domingo, 30 de dezembro de 2012

1981 - Top 10+

Após as brilhantes colheitas de 1979 e 1980, era suposto esperar um abrandamento na qualidade e quantidade de produção dos nomes 'novos' surgidos na ressaca do Punk. No entanto, impulsionados por uma imprensa que consegue, finalmente, acordar e deixar de ver o fenómeno pós-punk como algo passageiro e por uma indústria discográfica que rapidamente se recompôs do pequeno abanão ingénuo causado pelo 'do it yourself' que levou ao surgimento de pequenas e bem-sucedidas editoras, 1981 foi o ano do lançamento das obras-primas de muitas das bandas que marcarão a história do rock daqui para a frente.

Em Portugal, graças ao 'Rolls Rock' de António Sérgio e ás diversas crónicas semanais de Miguel Esteves Cardoso no 'Sete', 'O Jornal' e 'Expresso', as novidades chegam-nos em tempo real (ou quase). No entanto, os discos que escutamos e sobre os quais lemos, chegam a conta gotas ao mercado nacional e, na sua maioria, apenas podem ser obtidos nos circuitos de importação a preços proibitivos ou via Cobb Records, através de encomenda postal.

Um dos discos do ano é da autoria do presidente do clube de fãs dos Blondie em L.A., um puto com uma aparência a fazer lembrar um jovem Brando oxigenado e gorducho. Numa época de procura de novas sonoridades, os Gun Club editam 'Fire Of Love', um album carregado de energia punk que esgravata nos sons do passado, que cruza os sons dos blues do Delta com a anarquia sónica dos Sex Pistols.

A surpresa do ano é Grace Jones e o seu quinto LP 'Nightclubbing'. O álbum anterior, 'Warm Leatherette' (1980) era um disco interessante e retirava Jones do atoleiro do mainstream eurotrash onde andou a navegar nos anos do Studio 54. No entanto, a produção de Chris Blackwell e a sonoridade marcada pelos ritmos de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare elevaram 'Nightclubbing' a um patamar bem acima da produção passada e futura de Grace Jones.

'Faith' promove os The Cure a principais candidatos ao trono dos Joy Division para gáudio da brigada da gabardina, orfã de Curtis. Para muitos é a obra-prima da banda, para outros é o início do fim de um caminho que será fechado com 'Pornography' e que levará a banda de Robert Smith ao cimo das tabelas pop e a encher estádios do futebol.

Os Psychedelic Furs editam 'Talk Talk Talk', um disco produzido por Steve Lillywhite, o wonder boy do momento. A produção liberta a banda do som confuso e sombrio do primeiro disco e inclui uma canção que, dentro de alguns anos, marcará o destino da banda, 'Pretty In Pink'. É o melhor album dos Furs e marca o fim de uma era. Com o próximo disco, 'Forever Now' e a contratação de Todd Rundgren, um produtor focado no mercado americano, a banda atirar-se-á para voos bem mais ambiciosos.

Se algo mais fosse necessário, David Byrne e Brian Eno continuam a mostrar quem manda nos Talking Heads. Depois de gravarem, praticamente sózinhos, os anteriores 'Fear Of Music' e 'Remain In Light', editam finalmente 'My Life In The Bush Of Ghosts', um disco cuja concepção iniciou no intervalo das sessões de 'Fear Of Music', em 1979. O disco é uma das grandes referências do ano, baseia-se em antigas experiências de bandas do rock alemão, principalmente os Can, e explora a fusão de ritmos africanos com gravações de origem diversa, de sermões evangélicos a exorcismos, antecipando o uso regular de samplers que se tornaria prática comum em meados da década. O duo colaborou ainda em 'Songs From The Catherine Wheel', a banda sonora encomendado por Twyla Tharp para um bailado da sua autoria. O álbum editado em 1981 é irregular mas inclui um par de boas canções que seriam apresentadas ao vivo nos concertos dos Talking Heads. A edição completa da banda sonora, em formato CD, em 2001, vem mostrar a verdadeira dimensão desta obra.

