sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Trotsky do PSD

A propósito da prisão do dirigente skinhead Mário Machado, afirma o monumental Pacheco Pereira no seu Abrupto:

"temos um interessante critério político na "pressa" em evitar a saída de alguns presos preventivos. Alguém, pressuroso, informou os órgãos de comunicação social que o país pode estar calmo: saíram ou vão sair acusados de assassinatos, violações, etc., mas não será libertado Mário Machado, o dirigente dos skinheads, que é acusado de incitar ao ódio racial, algo que em países genuinamente liberais não é crime, nem sequer delito de opinião. Tudo na longa manutenção de prisão preventiva de Mário Machado é estranho e aponta para razões puramente políticas, o que é inadmissível numa democracia."

Confesso que acho Pacheco Pereira um personagem previsível e aborrecido. A sua estratégia de identificar o lado politicamente correcto de qualquer tema sobre o qual se debruça e, em consequência disso, colocar-se do outro lado da barricada, há muito se tornou óbvio e cansativo.

E como é habitual em muitos opinion makers que debitam palavras ao quilo sobre todo e qualquer assunto, por vezes escorregam na sua própria verborreia e espalham-se completamente. No caso vertente, caso escrevesse pior e não soubesse falar português, poderia dizer-se que Pacheco Pereira está para o comentário político como Rui Santos para o comentário futebolístico.

Apesar de todos os disparates acumulados nos últimos anos, confesso que não estava à espera da prosa acima transcrita sobre a prisão do skinhead Mário Machado. É possível que mais uma vez Pacheco Pereira tenha abordado o problema de forma Coca Cola light. Na sua forma, já lendária, de dar o devido enquadramento histórico e social aos temas tão profundos é possível que Pacheco Pereira pense que um skinhead dos nossos tempos ainda se encaixa na definição de skinhead da década de 50. É possível, mas se assim é, está errado. O skinhead Mário Machado e toda a sua pandilha são descendentes directos do movimento skinhead que acordou de forma ruidosa e brutal, colado aos fascistas da National Front durante o consulado da sua querida Margaret Thatcher.

Depois vem o disparate. Afirma Pereira que Mário Machado "é acusado de incitar ao ódio racial, algo que em países genuinamente liberais não é crime, nem sequer delito de opinião". Não sei a que países Pereira se refere, mas eu também conheço democracias em que incitar ao ódio racial é crime, e não compreendo o que faz essas democracias "inferiores" às democracias que Pereira conhece. Quando não há razão para a razão, nada melhor que recorrer aos generalismos do costume.

E depois há uma pequena comichãozita no meio disto tudo. É que Machado foi preso na sequência de, num fantástico momento de televisão, andar a exibir armas de guerra, que um cidadão comum não pode ter em sua posse (é a lei, Pacheco... é uma chatice...), e a abaná-las como se fosse um espanador do pó em frente do nariz da repórter da TV.

E porque carga de água se deve considerar Machado um preso político? Que ideias políticas é que se lhe conhece? Que impacto tem a actividade política do seu grupo de merry men na sociedade portuguesa? O que é que lhe saiu pela boca fora que terá feito tremer os alicerces da democracia portuguesa? Se calhar ainda vamos ver Pacheco Pereira a afirmar que Mário Machado é o Nelson Mandela português.

Se calhar o exemplo não foi o mais feliz...

(Take The Skinheads Bowling, Camper Van Beethoven)

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