quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Paris au Printemps


Em finais de 1989, com a colocação no mercado de parte do catálogo na colectânea Sound and Vision, Bowie anunciou uma tournée onde tocaria, pela última vez, os clássicos da sua carreira dedicando-se, a partir daí, ao projecto de inspiração duvidosa, Tin Machine. O alinhamento dos concertos seria composto pelos referidos clássicos e por cinco temas escolhidos, via telefone, pelo público de cada uma das cidades em que se realizavam os espectáculos.

Se isso se realizou ou foi apenas folclore, ninguém sabe. No entanto, ficou famoso o golpe publicitário do New Musical Express, que iniciou uma campanha para levar The Laughing Gnome ao alinhamento dos espectáculos londrinos, "obrigando" Bowie a tocar uma das músicas mais embaraçosas da sua carreira, o que não viria a acontecer.

O bootleg Paris Au Printemps é o mais famoso testemunho desta tournée, possuindo uma qualidade sonora bastante aceitável (registo soundboard - SBD), sendo uma boa memória para todos os que estiveram no Estádio de Alvalade, no fim de tarde de 14 de Setembro de 1990, dada a semelhança do alinhamento dos dois espectáculos.

David Bowie
Paris au Printemps (2 cd) - 3 Apr 1990

SBD

Disc 1
1. Beethoven's #9 Symphony
2. Space Oddity
3. Changes
4. TVC15
5. Rebel Rebel
6. Golden Years
7. Be My Wife
8. Ashes To Ashes
9. John, I'm Only Dancing
10. Fashion
11. Life On Mars
12. Blue Jean
13. Let's Dance
14. Stay
15. China Girl

Disc 2
1. Ziggy Stardust
2. Sound and Vision
3. Station To Station
4. Moon Of Alabama
5. Young Americans
6. Panic In Detroit
7. Suffragette City
8. Fame
9. Heroes
10. Pretty Pink Rose
11. Queen Bitch
12. Jean Genie

sábado, 16 de outubro de 2010

Prince e Miles Davis






















Bootleg. Crucial. A foto apresenta a capa de uma edição de Crucial, vulgarmente apresentado como a única gravação de Prince com Miles Davis. Aparentemente, a colaboração entre os dois estaria prevista para ser incluída em Tutu, de Miles, e num LP de Prince. Nunca aconteceu. Fontes seguras garantem que Crucial é uma fraude e que o H Man, apresentado na faixa de abertura não é Miles. A verdadeira colaboração entre os dois terá ocorrido num concerto privado, registado na mansão de Prince em Paisley Park, no Minneapolis, no último dia do ano de 1987. Ã cópia que possuo não tem dados de origem, mas a qualidade é muito aceitável. O alinhamento é o seguinte:
01: Hot Thing
02: If I Was Your Girlfriend
03: Let's Go Crazy
04: When Doves Cry
05: Purple Rain
06: 1999
07: U Got That Look
08: It's Gonna Be a Beautiful Night > Six > Miles solo > Housequake >
Chain of Fools > Cold Sweat > Take the A Train > Housequake >
Funky Man > Land of 1000 Dances > Piano jam > Alphabet Sweat >
Cold Sweat > Float Like a Butterfly, Sting Like a Bee > Housequake >
It's Gonna Be a Beautiful Night

Como está indicado, Miles apenas apareceu, num breve solo, durante a última faixa, It's Gonna Be A Beautiful Night.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Radio Cramps : The Purple KNIF Show


The Purple KNIF Show regista uma sessão para uma rádio de Hollywood apresentada por Lux Interior dos The Cramps. O programa foi transmitido em Julho de 1984 e foi comercializado sob a forma de duplo LP em França, e rapidamente se tornou num raro objecto de colecção. Actualmente pode ser adquirido, em CD, através da Amazon ou numa loja com um bom catálogo de importação.

Ao longo de uma hora, Lux apresenta vários clássicos do rock'n'roll e rockabilly, velhos temas do rock de garagem como Louie Louie, pelos The Swamp Rats, Jack The Ripper, pelos The One Way Streets, ou The Addams' Family Theme, por Vic Mizzy. Por aqui aparecem também nomes grandes do Garage Rock, que inspiraram o som dos The Cramps, como os Trashmen ou Link Wray (que recentemente voltou à actividade).

Mas o melhor da festa não é a música, mas sim a forma como Lux apresenta o programa, com uma locução anárquica e uma voz cavernosa, distorcida pelo feedback e reverberação, como que saído de um filme gore dos anos 50, uma espécie de Wolfman Jack sob o efeito de ácidos.

A qualidade do som não e a melhor, mas é um disco imprescindível para quem quiser perceber a origem do som The Cramps, ou para quem ainda pensa que os anos 50 eram o Elvis e o Bill Haley.

Infelizmente, quem colocou o disco no Youtube, mutilou-o completamente, retirando a parte da locução e mantendo apenas as canções, no fundo alterando toda a estrutura da emissão. Fica aqui a primeira parte, onde é possível ouvir a introdução.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Grinderman

Este Dupond anda a escrever tão bem que desconfio que o gajo anda mas é a traduzir os artigos da Uncut...

A excelente posta sobre os Grinderman e o Cave está tão bem esgalhada que é sem dúvida merecedora deste bico público.

Aqui há gato...


Chama-se Tobias a grande contratação felina para a temporada 2010/2011 cá de casa. Tobias apresenta boa compleição física, bom porte atlético e vai dos 0 aos 100 kms em vários dias, porque não faz outra coisa que não seja dormir, dormir e dormir. Nos intervalos come e bufa, porque não deixa ninguém pôr-lhe a mão. Espero vendê-lo ao Benfica para o ano, por oito milhões e meio...


Uma noite com os rapazes...

1. Sou fã de Nick Cave. Quanto fã és tu, perguntas tu, Marilú. Quando o meu filho nasceu, sugeri chamar-lhe Nick Cave. A minha mulher, surpreendentemente, não deixou. Como alternativa, propus Lucas (o nome do primogénito do sr. Cave). A minha mulher não deixou, ameaçou-me com o divórcio e um enxerto de porrada. Que tal Eduardo, disse eu? Desconfiou mas, após lhe recordar que é o nome do meu amigo mais antigo, aceitou. Ainda hoje desconhece que o homem se chama Nicholas Edward Cave... Se isto não vos basta, afirmo aqui, que fui um dos otários que comprou o Nocturama, esse disco que está para os Bad Seeds como o Death Of A Ladie's Man está para o Leonard Cohen ou o Self Portrait para o Bob Dylan.

2. Todo este relambório vem a propósito da edição, já amanhã, do segundo trabalho dos Grinderman, ao qual foi dado o nome, revelando muita originalidade, de Grinderman 2. Só o ouvi 2 vezes, porque tenho o novo Interpol a bater à porta, e fiquei um pouco desiludido com o resultado. Principalmente depois do que nos foi oferecido no primeiro disco. Quando ouvi o anterior LP fiquei com a ideia que Cave se fartou de estar em casa a jogar scrabble com a mulher e a criançada, e resolveu ir para a farra com a metade dos Bad Seeds que estava disponível na altura. Resultado: um álbum de rock de garagem, sempre nos limites, a lembrar os bons velhos tempos de John Spencer ou White Stripes, com a fúria dos Birthday Party a servir de base a algumas das melhores letras do NC, pós-The Boatman's Call. Como catarse não podia ser melhor. Ou podia? Alguns tempos depois, o resultado da paródia fez-se sentir no último dos NC&TBS, Dig Lazarus Dig, através da incorporação de sons muito mais agressivos, com Cave e Ellis a usarem as guitarras como elemento fundamental do som da banda, o que não acontecia desde Henry's Dream, o disco enjeitado. O preço a pagar: a saída de Mick Harvey, o sideman dos tempos dos Boys Next Door, após uma crescente subalternização do seu papel na banda em favor do novo wonderboy, Warren Ellis.