O disco do ano é 'Heaven Up Here' dos Echo & The Bunnymen. O segundo LP dos Bunnymen é um digno sucessor de 'Closer' como disco do ano mas, de certa forma, é uma obra que se encontra do outro lado da barricada. A produção é quase rude, não se escutam os rococós característicos do trabalho de Martin Hannett com os Joy Division, e as letras, sendo negras, estão carregadas de esperança. Se 'Closer' é o fim do caminho, o 'no future' no verdadeiro sentido do termo, 'Heaven Up Here' é o início de uma caminhada. Em direcção a quê, é o que falta saber.

Melhores do ano:
Heaven Up Here (Echo & The Bunnymen)
My Life In The Bush Of Ghosts (Eno/Byrne)
Fire Of Love (The Gun Club)
Juju (Siouxsie & The Banshees)
Talk Talk Talk (The Psychedelic Furs)
Psychedelic Jungle (The Cramps)
Faith (The Cure)
Tin Drum (Japan)
Red Mecca (Cabaret Voltaire)
Nightclubbing (Grace Jones)

Também vintage:

From The Lion's Mouth (The Sound)
Movement (New Order)
To Each… (A Certain Ratio)
Penthouse And Pavement (Heaven 17)
Nah Poo The Art Of Bluff (Wah!)
Honi Soit (John Cale)
Wilder (Teardrop Explodes)
The Flowers Of Romance (Public Image Ltd)
Non-Stop Erotic Cabaret (Soft Cell)
LC (The Durutti Column)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sinner John Misty

Começo com uma declaração de interesses: gosto muito de 'Fear Fun', o disco que Josh Tillman a.k.a. Father John Misty andou a promover pela Europa nas últimas semanas e cuja digressão chegou ao fim, ontem á noite, em Vila do Conde. Elegi-o disco do ano na Lista Rebelde e, há muitos, muitos dias, não sai do leitor de CDs do meu carro. Aliás, desconfio que a ignição do veículo vai deixar de funcionar assim que o retire do drive. Era só o que me faltava, um auto junkie.

Não tenho paciência para ler crónicas de concertos. A maior parte dos textos estão completamente condicionados pela opinião do cronista sobre a banda e na maioria das crónicas essa opinião tolda a objectividade do autor. Não tenho nada contra e acho que, no caso da música pop, provavelmente o tema mais subjectivo do universo, se não fosse assim não tinha piada nenhuma. A situação agrava-se quando os concertos são muito maus ou sublimes, como foi o caso de ontem à noite. Nos outros, naqueles que não aquecem nem arrefecem, podemos sempre entreter-nos com actividades paralelas com a certeza que, quando a nossa atenção voltar a cair sobre o que se passa no palco, não teremos perdido nada de transcendente. Lembro-me de um concerto de Laurie Anderson no reconstruído Teatro S. João, em que os melhores momentos foram passados a admirar os novos pormenores do interior da belíssima sala e a bater uma bela soneca num dos sumptuosos camarotes. Ou o concerto dos Bad Seeds no Coliseu de Lisboa, por ocasião da digressão de 'No More Shall We Part', onde a actividade junto ao bar era, de longe, mais entusiasmante que o longo bocejo que se desenrolava no palco. Mas vamos dar umas pinceladas a ver como a coisa corre.

O concerto abriu com três momentos altos de 'Fear Fun', 'Funtimes in Babylon', 'Only Son Of The Ladies' Man' e 'Nancy From Now On' e rapidamente percebemos o que se iria passar em cima do palco na próxima hora e meia. Os cinco músicos que acompanhavam Tillman mantiveram-se discretamente no fundo do palco, onde debitaram o peculiar country rock, ou o que lhe quiserem chamar, de modo muito fiel ao que se pode ouvir no álbum, salvo duas ou três excepções. Apenas o saltitante baixista, uma figura parecida com o Baldrick da série Black Adder, teve direito a trocar algumas palavras com Tillman e apenas em breves momentos, ao longo da noite.

