia. Há melhores que eu para dissertar sobre esses temas todos.
Não. Do que eu quero falar é de um incómodo: é sentir que de vez em quando há pedaços da nossa infância que vão ficando definitivamente apenas na memória. O Solnado era um desses pedaços, como os filmes portugueses, o Super-Rato, o Simplesmente Maria, a música da Volta a Portugal, ou o genérico do Telejornal.

Li em tempos um estudo qualquer que concluía dizendo que os bonitos estão mais sujeitos ao sucesso que os feios. Mas, como dizia o Charlie Brown, as caras bonitas põem-nos nervosos, a beleza intimida. Não são os bonitos quem mais amamos. Aqueles que deveras amamos são os que nos fazem rir. É impossível desconfiar de alguém que nos faz rir. Dos que nos fazem rir até às cãibras no estômago, até às lágrimas e ao último suspiro feliz, de quem acaba de viver uma experiência rara – e tantas vezes irrepetível.

A figura do Solnado era uma figura de felicidade. Quando aparecia aquele homem de olhos rasgados e discurso hesitante, eu prestava atenção porque era como comer bolos: era doce, intenso e raro.

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