3. O novo disco não traz nada de novo, bem pelo contrário. Não aponta um outro caminho, limitando-se a apresentar um conjunto de canções que parecem saídas de outtakes do primeiro disco. As letras, contudo, são excelentes. Cheias de visões de um apocalipse privado, como é habitual, carregadas de um humor corrosivo e violento, a roçar o sadismo. À excepção de Evil, a mais curta canção do disco, e do tema que o fecha, Bellringer Blues, tudo o resto parece ensombrado pelos 2 últimos discos do combo, os já referidos Grinderman e Dig Lazarus, Dig, representando uma continuidade e um apaziguamento sonoro, onde o anterior representou uma ruptura no som dos Bad Seeds que culminou na produção de um dos melhores discos da banda, de há muito tempo para cá, Dig Lazarus, Dig.

4. E depois de ver o inenarrável vídeo para o single Heathen Child, só espero que a Suzie Bicks venha buscar o maridinho ao pub, por uma orelha, e o leve para casa em dois tempos. 2011 está à porta e há um novo disco dos Bad Seeds para fazer.

domingo, 12 de setembro de 2010

Li e Gostei - Benjamim, Chico Buarque


Depois do extraordinário "Leite Derramado", voltei a aventurar-me por terras buarqueanas e não me arrependi. Benjamim é um grande livro. Lá mais para o fim do ano pego no "Budapeste" para ver o que acontece.

Há uns anos atrás, um amigo enviou-me um daqueles questionários esquisitos, pedindo-me para responder porque queria pôr os resultados no "site" que então entretinha. Apenas me lembro de uma das respostas que era, à pergunta "Qual o melhor sentimento", a saudade. Eu gosto de ter saudades, aprecio navegar nas águas da nostalgia. Mas detesto o saudosismo e o Senhor Francisco Buarque, distingue isso muito bem nos seus romances em que, por via de regra, o personagem central é um homem em fim de caminho, obcecado pelo que ficou para trás, não tendo a capacidade de rever a história ternamente como quem folheia um álbum de fotografias, mas como quem quer construir desesperadamente uma máquina do tempo que o leve de volta.

Chegado à meia-idade, é isso que constantemente me interrogo: como vai ser quando, privado de poder desfrutar de quase tudo o que hoje aprecio, me limitar a ser espectador dos outros? Conseguirei ter elegância na aceitação da inevitabilidade, ou virarei Benjamim? A não perder.

Li e Gostei - A Casa do Silêncio, Orhan Pamuk

Foi o primeiro livro que li deste autor galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 2006. Como bem aqui escreveu o Dupond, aqui não se faz crítica literária, que é feio.

Mas é um livro mágico, que tem entrada directa nos meus 100 favoritos (onde já estão mais de 300...).

De facto, cada vez aprecio mais os autores orientais (publicados por cá). Tornei-me fã de Naguib Mahfouz depois de ler o excelente "O Beco dos Milagres", prazer prolongado pelo intrigante "As Noites das Mil e Uma Noites".

Preparo-me para, em breve, petiscar "O Contador de Histórias", de Rabih Alameddine, um autor jordano de ascendência libanesa do qual conheço absolutamente nada - o que só aumenta o gozo - mas sobre o qual já li coisas que aguçaram a curiosidade.


Gitanes vs Gauloises

Já se terá porventura escrito nestas últimas semanas tudo que de mais ou menos relevante haveria a dizer sobre a polémica expulsão de membros da comunidade cigana patrocinada pelo senhor Sarkozy - incluindo a vergonha que foi a repescagem do Quaresma por força da lesão do CR7.

Por mim, acho irónico que seja a França, berço dos direitos humanos decorrentes da Revolução de 1789, a fazê-lo: liberdade, igualdade e fraternidade, se fores branquinho, não usares burka ou fez ou solidéu.

Não consigo é evitar dar por mim, lendo os mais inflamados parágrafos de defesa dos direitos da comunidade cigana a circular livremente no território da UE, a pensar no seguinte: quantos destes rapazes de eriçada pena, aceitariam (ou aceitaram) viver na vizinhança de um acampamento cigano? Quantos não se sentem genuinamente inseguros e ameaçados por terem ciganos nas proximidades? Quantos permitem que os seus filhos (nem digo filhas, para não parecer sexista) convivam livremente com rapaziada da etnia cigana (ou romani, a expressão parva que agora se inventou)?

A medida do governo francês é imperdoável. Mas o cheiro fétido da hipocrisia avança por aí fora.

Direito de Resposta

Eu cá não sou politicamente correcto e não gosto dos Arcade Fire (o Dupond acha que eu sou uma besta, mas pronto...). Mas os National, Senhor? Porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?
De repente, dá-me a ideia que o mestre Marmeleiro juntou-se ao coro dos que analisam as bandas (não a música, parece-me) pela escala underground, quer dizer: se se atira um nome que ninguém conhece, bom. Se os tipos até já venderam uns disquitos e por isso começam a parecer a modos que mainstream, então uuuh! fora! é paneleiro!

Não sou um aficionado de música como o Dupond, um rapaz de quem um amigo comum dos anos 80 dizia conhecer tudo que se edita, até a banda mais garageira do Sri Lanka, mas tal como o Papa dos Monty Python, posso não perceber muito de arte, mas sei aquilo de que gosto.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O Zé Marmeleira e os Arcade Fire


O que têm em comum os National, os Grizzly Bear, os Vampire Weekend, os Fleet Foxes, os Spoon e os Arcade Fire? Resposta: música pop educada e politicamente correcta. Começa assim o postal de Zé Marmeleiro sobre o LP The Suburbs, dos Arcade Fire. E começa da forma clássica, atirando a carta do politicamente correcto para cima da mesa. Porquê? Ninguém sabe, mas é da praxe que o carimbo do politicamente correcto serve para tudo e mais alguma coisa e quem o retirar do bolso primeiro enfia com uma carimbadela de totó, menino da mamã, menino do coro, na testa do antagonista. E como o Marmeleiro Zé não é nenhum totó, logo se refere às bandas citadas como coisa para bater palminhas em grupo. Palminhas ao som dos National? Porque não? Também já acompanhei o Decades, dos Joy Division, com palminhas e hi-fives, mas estava acompanhado de dois rastas numa coffee-shop de Amesterdão a... tomar um cimbalino. Será que isso conta?