A boca de cena ficava, inteirinha, para Joshua Tillman ou Father John Misty, se preferirem, que de 'Father' tem muito pouco. Acompanhado por uma garrafa de champanhe, que arrastava por todo o lado, FJM foi um brilhante e expressivo mestre de cerimónias, apresentou as suas canções de muito pecado e pouca redenção e, pelo meio, disse algumas graçolas gozando com o seu próprio personagem, uma espécie de Randy Newman do apocalipse. Por breves momentos, Tillman recuou para o espaço reservado á banda e pegou na guitarra para mostrar que 'sabia fazer algo mais que rebolar pelo chão e falar mal de Deus'.

O alinhamento do concerto não apresentou grandes surpresas para quem acompanhou a digressão que ontem terminou. Das doze canções incluídas em 'Fear Fun', apenas ficou de fora 'O I Long To Feel Your Arms Around Me'. Em alguns momentos, como 'Sally Hatchet' e 'Well, You Can Do It Without Me', que ao vivo soaram ainda melhor, FJM sentou-se na boca de cena, deitou-se sobre as filas da frente e a sala, que até aí se mantinha algo morna, respondeu da forma que os músicos mereciam.

O concerto terminou com 'Everyman Needs A Companion' e 'Hollywood Forever Cemetery Sings'. A primeira canção, apresentada num formato bem mais imponente que o que aparece no disco, é uma peça chave no mesmo. Depois de se apresentar como pecador e desenrolar perante o ouvinte a longa lista de pecados, Tillman afirma nunca ter gostado do nome Joshua, porque abomina a religião, mas também detesta o curto e hip 'J.' É um homem novo á procura de uma companheira. Ao vivo, a coisa descamba um bocado. A forma como canta e as pequenas alterações que introduz na letra levantam a dúvida sobre o destinatário do seu discurso, a fiel garrafa que continua a agarrar com a mão esquerda, ou a stripper de uma qualquer espelunca do Sunset Strip que lhe atura a bebedeira.

A noite termina com duas versões, 'Nevertheless, I'm In Love With You' de Dean Martin e 'On The Road Again' dos Canned Heat, despachadas sem grande brilho. Dito isto, foi um grande concerto e quem não esteve lá não vai ficar mais esclarecido sobre o assunto após ler estas linhas. Num ano em que tive a oportunidade de ver os Flaming Lips, Jon Spencer, Jack White e Mark Lanegan, entre muitos outros, não tenho qualquer dúvidas em eleger o concerto de Father John Misty como o grande concerto de 2012.

Não me esqueci dos We Trust e Best Youth. Fica para mais tarde porque merecem um espaço á parte.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

1980 - Top 10+

Graças ao Propedêutico, a melhor invenção da História da Humanidade na perspectiva de um mandrião de 17 anos, tive um ano de 1980 tremendamente ocupado. Na realidade, a coisa começou a meio de 79. Entre jogos de futebol, praia de Abril a Setembro, noitadas na cave da Família Leal, sestas no sofá dos Machados, emissões do Rock em Stock e do Rolls Rock e as crónicas do MEC, a vida era dura. As maratonas de Sueca e King e as directas para a Vandoma não eram para qualquer um. Foi o meu Vietname. No meio de tudo isto, com a febre do Punk/New  Wave devidamente instalada, fui despachando algumas gorduras da minha discografia, algumas das quais bem me arrependo.

A safra de 1980 é vintage. A quantidade de bons discos editados é de tal ordem que dava para encher as Páginas Amarelas. Reduzir a uma lista de 10 é tarefa impossível. Começo pelo disco do ano: Closer. É um objecto estranho na produção pop desse ano e de todos os anos. Apesar do culto, talvez excessivo, à volta dos Joy Division, Closer não teve descendência. As bandas que citam os JD como influência (ou, não citando, ela é evidente) foram beber a Unknown Pleasures ou ao 12" Transmission. Discos como Atmosphere e Closer, mais este que aquele, permanecem intocados, como se estivessemos em presença de objectos sagrados. Não conheço outro caso assim na música pop mais ou menos convencional.
Apesar de já ser ouvinte assíduo do Rolls Rock, a curiosidade (primeiro) e a paixão (depois) por Closer foi-me causada pelos textos do Miguel Esteves Cardoso, que á época escrevia para os semanários O Jornal e Sete, e que podem ser lidos no livro Escrítica Pop, esgotado durante longos anos mas reeditado recentemente. Mais tarde tive acesso aos textos de um outro arauto dos Joy Division, Paul Morley, o mesmo dos Art Of Noise, que muito cedo viu nos Joy Division algo que mais ninguém via. Aconselho vivamente a leitura do seu livro sobre o assunto (podem encontrar uma pequena crítica que escrevi, aqui http://tinyurl.com/cxzz3su). Mas os textos do MEC são melhores.

Outro disco do ano é Remain In Light, dos Talking Heads. Na realidade, o disco foi gravado à época do anterior Fear Of Music, com uma participação reduzida dos membros dos TH. Enquanto gravavam Fear Of Music, David Byrne e o produtor Brian Eno trabalhavam à parte, noutro estúdio, naquilo que viria a ser Remain In Light e My Life In The Bush Of Ghosts, que seria editado no ano seguinte. Podia e devia ser o disco do ano.

Peter Gabriel renasce das cinzas e edita o seu melhor album. De sempre. Depois de abandonar os Genesis editou dois discos engraçados mas que não passaram no teste do tempo, apesar de conterem um par de boas canções. Mas o terceiro LP é um disco perturbador e claustrofóbico, cheio de personagens esquizofrénicas e solitárias. É um disco despido da grandiloquência característica do som da sua antiga banda, próximo de um disco como Fear Of Music, mostrando que Gabriel estava pouco interessado em voltar a trilhar caminhos antigos. Intenção que ficaria bem clara no alinhamento dos magníficos concertos que deu nesse ano em Portugal.

Melhores do ano:
Closer (Joy Division)
Remain In Light (Talking Heads)
Colossal Youth (Young Marble Giants)
Peter Gabriel III (Peter Gabriel)
Songs The Lord Taught Us (The Cramps)
The Voice Of America (Cabaret Voltaire)
Crocodiles (Echo & The Bunnymen)
Grotesque (The Fall)
Crazy Rhythms (The Feelies)
I Just Can't Stop It (The Beat)

Também vintage:
Wild Planet (The B-52's)
American Music (The Blasters)
The River (Bruce Springsteen)
Scary Monsters (David Bowie)
Searching For The Young Soul Rebels (Dexys Midnight Runners)
The Return Of The Durutti Column (Durutti Column)
The Correct Use Of Soap (Magazine)
Pretenders (Pretenders)
The Psychedelic Furs (The Psychedelic Furs)
Borderline (Ry Cooder)
Kaleidoscope (Siouxsie & The Banshees)
More Specials (The Specials)
Suicide II (Suicide)
Kilimanjaro (Teardrop Explodes)
Black Sea (XTC)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

1979 - Top 10+

1979: Mais uma estadia de 4 meses na RFA com um saldo positivo. Com 16 aninhos não dava para entrar nos clubes nocturnos (cambada de fascistas!) mas nas matinées e nas festas de garagem havia um ambiente muito ecléctico. Era frequente cruzar o Eurodisco da moda com os Police (que estavam a aparecer em força), os Blondie e o Joe Jackson. Era uma época onde a música pop voltava a ser popular, graças ao período de terra queimada do Punk. O single voltava a reinar e a rádio passava Echo Beach, Turning Japanese e I Want You To Want Me.
Uns meses antes, no liceu, alguém me chamou a atenção para um programa da Rádio Renascença, o Rotação, onde era suposto passar uma música engraçada. Parece que o senhor que apresentava o programa percebia do assunto. Devo ter ouvido meia-dúzia de vezes e meti a sugestão na gaveta. Sempre fui um visionário.