Adiante. Após várias frases sem qualquer sentido, dignas de uma redacção do terceiro ano cuja classificação não lhe dá para ir à oral, somos confrontados com a presença dos piores fantasmas da pop dos anos 80 do século passado (não se pronunciarão aqui os seus nomes). Ó Zézito, anos 80 do século passado? Então de que século poderiam ser? Do século XIX? Será que o marmelo não percebe que escreve para a Time Out sobre música pop, e não para a History Today? Quanto aos nomes que aqui não se pronunciarão, eu pronuncio-os. São os New Order. Os piores fantasmas da pop dos anos 80 (do século passado, obviamente) são os New Order. Poderia especular sobre quais serão os melhores fantasmas da pop dos anos 80 (daquele século que vocês sabem), segundo a opinião de Marmelo José, mas isso era um golpe demasiado baixo, nunca o faria, mas já que insistem... os Spandau Ballet, os Matt Bianco e os Huey Lewis and The News (porque o cronista é cosmopolita). Nunca os Duran. O Marmelo é muito macho.

E o escriba clama O que aconteceu ao indie rock? Ao grito do punk? Ao feedback? Caro Zé, lamento desiludi-lo, mas qualquer analfabeto o pode informar que o punk nasceu em 1976 e morreu, vá lá, uns nove mesitos depois. Estamos em 2010. Já é tempo de enterrar o defunto... Quanto ao feedback, se gosta tanto de torrar as orelhitas e o feedback vale só por si, aconselho vivamente a edição revista e aumentada da última edição do Lou Reed, o Metal Machine Music. Um tratado de modernidade sobre o feedback. Editado, originalmente, em 1975. Muito fashion. Enfiar o feedback num disco dos Arcade Fire é como espetar o mesmo numa cançãozita do viril (não sou eu que digo, é o Marmelo...) Springsteen.

A epístola termina com o nosso herói a lamentar a falta de matéria-prima (porque ideias, pelos vistos, há muitas) em The Suburbs. De matéria-prima, de pathos, de angst e de história. Good Golly Miss Molly! Vou ali ler o L'Étranger (no original, obviamente) e volto já...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mão Morta na Serra do Pilar


Concerto dos Mão Morta na Serra do Pilar. Coloquei algumas fotos de má qualidade (a máquina e a habilidade do operador não dão para mais) que dá para ver o look men in black, muito sóbrio, da banda que, se tudo correr bem, acabará por fazer o Coliseu, mais cedo ou mais tarde. O som não era nada mau, mas podia ser melhor. Só assisti a uma hora e pouco, por força das baterias do herdeiro terem descarregado por completo. Mesmo assim, aqui vai: 3 músicas do novo disco a abrir, o magnífico Tiago Capitão (nmo tem tudo para se tornar um clássico), uma que não me lembro o nome (os neurónios tb já não são o que eram) e Conspiração. Do Pesadelo em Peluche ainda tocaram Novelos de Paixão e O Seio Esquerdo de R.P. Intercalaram as novas com os clássicos Oub'Lá, Cão da Morte, E Se Depois, e Anarquista Duval.

Aproveitei para me encontrar com o António Alberto, aqui do Musicbook, com quem comecei a ir a concertos, no entanto já não fazíamos isto há uns bons 20 anitos. No mínimo. Valeu.

A Estrada, de Cormac McCarthy


Já devem ter reparado que, por norma, falo dos livros que estou a ler, mas nunca dos que acabei de ler. Há vários motivos para o fazer. Quem quiser ler críticas a livros, sabe onde encontrar profissionais fiáveis em quem confiar antes de gastar o dinheiro que tanto lhe custou a ganhar, não vem ler parvoíces escritas por dois semi-analfabetos, num blogue marado. Por outro lado, quando acabo de ler um livro, arrumo-o de vez e preocupo-me apenas com a escolha do seguinte, seguindo um critério rigoroso que, por norma, tem como base científica a selecção daquele sobre o qual o meu olhar cai quando olho para as estantes repletas de exemplares em estado pura lã virgem.

Mas hoje não vou falar do livro que estou em vias de terminar, A Estrada. Limito-me a deixar aqui a opinião de um gajo que lê mais e melhor que eu, o Dupont. Passeando junto à rebentação das pequenas ondas de final de tarde do mar da praia de Moledo, como dois personagens saídos da Morte em Veneza de Thomas Mann, mas sem a morte e sem a pederastia, e lembrando-me que lhe tinha oferecido um exemplar há tempos idos, inquiri-o.

Olha lá, tu já leste A Estrada?

Ao que ele respondeu, com ar angustiado:

Foda-se...
E pronto, com esta vos deixo. Se querem a minha opinião, A Estrada é um livro magnífico, que eu desaconselho vivamente. Boas leituras.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Arcade Fire - The Suburbs

Tal como aconteceu com Neon Bible, tivemos de esperar três anos pelo novo Arcade Fire. E, mais uma vez, a espera compensou. Primeira nota, é o disco mais longo que a banda produziu até agora (64 minutos) e, por vezes, isso nota-se. Não há chouriços para encher, mas há um par de canções que se estranham. O tempo dirá se se entranham. Como não podia deixar de ser, há também os habituais hinos para estádios, vãos de escada ou elevadores (não, não é brincadeira. Há vários clips que mostram a banda a tocar Wake Up em sítios onde dificilmente caberia um doberman bem apessoado).

Ao primeiro tema, a primeira sensação de estranheza. The Suburbs é uma canção primaveril para cantarolar no chuveiro, os Arcade Fire em versão lolipop. O pagode dura pouco. O tema seguinte, Ready To Start, perfila-se como um candidato a ponto alto dos concertos. Butler protesta, Businessmen drink my blood, Like the kids in art school said they would, e nós protestamos também. Os Arcade Fire não estão aqui para brincar, e quando WB proclama Now I'm Ready To Start, replicamos We Hope You'll Never Stop!



Em Empty Room, os AF vestem as roupas da E Street Band, num rock'n'roll curto mas poderoso, um émulo de Out In The Street (do LP The River), com Régine a dar o corpo (e a voz) ao manifesto. O tema Half Light, divido em duas partes, é outro ponto alto do novo disco. Inicia com a brutal suavidade característica dos AF de The Funeral, com o embalo da voz de Régine Chassagne, e transporta-nos para o final arrebatador onde todos os instrumentos parecem possuídos por um desejo de atingir um clímax que sabem ser impossível de alcançar. Segue-se Suburban War, um dos temas em que mais aposto para os espectáculos e para favorito das multidões. Um hino à solidão, num registo pop marcado por uma percussão sincopada e um piano quase solitário, que mantém os outros instrumentos estranhamente afastados da habitual parede sonora.
 
Por fim, após o futuro clássico We Used To Wait, chega o meu momento favorito, mais uma peça em dois andamentos distintos, Sprawl. Na primeira parte, WB lamenta-se, Took a drive into the sprawl, to find the places we used to play, it was the loneliest day of my life, you're talking at me but I'm still far away, com uma guitarra deprimente saída directamente de The Last Goodbye de Jeff Buckley. Em socorro surge a boa da Régine, numa entusiasmante segunda parte muito pop, com sintetizadores saídos do nevoeiro dos anos 80, e mais uma canção sobre flores e andorinhas, à boa maneira das Strawberry Switchblades. Será? Dead shopping malls rise like mountains beyond mountains, And there's no end in sight, I need the darkness, Someone please cut the lights. Como é bom o cheiro a depressão pela manhã...

(originalmente publicado aqui)

sábado, 24 de julho de 2010

Ainda a propósito do regresso do vinilo...


Ando com este livro debaixo do braço. Não me vou alongar muito sobre ele, para já. Li pouco mais de um terço e, a páginas tantas, encontrei uma passagem que pode ser, perfeitamente, atirada para dentro do panelão da mini-discussão aberta em tempos no Musicbook, sobre o regresso do vinilo, a música e os seus suportes. À altura, defendi que ao culto do vinilo estava subjacente o culto de um objecto, o LP ou o 7", por parte de uma geração, e que a problemática da qualidade do som respectivo era perfeitamente secundário, no que toca à música pop. Podem ver o resto no Musicbook. Byrne atira as seguintes achas para a fogueira:

Stefan e eu conversamos sobre o destino do CD e da música gravada em geral. Stefan acabou de ir à Coreia do Sul, que ele descreve como estando, em determinados aspectos, uns quantos anos à nossa frente - diz que já ninguém compra lá CD. Na verdade, quando quis comprar uma cópia em CD de uma coisa que tinha ouvido, teve de ir a uma loja especializada para a conseguir - tal como, na Europa ou na América do Norte ou Sul, iríamos para comprar uma gravação em vinil.
Interrogamo-nos sobre o destino das imagens e do design associados ao LP e CD - um tipo de coisa com a qual ele tem estado envolvido já bastantes vezes. Lembra-me que a ligação entre imagem e música resulta do facto de o vinil se riscar com facilidade e, por isso, necessitar de uma embalagem de cartão mais resistente. E até há relativamente pouco tempo, nem sequer essas embalagens vinham com imagens, ficha técnica, notas interiores, etc. - originalmente, a embalagem que se dava à música era genérica. Antes disso, e durante séculos, as pessoas apreciavam música com todo o prazer sem quaisquer auxiliares visuais a acompanhar ou tipos de embalagens atraentes. No entanto, descobri que quando Alex Steinweiss concebeu uma das primeiras capas de disco,  para a sinfonia Eroica do Beethoven, a embalagem fez com que as vendas aumentassem em 800 por cento. Por isso, o design não é nada que se deva desprezar. As formas de embalagem da música foram evoluindo até se transformarem na personificação de uma visão do mundo representada não apenas pela música mas também pela embalagem, pelo intérprete, pela banda, pelo espectáculo, pelas roupas, pelos vídeos e por todos os outros materiais periféricos. Mas é possível que daqui a não muito tempo estejamos de regresso apenas ao elemento áudio, sem tudo o resto, graças ao mundo digital, onde muita gente compra versões digitais de uma única canção de que gosta, com os materiais e imagens associados à sua volta a serem deixados para trás ou ignorados. A era da nuvem de informação que rodeava a música pop, em representação de uma visão do mundo, pode ter terminado. Stefan não parece sentir nostalgia em relação a isso.


E vocês?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Joy Division, Piece by Piece - Writing About Joy Division 1977-2007, de Paul Morley

Paul Morley nunca o afirma ao longo das cerca de 400 páginas do seu livro, mas Joy Division - Piece by Piece é um livro sobre a morte. Não sobre A Morte, mas sobre a morte dos seus protagonistas. A história começa em 1977 e alguns dos principais protagonistas morrerão antes da história acabar. Curtis, o mito, Hannett, o feiticeiro, Gretton, o entusiasta, Wilson, a alma, Joy Division, a banda, New Order, o sobrevivente. Todos mortos em 2007.

É irónico que os três sobreviventes, Morris, Albrecht e Hook, venham a ser conhecidos em toda esta história como personagens quase menores. Como se a composição da melhor canção de todos os tempos, Love Will Tear Us Apart, da outra melhor canção de todos os tempos, Atmosphere, e também de Transmission, a melhor canção de todos os tempos, não tivessem sido escritas a oito mãos. Bem como todas as outras. Mas eles estão vivos, e esta história é feita pelos mortos. Still. Apesar de Blue Monday, o maxi-single mais vendido de sempre, em Inglaterra, que quase os levou à ruína, apesar da Madchester de final da década, que não existiria sem eles, apesar do sucesso à escala planetária. Tudo por causa de um fantasma.

O livro é uma compilação, apresentada por ordem cronológica, dos escritos de Paul Morley sobre os Joy Division. E sobre Tony Wilson. E sobre Manchester, a cidade. A história começa em 1977, os Joy Division ainda não são Joy Division, na verdade, ainda não são Warsaw. E termina em 2007, poucos dias após o anúncio da morte de Tony Wilson, o homem que arrastou o jovem Morley, em Maio de 1980, até à urna onde repousava o cadáver de Curtis e lhe anunciou que um dia ele teria de contar toda a história, porque esse era o seu dever para com ele próprio, para com o Norte, para com Manchester, para com Curtis.

Mas a história começa ainda antes, com outro cadáver, com outro suicídio, que não tem nada a ver com a nossa história e tem tudo a ver com a história de Morley. O suicídio do pai, pouco antes do suicídio do próprio Curtis, os dois fantasmas que vão assombrar a história do autor, o cadáver que ele viu e o que desejava ter visto. A obsessão que o levou a ser proibído de escrever sobre os Joy Division pelo New Musical Express, a frustração de não poder declarar a magnificiência de Unknown Pleasures e o deslumbre de Closer. E a glória de Love Will Tear Us Apart, Atmosphere e Transmission. Cada uma delas, a melhor canção de todos os tempos.

Não me recordo de ouvir os Joy Division pela primeira vez. Mas lembro-me de quando ouvi Love Will Tear Us Apart de forma obsessiva, até rebentar com a fita da cassete com a emissão do Rolls Rock onde a canção estava gravada. Ouvi-a no parque de campismo da Praia Verde, no Algarve, um lugar importante para outra história que não esta. Tinha 17 anos e foi a última vez que passei férias com os meus pais. Exilado no gulag algarvio com saudades dos amigos, dos discos, dos livros, da namorada. Não necessariamente, mas muito provavelmente, por esta ordem.

Um ano depois, num outro país, com saudades dos discos, com saudades dos livros, com saudades dos amigos, mas com uma outra namorada, deitei a mão a Unknown Pleasures e a Closer. Os dois no mesmo dia, numa minúscula loja de discos da vila de Überlingen, no sul da Alemanha. Mas essa é uma outra história e eu não a vou contar. Pelo menos a vocês. Mas a história dos Joy Division, contada por Paul Morley, recomendo-a vivamente.

domingo, 4 de julho de 2010

Li e gostei


Não é bem um livro sobre a Segunda Guerra Mundial: é O livro sobre o tema. É como um diário das várias frentes, descritas de uma forma jornalística mas empolgante, com um ritmo diabólico. Saber como acaba o livro não estraga o prazer de o ler. Do Martin Gilbert já lera a biografia de Winston Churchill. Voltou a não decepcionar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

domingo, 30 de maio de 2010

sábado, 29 de maio de 2010

Saturday Night Fever #42



Para a Fátima, que não lê estas porcarias, e faz anos hoje.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Radio Dupond - Destaque da Semana


Esta semana, destaque duplo para as visitas dos Grizzly Bear, quinta-feira no Coliseu do Porto, e dos XX, sexta-feira, na esgotadíssima Casa da Música (sacanas...).