Lá por fora os Clash conseguem editar, ao mesmo tempo, o último grande álbum da década de 70 e o primeiro da década de 80. Com lançamento em Dezembro de 79 no Reino Unido e em Janeiro de 80 nos Estados Unidos, London Calling é presença obrígatória nas listas de melhores álbuns de duas décadas. Uns vigaristas!
Cohen regressa após o tropeção Death Of A Ladies Man, o pedregulho produzido por Phil Spector um par de anos antes. É o seu álbum mais sóbrio desde Songs From A Room e marca o fim de um ciclo. O trovador da guitarrinha trolaró saiu de cena com este disco.
Neil Young e os Crazy Horse editam Rust Never Sleeps, um disco gravado, maioritariamente, ao vivo. Apesar da beleza das canções incluídas no lado acústico, é o lado B que o torna inesquecível e arrasador. Cria um modelo que, dez anos mais tarde, será utilizado pelas grandes bandas de Seattle.
Os Specials são a força motriz do revivalismo Ska. As suas canções, carregadas de um humor cínico e uma visão peculiar do quotidiano, destacam-se no meio das várias edições que deram à costa nessa onda. Os Madness, também editam um  excelente primeiro álbum mas rapidamente navegam por águas distintas e transformam-se numa das maiores máquinas de produção de singles pop da década de 80. As restantes bandas (Selecter, Mo-Dettes, Bodysnatchers, Bad Manners) editam um par de singles decentes e saem de cena.

A escolha de álbum do ano é complicada. Unknowm Pleasures é um disco magnífico e influenciou inúmeras bandas ao longo das décadas de 90 e 00. Infelizmente, salvo raríssimas excepções (Interpol p.e.), a maioria dessas bandas não passavam da tentativa de cópia barata e não possuíam alma própria. Tenho dúvidas se o disco teria o mesmo impacto caso Ian Curtis não se tivesse suicidado e passasse os anos 90 em Ibiza a gravar o Tehcnique ou o Regret. Mas para o caso, as minhas dúvidas não interessam para nada. Cheguei aos Joy Division de marcha-atrás (poupem nas piadas, sff). Primeiro o Love Will Tear Us Apart, depois o Closer e por fim, o Unknown Pleasures. Continuo a achar o Closer o melhor dos dois, um disco que nem parece ter sido feito pela mesma banda. De certa forma, dado o impacto de Closer, quando ouvi o Unknown Pleasures, tive uma pequena sensação de desilusão. O que é estúpido.
A minha escolha vai para o Fear of Music. Desde o primeiro momento que o ouvi que tive a certeza de ser um clássico. Um disco que escutaria 20 anos depois com o mesmo prazer e sempre com a mesma sensação de descoberta. 33 anos depois, continuo a pensar a mesma coisa. Continuo a achar que é o melhor disco dos Talking Heads, apesar de Remain In Light. Tal como os Joy Division, também os Talking Heads influenciaram muitas bandas nos últimos anos. Felizmente, as bandas que beberam nesta fonte (Vampire Weekend, Franz Ferdinand, TV On The Radio) são de excelente colheita.

A lista podia (e devia) ser mais longa. Há bons discos que ficaram de fora. Os Police, com Regatta de Blanc, provam que uma banda chata como a potassa pode, às vezes, produzir discos supimpas. De todos os que tentaram fazer carreira à custa de mamar na teta do reggae, os Police obtiveram o melhor resultado com este disco. Infelizmente não pararam aqui.
Muita gente próxima não me vai perdoar a exclusão de Drums And Wires, um disco que ouvi até à exaustão e o meu favorito da banda. Lamentável. Imperdoável.
De todos, o que mais me custa excluir é The Perfect Release de Annette Peacock. Por causa de uma canção, The Succubus. Mas só havia lugar para 10.

The B-52's (The B-52's)
London Calling (The Clash)
Armed Forces (Elvis Costello)
Joe's Garage (Frank Zappa)
Entertainment! (Gang Of Four)
Recent Songs (Leonard Cohen)
Rust Never Sleeps (Neil Young)
Metal Box (P.I.L.)
The Specials (The Specials)
Fear Of Music (Talking Heads)
Unknown Pleasures (Joy Division)

154 (Wire)
The Perfect Release (Annette Peacock)
Broken English (Marianne Faithful)
Do It Yourself (Ian Dury)
Regatta de Blanc (The Police)
Forces Of Victory (Linton 'Kwesy' Johnson)
Drums And Wires (XTC)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

1978 - Top 10+

1978: Uma estadia prolongada na República Federal Alemã (sim, ainda existia) alarga-me os horizontes a vários níveis e mais um. Com o Punk a dar as últimas, saem da toca as bandas New Wave. A televisão local, e alguns canais holandeses que via por estar perto da fronteira, apresentam diversos programas sobre música pop, coisa inédita em Portugal. O Musikladen é uma espécie de Top Of The Pops mas sem tabela (que me lembre). Lá aparecem os Ramones, os Blondie a promover 'Denis', Elvis Costello e os Devo. Infelizmente, por cada um destes nomes, temos de gramar dez cópias maradas dos Abba, Boney M e pop manhoso com muita brilhantina e lantejoula. Por outro lado, o Rockpalast transmitia concertos rock (quase) na íntegra. A coisa alternava entre uns UFO e Uriah Heep de má memória com Stranglers, Nina Hagen, Boomtown Rats e Joe Jackson. Por todo o lado aparecia um tal Udo Lindenberg, uma improvável estrela rock, que nunca deu o salto para fora das fronteiras germânicas.

Lá fora assiste-se aos regresso de Sprinsteen após a longa batalha judicial com o antigo manager. A espera compensou largamente. A pompa e circunstância de Born To Run é substituída por uma sonoridade mais sóbria, mais próxima dos primeiros discos, mas não tão caótica. As canções abandonam o imaginário adolescente e afundam-se no desespero e no tédio dos subúrbios, vidas perdidas entre os dias nas fábricas e as noites de copos. É o melhor disco de Bruce, é o disco do ano. É o disco de todos os anos.
Também Lou Reed regressa com o seu melhor desde Berlin. Pelo meio ficaram discos mediocres, com um par de boas canções cada. O futuro também não será muito melhor. The Blue Mask á parte, Lou será mais um cadáver a repousar no longo cemitério que foram os anos 80.
Neil Young descobre o Prozac e canta sobre amor e passarinhos e os Kraftwerk continuam a deslumbrar e editam o seu trabalho mais pop. Alguns anos depois, alguns incompetentes vão pegar em Man Machine e em Low, misturam com fatiotas Luís XIV e maus cabeleireiros e darão origem à pop mais boçal saída das caves do Império Britânico desde os tempos dos Slade.
Dos USA chega-nos um compêndio pop da autoria dos Blondie. O anterior Plastic Letters era um disco catita, mas Parallel Lines é um monumento. Cada canção é um potencial hit single, é o disco que eleva Debbie Harry á condição de diva da sua geração. Os Pere Ubu editam os seu primeiro álbum que confirma a genialidade de David Thomas que já se adivinhava desde o lançamento, dois anos antes, do single Final Solution, um dos melhores 7" da década.
Howard Devoto aborreceu-se do som primário dos Buzzcocks e avança com os Magazine, abrindo a porta ás influências da década que findava e apontando o caminho a alguns dos seus pares. Caminho que o próprio Devoto não trilharia ao enveredar por uma curta carreira a solo, que produziu um disco desinspirado e pouco interessante. Regressaria no final da década para uma outra história.


Darkness On The Edge Of Town (Bruce Springsteen)
Parallel Lines (Blondie)
All Mod Cons (The Jam)
Power In The Darkness (Tom Robinson Band)
First Edition (P.I.L.)
Street Hassle (Lou Reed)
Comes A Time (Neil Young)
Question/Answer (Devo)
The Man Machine (Kraftwerk)
Real Life (Magazine)
The Modern Dance (Pere Ubu)


domingo, 14 de outubro de 2012

1977 - Top 10+

1977: Tudo corre mal. O Punk estoura em Inglaterra mas esquecem-se de me avisar. Algumas más companhias (só podia ser) levam-me a coleccionar monumentais montes de esterco. Dos Stones mid-70s aos Barclay James Harvest, dos Triunvirat aos Queen, durante 3 anos vou acumular apocalípticas quantidades de lixo. Nem tudo vai ser mau. É uma época onde vou encontrar Springsteen, Lou Reed e Dr. Feelgood. Se ninguém descobrir, tenho a reputação intacta.