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Canções de Embalar #13

Também está bem...

domingo, 23 de maio de 2010

Daddy's Home

sábado, 22 de maio de 2010

Banda Sonora para o Verão Lusitano



A banda sonora perfeita para o Verão 2010 apareceu nos escaparates no dia 17 de Maio. São duas pérolas da música pop portuguesa que, se tudo correr dentro da normalidade, estourarão brevemente nas playlists das rádios comerciais cá do burgo.

Apesar do seu passado recente, se havia dois nomes em quem apostar para este Verão, eram sem dúvida os nomes de Tiago Guillul e dos Pontos Negros. Guillul é a eminência parda da música pop nacional, divertindo-se a criar, tocar e produzir como se não houvesse amanhã. É raro encontrar um disco saído da sua FlorCaveira sem o registo do seu nome nos créditos finais. Curiosamente, é isso que acontece no segundo disco dos Pontos Negros, gravado para a Universal. O primeiro disco da banda, Magnífico Material Inútil, tinha sido produzido por Tiago Guillul, e a tradicional marca sonora do produtor fez-se sentir fortemente numa colecção de puro rock'n'roll lo-fi, que respirava influências dos Strokes por todos os poros.

O novo Pequeno-Almoço Continental apresenta um som completamente diferente, muito clean cut, apontando baterias para os anos 60 e para as melodias mais complexas dos Beatles ou Beach Boys pré-psicadelismo. Apesar do abandono do som rude, característico do primeiro álbum, que lhe conferia uma beleza muito peculiar, e que pode ser responsável por uma pequena desilusão causada pela primeira audição do single Rei Bã, o conjunto de canções é mais coeso, mas menos espontâneo que o anterior. Uma alternativa lollipop-pop aos Black Eyed Poyos.

O disco de Guillul é melhor. Também aqui se verifica o abandono dos sons roufenhos lo-fi que povoaram o anterior Tiago Guillul IV. O ambiente é característico de uma produção pop dos anos 80. Olá Soul Music, olá Trevor Horn, olá GNR. Adeus Ramones, White Stripes e The Strokes.

O disco está cheio de futuros clássicos e arranca, exactamente do mesmo ponto em que os GNR pararam após Psicopátria. As canções Praia Verde e Sacudindo o Pó dos Meus Pés fazem referências, mais que explícitas, a Dá Fundo, e a presença de Rui Reininho em Nabucodonosor, uma das melhores canções do disco, mostra que, de facto, isto anda tudo ligado.

Há um ovni neste disco. A canção São Sete Voltas Para a Muralha Cair, cujo tele-disco foi divulgado na Internet há vários meses, é a mais perfeita canção pop feita em Portugal desde... Dunas. Será uma injustiça se, daqui a 25 anos, não for lembrada como Dunas o é hoje. É pouco provável que isso aconteça, mas, infelizmente, é o mais certo.

Saturday Night Fever #41

terça-feira, 18 de maio de 2010

Radio Dupond - Destaque da Semana

No dia do 30º aniversário da morte de Ian Curtis, a Radio Dupond coloca em destaque os dois registos lançados após o suicídio do vocalista dos Joy Division e consequente fim da banda. Aqui ficam o LP Closer e o single Love Will Tear Us Apart / These Days, ambos editados em 1980.

Ian Curtis, 30 anos

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Melodias de Sempre #8

domingo, 16 de maio de 2010

Working Daze


sábado, 15 de maio de 2010

Saturday Night Fever #40

Sandes Bites #4

«Tornar obrigatório a educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade» in Diário de Notícias de hoje.

Séculos de consanguinidade deram nisto...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Luz

terça-feira, 11 de maio de 2010

Memória selectiva ou amnésia colectiva?

Luís Filipe Vieira assumiu que este título "não é de Lisboa. Este título é de Portugal. O Benfica nasceu em Lisboa e tem muita honra na sua história, mas nunca se fechou, nem se deixou fechar. Nós somos do norte e do sul, qualquer lugar onde haja um benfiquista", disse Luís Filipe Vieira, no Salão Nobre da CML. Antes de oferecer uma camisola do clube ao anfitrião, o presidente das "águias" sublinhou ainda que o "título não foi ganho contra ninguém" e "é de todos aqueles que gostam de futebol". in Diário de Notícias de 11 de Maio.

A imprensa escrita e falada tem dado enorme destaque ao discurso de unidade e abertura que se tornou a imagem de marca de Luís Filipe Vieira nos últimos tempos. Leia-se, desde que ficou claro que o Benfica ficaria à frente do Porto no campeonato. Na hora da vitória, os conselheiros de Vieira ajudaram a disfarçar o habitual discurso troglodita do presidente benfiquista, tornando-o mais aberto, unificador e nacional. Por um lado causando um contraste com a imagem regionalista e sectária, em tempos justamente colada a Pinto da Costa e aos adeptos do Porto e, por outro lado, recuperando a imagem de União Nacional de que o clube beneficiou no tempo da outra senhora.

Foi nesta gente que teve origem a brilhante, mas pouco original, estratégia que visa demonstrar à sociedade o actual estado de descalabro em que se encontra o clube da cidade do Porto, atestando a caducidade do seu presidente Pinto da Costa. Mensagem que tem sido propagandeada em tudo que é jornal desportivo e programa televisivo "da especialidade". Um filme que já vimos várias vezes, sempre que, por milagre ou mérito, o Benfica supera o Porto na classificação. Mas a que esta gente volta sempre com enorme galhardia. Uma reprise da fita trapatoniana de 2005.

Nos últimos 20 anos os dois colossos lisboetas, e agora estou a juntar à imagem os vizinhos do outro lado da circular, espalharam o perfume do seu futebol pelos relvados nacionais com os seguintes resultados: 2 campeonatos, 4 taças de Portugal e 3 super-taças para o Sporting, 4 campeonatos, 3 taças de Portugal e 1 super-taça para o Benfica. Em termos absolutos, 9 troféus para o Sporting, 8 para o Benfica.

No mesmo período de tempo, a rapaziada cá de cima conquistou 14 campeonatos, 8 taças de Portugal e 12 super-taças. 34 troféus. Quem tiver dificuldade em contar deve usar uma calculadora. Os dedos das mãos e dos pés não chegam. O dobro (!) dos troféus conquistados por Sporting e Benfica juntos.

No entanto, estes números não chegam para demonstrar a vacuidade dos argumentos dos paladinos benfiquistas. Um troféu chega para cegar a multidão ululante. Um troféu. A taça de Portugal foi á vida numa derrota em casa com uma equipa que não se classificou para uma prova europeia. Foram afastados da Liga Europa com uma goleada em Liverpool que, por sua vez, foi eliminado pelo Atlético de Madrid, recentemente chegado da Liga dos Campeões, de onde havia sido afastado por um Porto de terceira categoria.

O Benfica é campeão com mérito. Se o Braga tivesse sido campeão, o mérito seria ainda maior. As armas esgrimidas entre os dois clubes, ao longo do ano, são incomparáveis. Mas se o Braga fez uma excelente época, porque atingiu um patamar nunca antes alcançado na história do clube, o Benfica fez, apenas, uma boa época. Sempre defendi que, para o meu clube, o FCPorto, ter uma grande época, não bastava ser campeão. Tinha de fazer um percurso de relevo na Liga dos Campeões, leia-se passar à fase de play-off, ou, em alternativa, conquistar a dobradinha. O Benfica não conseguiu nada disso.

Mas eu não sou adepto do Benfica. E para quem anda, há anos, a auto-denominar-se "maior clube do mundo" por causa do número de adeptos, argumento de fazer corar qualquer sócio de um clube da II divisão de Xangai, até feijão-frade parece caviar.

Radio Dupond - Destaque da Semana

Para antecipar o concerto dos Shellac, no próximo dia 25 de Maio, na Fundação de Serralves, apresento o LP Excellent Italian Greyhound, editado em 2007, pela banda de Steve Albini. Para ouvir na íntegra, aqui ao lado, na Radio Dupond. Na primeira parte, actuarão os veteranos Mission Of Burma.

Lena Horne (1917-2010)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Canções de Embalar #12

domingo, 9 de maio de 2010

Scary Gary

sábado, 8 de maio de 2010

Saturday Night Fever #39

Alfred Hitchcock restaurado


O British Film Institute vai restaurar nove das obras do período mudo do cineasta e apresentá-las publicamente em 2012, como peça central de uma retrospectiva dedicada a Hitch.


Antes dos grandes sucessos de Hollywood, Alfred Hitchcock realizou uma série de filmes, no seu período do mudo, na Grã-Bretanha, que já davam sinais do estilo, do trabalho de câmara e dos argumentos desenvolvidos pelo realizador nos trabalhos seguintes. Durante décadas, esses filmes estiveram esquecidos. Agora, o British Film Institute (BFI) vai restaurar nove dessas obras e apresentá-las numa série de sessões públicas em 2012, como peça central de uma retrospectiva dedicada ao realizador. Embora o "The Independent" avance que as exibições farão parte das Olimpíadas Culturais, o programa artístico que decorrerá em paralelo aos Jogos Olímpicos de Londres, ainda não há confirmação.

"Queremos analisar a influência [de Hitchcock] no mundo actual", justificou ao "Independent" Eddie Berg, director artístico do BFI. A directora do instituto, Amanda Neville, disse que a iniciativa irá "ressuscitar os filmes de Hitchcock que não estão na ponta da língua de toda a gente". Alguns deles precisam de restauro. "Três deles não poderão ser projectados - a dimensão dos danos seria enorme", acrescentou.


Entre os filmes que serão restaurados e apresentados incluem-se "The Pleasure Garden" (1925), "The Lodger" (1926) e "The Farmer's Wife" (1927). in Jornal O Público, de 8 de Maio

Há alguns anos atrás, talvez no início da década de 90, a RTP2 apresentou um extenso programa de divulgação da obra de Hitchcock, onde passaram algumas dezenas de filmes, muitos deles da época do cinema mudo, e completamente inéditos em Portugal.

Nesse ciclo, além dos clássicos, passaram, entre outros, os filmes The Lodger e The Farmer's Wife, referidos na peça do Público. Lembro-me perfeitamente porque tive a oportunidade de gravar o ciclo, de fio a pavio. Infelizmente, da primeira vez que tentei rever os filmes, o maldito gravador trucidou-me as duas cassetes onde eu tinha gravado a maior parte dos filmes inéditos!

Esta podia ser uma óptima oportunidade para a RTP2 retomar a programação cinematográfica que a celebrizou durante décadas, mesmo que para isso fosse necessário passar os filmes às 2 da matina.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Radio Dupond - Destaque da Semana

A música de Rufus Wainwright está em destaque, esta semana, na Rádio Dupond. O músico visita o Coliseu do Porto, na próxima quinta-feira, para um concerto de promoção do seu novo álbum, Days Are Night: Songs For Lulu.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Melodias de Sempre #7

Este Senhor explica (obrigado Francisco!)



"Há uma razão para irmos à Liga Europa e não à Champions: a Champions já ganhámos (bem como a Taça UEFA, a Taça dos Campeões, a Intercontinental, etc.); a Liga Europa, ainda não."


Para ler na íntegra, aqui.

O Túnel do Dragão



Os responsáveis portistas tentaram esconder do grande público mas, se olharem com atenção, conseguem ver o túnel do dragão aos 3, 44, 48 e 53 segundos.

domingo, 2 de maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

Saturday Night Fever #38

Fumo

Hoje, enquanto tomava café com o Dupond e a maio da conversa, calhou falarmos sobre tabaco. Os D&D já foram fumadores e já o não são. O Dupond deixou há um ror de anos, eu há quase sete.

No meu caso, foi essencialmente por força das restrições que as sucessivas leis anti-tabaco impuseram. Fumar, para mim, sempre foi um prazer quer através dos 20/25 cigarros Marlboro diários, quer pelo ocasional Romeo y Julieta nr. 5.

Mas que prazer pode haver em ter que deslocar-se, em casa, para uma varanda ou para a lavandaria, fumando à pressa no meio de cuecas e meias que pingam água? Ou de ser forçado a deslocar-se para a entrada da rua ou para o telhado do escritório para matar a "traça".

Fumar não pode ser só o vício: é toda a envolvência, a parte social, o jornal que se lê, o uísque que se bebe, a conversa que se estende, a música que se escuta - e um cigarro encaixa e reconforta, como um café quente ou uma aguardente generosa.

Mas assim, fumando pelos cantos, em espaços confinados, nos telhados, nas varandas, na porta da rua, ao frio, à chuva, ao vento, o prazer de fumar não está lá. Apenas o vício.

E isto já não é fumar: é apenas ir meter a dose.

O meu Pai

O meu Pai faz 78 anos neste mês de Maio, no dia de Fátima. O meu Pai é um homem de outro tempo, em que a palavra de um homem não obrigava a assinatura, porque não era preciso. De um tempo em que um homem respeitava para exigir ser respeitado, em que um homem não fugia às suas responsabilidades. Se uma frase recordo desde que me recordo dita pelo meu Pai vezes e vezes sem conta é a de que "Cada um se deita na cama que faz".

O meu Pai é um homem modesto que espalha sabedoria não com a presunção do professor, mas com a humildade do pupilo. É generoso, prestável e sensato. Tem a erudição da sua idade, mas o que sabe não o aprendeu pela experiência dos outros num livro, antes pela experiência própria na vida. Tem a doçura que se adquire por uma vida em que apenas os outros contam.

O meu Pai não se preocupa com o sentido da vida. Ou, se alguma vez pensou nisso, estou certo que concluiu que a vida tem apenas um sentido: em frente. O meu Pai é um homem sábio.

Se eu fosse metade do homem que o meu Pai é, seria o dobro do homem que sou.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Radio Dupond - Destaque da Semana

Esta semana, o destaque da Radio Dupond vai para IRM, o terceiro álbum de Charlotte Gainsbourg. O disco foi gravado em parceria com Beck, que também assina a produção, durante a estadia da actriz em Los Angeles, para a gravação de O Anticristo, filme de Lars Von Trier.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

Daddy's Home

sábado, 24 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Laura Veirs na KCRW


Já se encontra disponível para download a sessão de Laura Veirs, gravada para o programa Morning Becomes Eclectic da KCRW. Podem descarregar o registo áudio e vídeo da sessão, aqui.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Eu, pecador, me confesso


No passado Sábado, estive na CDGO para ajudar a comemorar o Dia das Lojas de Discos, ao assumir o meu papel tradicional, o de consumidor compulsivo. Não me quero gabar mas, ao longo destes últimos trinta anos, penso ter dado provas cabais para poder afirmar, sem qualquer tipo de hesitação, ter um doutoramento na difícil arte de derreter uma fortuna em música pop, nos seus diversos formatos.

Este hábito bendito teve as suas origens em dois locais distintos, mas ligados entre si por um elemento comum. Eu. O primeiro destes locais é o Largo da Sé, o sítio imponente onde, na viragem da década de 70 para 80, se realizava a Feira de Vandoma que, alguns anos mais tarde, se viria a deslocar para as Fontaínhas. Parte da minha colecção de vinilo foi adquirida lá, a colegas vendedores que, tal como eu, tentavam arranjar algum dinheiro para alimentar o seu vício. O meu entrava-me pelas orelhas, o deles subia-lhes pelo nariz.

Numa época de edições nacionais de prensagens manhosas, de esperas de meses por encomendas adquiridas em catálogos da Cobb Records que, no pior dos cenários, poderiam ficar retidas na fronteira, de angústia por causa do dinheiro que tínhamos entregue ao amigo que ia a Londres, para que nos trouxesse o London Calling, e que podia perfeitamente ser derretido em cerveja ou noutros produtos menos lícitos, a Vandoma podia ser, por vezes, uma ilha do tesouro.

Lá, encontrei uma prensagem original do primeiro LP dos The Stranglers, banda que, à altura, venerava. De uma assentada trouxe para casa a gloriosa trilogia de meados de 70 dos Kraftwerk, Radio Activity, Trans Europe Express e The Man Machine. Também era frequente conseguir deitar a mão a algumas edições menos conhecidas por cá, como o LP de estreia de Poly Styrene, ou as colectâneas  The Birth Of The Y, ou The Roxy, London, WC2: Jan-Apr 1977.

Mas nem tudo foram rosas. Alguns barretes foram enfiados com enorme galhardia. Lembro-me de um exemplar do My Aim Is True de Elvis Costello, cujos danos no vinilo escaparam á habitual vistoria pré-pagamento, e que apenas serviu como objecto de decoração da parede do quarto. Podia contar-vos o inesquecível momento em que cheguei a casa e verifiquei que o que se encontrava dentro da capa do Kilimanjaro dos Teardrop Explodes não era, na realidade, o disco da banda de Julian Cope, mas uma colectânea de êxitos italianos do Festival de San Marino. Mas a decência manda que me cale por aqui.

O segundo lugar, elemento fulcral nesta história de pecado e perdição, é a discoteca Jojo's, situada no Centro Comercial de Cedofeita. Na realidade, actualmente, a loja responde pelo nome de CDGO e deslocou-se para um prédio a duas dezenas de metros do local original, como pode ser visto na fotografia acima colocada.

Local de paragem obrigatório no regresso a casa, era lá que derretia os tostões que sobravam do pequeno pecúlio que tinha obtido na Feira. A pequena Jojo's era muito diferente da loja actual. Ficava situada no início do corredor de entrada do minúsculo centro comercial, do lado esquerdo. Ao balcão encontrava-se, frequentemente, a D. Fernanda, de enorme cabeleira vermelha, com quem ficavamos à conversa horas seguidas, enquanto nos ia mostrando as novidades acabadinhas de chegar e que nós, como ela bem sabia, nunca teríamos dinheiro para comprar. Eram como o Santo Graal. Os elepês importados.

Lembro-me perfeitamente de andar a juntar dinheiro para comprar uma edição original do Never Mind The Bollocks dos Sex Pistols. Quando entrei pela loja dentro, todo lampeiro, para, finalmente, deitar as mãos ao objecto desejado, em vez da edição inglesa, que me iria custar os olhos da cara, estava à minha espera uma edição nacional, acabadinha de chegar, que me valeu levar para casa, com o dinheiro que iria gastar, três ou quatro discos em vez de um só.

Apesar de me ter afastado do convívio, quase diário, com o pessoal da loja, a ligação ainda se manteve forte. Foi lá que, e graças ao simpático Paulo, nos anos 90, conheci os Walkabouts, os Calexico e os Morphine. E foi lá que comprei um dos meus primeiros CDs, In Vivo dos GNR, após receber uma dica do Artur Ribeiro, o dono da loja, sobre a iminente retirada do disco dos escaparates, na sequência de uma queixa de Vítor Rua por causa da disputa dos direitos de autor de Sê Um GNR e Portugal na CEE.

Por isso, no passado Sábado lá estive, juntamente com outros PopMusicJunkies, a celebrar um local, uma paixão, um estilo de vida. Muito discutível, por sinal. Aproveitei para conhecer os novos espaços dedicados aos livros e ao vinilo, situados no primeiro andar, ouvir os showcases de duas bandas cujo nome, vergonhosamente, não me consigo recordar, e trocar dois dedos de conversa com o Paulo e o Artur.

Como registo do acontecimento trouxe para casa o Mother Juno, quarto álbum dos The Gun Club, uma das minhas bandas fetiche. E para mostrar que não sou um velho quadradão hippie, ainda meti ao saco o The Flying Club Cup dos Beirut, um dos melhores discos dos anos 00, que, estupidamente, ainda não tinha extorquido ao Dupont numa qualquer ocasião festiva. Por fim, demonstrando um enorme sentido de oportunidade, comprei o primeiro disco dos gaiatos MGMT. Logo agora que saiu o segundo...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Radio Dupond - Destaque da Semana

Os Sonic Youth visitam o Coliseu do Porto na próxima sexta-feira, dia 23. Se tudo correr bem e não ficarem retidos em qualquer lado por causa do vulcão com nome impronunciável. Pelo sim, pelo não, aqui fica o destaque. Rather Ripped, o LP editado em 2006, na íntegra, na Radio Dupond.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Melodias de Sempre #6

domingo, 18 de abril de 2010

Big Nate

sábado, 17 de abril de 2010

Saturday Night Fever #36

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Quando se cruza uma piranha com o King Kong

Record Store Day é já amanhã



THE SOAKED LAMB


CAVALHEIRO


COMPLICADO


ANDREW THORN


DJ EDU

17 Abr » Sáb » 12h00 - 20h00


Entrada Livre


O Record Store Day é uma ideia original concebida por Chris Brown, e fundada em 2007 por Eric Levin, Michael Kurtz, Carrie Colliton, Amy Dorfman, Don Van Cleave e Brian Poehner, como uma celebração da cultura unica com a participação de mais de 700 lojas de discos independentes de todo o mundo. É neste dia que lojas e artistas celebram a arte da música. Editam-se vinis e cd's especiais, produzidos especialmente para a data (alguns deles disponíveis na CDGO), bem como a presença de artistas nas lojas, dando um maior sentido à relação loja-artista. São também imensas as bandas e editoras que se associam a este evento, dos Fanfarlo ao Bruce Springsteen da Sub-Pop à Warner. Pequenos e grandes todos juntos pelas lojas de música independentes. Assim, no próximo dia 17 de Abril, iremos marcar presença no Record Store Day, com concertos dos The Soaked Lamb, que acabam de editar o segundo disco "Hats & Chairs", Cavalheiro que apresentará o seu longa duração "Primeiro", Complicado com o regresso ao vivo e às gravações numa formação especial para a data e a fechar o evento Andrew Thorn, projecto de João Pedro Coimbra, conhecido pelas suas inclusões nos Mesa, Três Tristes Tigres ou Coldfinger. Como diz a Neko Case "Eu amo o cheiro dos discos e das pessoas que realmente se preocupam e conhecem a música que vendem". Recordamos que a Jo-Jo's Music é a mais antiga loja de discos portuguesa!!! Um dia preenchido de descontos, edições especiais e muitos concertos que não vai querer perder!!!

Recebi este amável convite e a resposta só poderia ser positiva. Como seria possível recusar uma visita à Jojo's, a melhor discoteca do país, outrora uma segunda casa, onde esbanjei uma fortuna que daria para pagar um submarino alemão? OK, esta piada não foi muito apropriada. De qualquer modo lá estarei, para assinar autógrafos, assistir aos concertos, e gastar ainda mais dinheiro...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ainda a Time Out, o Rei dos Galos de Amarante e um momento de publicidade vergonhosamente encapotada

No seu primeiro número, a Time Out dedica a rúbrica A Tasca do Mês ao simpático Rei dos Galos de Amarante. Por coincidência estive lá a jantar com o Dupont e mais uns amigalhaços há cerca de quinze dias. Acho que, em toda a minha vida, devem sobrar dedos de uma mão para contar as vezes que lá fui. Prometo que, a partir de agora, corrigirei esta minha grave lacuna. Eu seja ceguinho.

Time Out

A magnífica Time Out que, há várias décadas, se dedica a publicar guias de divulgação de actividades culturais, gastronomia, e muitas outras coisas que um turista e um nativo devem saber sobre a cidade em que se encontram, chegou agora ao Porto. Por "agora" leia-se Abril. De 2010. Uma vergonha. Não sei como a Time Out passou sem uma edição portuense, mas sei como o Porto passou sem a Time Out. Passou mal.

No entanto, para demonstrar que não existem quaisquer ressentimentos, os portuenses esgotaram, num ápice, a primeira edição do número 1 da revista. E a segunda edição seguiu pelo mesmo caminho. Mais de 14,000 exemplares vendidos numa semana. Um mimo.

Neste primeiro número, para além do tradicional roteiro da região, podemos ler um excelente texto sobre o projecto do novo Hard Club, que tem a abertura marcada para Setembro no edifício do Mercado Ferreira Borges, e uma reportagem sobre a celebração dos cinco anos da gloriosa Casa da Música.

Agora vou ali reservar o próximo número e volto já.

Olhe que não...

O sempre espectacular Cardeal Saraiva Martins afirmou, aos microfones da Rádio Renascença, que se está a verificar uma perseguição à Igreja Católica devido às suas posições relativas a assuntos como a oposição à eutanásia e aos casamentos entre homossexuais, bem como a defesa dos valores familiares tradicionais.

Uma fonte ligada ao lobby gay de perseguição à Igreja garantiu-nos que a dita perseguição tem mais a ver com a posição do missionário...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Radio Dupond - Destaque da Semana


Destaque desta semana na Radio Dupond para o novíssimo Congratulations dos MGMT.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Canções de Embalar #10

domingo, 11 de abril de 2010

sábado, 10 de abril de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Malcolm McLaren (1946-2010)

Saudades do Mata-Frades

católico
(latim eclesiástico catholicus, -a, -um, do grego katholikós, -é, -ón, universal)

A universalidade da igreja católica (passe a redundância) é como as luzinhas de Natal: acende e apaga. Serve para subjugar povos estranhos, para queimar livros, para queimar heréticos e feiticeiras. Mas apaga-se perante os escândalos dos dilectos filhos da igreja, ocultados pelos ternos pais da mesma: nessa altura a igreja passa de universal a clube privado, a família onde se lava a roupa suja entre as quatro paredes da sacristia.

A pedofilia é um crime hediondo praticado por quem quer que seja e mal se imagina que possa ter atenuantes ou agravantes. Não é pior se praticado por um bispo. É igualmente mau quando praticado por um pai ou uma mãe.

Mas não consigo evitar a náusea ao pensar no comentário do Senhor Bispo se, em vez de um deles, se tratasse de um "dos outros": um imã ou um rabi. Mas aí, a roupa já é outra. Porque, afinal, também há lavadouros públicos.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Conspiração

"Abrindo um novo capítulo no rosário de queixas de pedofilia por membros da Igreja e de ocultação destes crimes, o The New York Times noticiou hoje que altos responsáveis do Vaticano – incluindo o actual Papa Bento XVI – não tomaram medidas contra o padre americano Lawrence C. Murphy, que terá abusado de 200 crianças surdas enquanto trabalhou numa escola do Wisconsin para deficientes auditivos, entre 1950 e 1974.



O diário nova-iorquino refere a existência de correspondência directa sobre este caso trocada entre bispos de Wisconsin e o cardeal Joseph Ratzinger (agora Papa Bento XVI e na altura responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, CDF), que prova que a preocupação central não foi pensar na demissão do padre, mas na forma de proteger a Igreja do escândalo.



O cardeal português José Saraiva Martins, ex-presidente da Congregação para a Causa dos Santos, denunciou o que considera ser “uma conspiração” contra a Igreja Católica. “É um pretexto para atacar a Igreja”, disse aos jornalistas. “Não devemos ficar demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo. É isso que acontece em todas as famílias. Não se lava a roupa suja em público.”


(in Publico, de 25 de Março de 2010)

O homem que nos trouxe, em tempos, pérolas do calibre de "a homossexualidade não é normal" e "as mulheres que pensem casar com muçulmanos precisam de ter muita cautela", volta a esmagar-nos com o peso da sua eloquência. Desta vez, sob a forma de comentário ao recente caso de encobrimento de um padre pedófilo do Wisconsin, por parte de altos responsáveis do Vaticano.

"Alvos de uma conspiração" é uma afirmação forte, mas é a utilizada pelo pároco para descrever a situação em que o ex-cardeal Ratzinger e alguns membros do seu círculo íntimo se encontram devido a recentes denúncias veiculadas através do New York Times. Se esta "conspiração" é mais ou menos grave, ou equivale a uma vingança por parte das vítimas da outra conspiração, protagonizada pela hierarquia da Igreja para encobrir os abusos sexuais do padre pedófilo, não se sabe. Ficará guardado para outro momento de boa disposição que o simpático D. José Saraiva Martins fará o favor de partilhar com os seus fiéis muito em breve.

Uma notinha final. Chamar "lavar roupa suja" a uma exposição de práticas de violação de menores por um padre é, do ponto de vista literário, uma figura de estilo sublime. Não lembraria a Oscar Wilde (peço desculpa por citar um reputado homossexual). Do ponto de vista das vítimas faz o estimável D. José Saraiva Martins parecer uma besta quadrada, o que provavelmente não lhe fará justiça.

Radio Dupond - Destaque da Semana


O novo álbum dos Blood Red Shoes, Fire Like This, serve de aperitivo para a próxima visita da banda à Casa da Música, no dia 12 de Abril. Por enquanto podem escutar o disco aqui ao lado, na Rádio Dupond.