Lá fora chovem novidades. A fonte de música nova parece inesgotável. Inúmeras bandas editam os seus primeiros trabalhos, cada um melhor que o outro. O Top 10 podia bem ser preenchido apenas com caloiros, mas alguns veteranos insistem em editar excelentes álbuns, mantendo enorme coerência no trabalho até aqui apresentado.
Bowie edita Low e Heroes, os dois primeiros capítulos da trilogia de Berlim. O segundo, por ser mais convencional e uma continuidade de Low, ficou de fora. Mas é injusto. Low, com o seminal lado B, vai marcar gerações de novos músicos que chafurdam na pop electrónica. Para o bem e para o mal. O inner circle de Bowie também está bem representado com Eno a apresentar o seu álbum mais introspectivo (contagiado pelas sessões de Low?) e Iggy a assinar a sua obra-prima. Apesar do brilhantismo dos álbuns estreia dos Television e Suicide, o ano pertence ao Punk britânico. Chovem discos, cada um melhor que o outro, e tudo leva com o carimbo Punk em cima. Mesmo quando essa catalogação se torna muito discutível. O disco do ano é, obviamente, Never Mind The Bollocks. A facção neo-chique prefere o primeiro disco dos Clash. A discussão fica para os académicos da coisa. A cunha do ano é metida pelos Stranglers. O disco talvez não mereça estar no Top10 do ano, mas este é o meu Top10 e eu é que mando. A idade mais entradota dos músicos, aqueles teclados prog e a atitude go fuck yourself da banda irritou meio mundo, mas os 6 albuns editados entre 77 e 81 revelaram uma banda com uma identidade muito própria, que sabia bem para onde ia e que estava nas tintas para os efeitos secundários.

Low (David Bowie)
Never Mind The Bollocks (Sex Pistols)
Rattus Norvegicus (The Stranglers)
Before And After Science (Brian Eno)
The Idiot (Iggy Pop)
Marquee Moon (Television)
Trans Europe Express (Kraftwerk)
Rocket To Russia (Ramones)
Suicide (Suicide)
The Clash (The Clash)

Ficaram de fora:
My Aim Is True (Elvis Costello)
In The City (The Jam)
77 (Talking Heads)
Exodus (Bob Marley and The Wailers)
New Boots And Panties (Ian Dury)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

1976 - Top 10+

1976: As coisas estão mais ou menos na mesma. No entanto, um tipo do Barreiro que conheci nesse Verão, enviou-me uma caixa com uma vintena de k7s, onde se encontravam 'Blood On The Tracks', 'Who's Next', 'Déjà Vu', a BSO do Woodstock, Kraftwerk, Hendrix e outras coisas que já não me lembro. A minha discoteca pessoal (composta por 3 vinis dos Beatles e umas 5 ou 6 dezenas de k7s) aumentava e melhorava consideravelmente.

Lá por fora, as coisas continuam cinzentas e a pedir um bom pontapé no rabo. Stevie Wonder edita o seu último grande álbum. Os anos 80 e 90 seriam desastrosos para um dos músicos mais influentes de 70. O Pub Rock antecipa o Punk com os Dr. Feelgood, Kilburn & The High Roads e os 101'ers, mas o disco a escutar era Howlin' Wind de Graham Parker. Bowie, afundado em cocaína e no projecto The Man Who Fell To Earth, reinventa-se mais uma vez e grava Station To Station, um disco de apenas 6 canções que aponta para uma porta que seria aberta no ano seguinte. É um disco imperfeito e pouco coerente, mas é o meu disco favorito de David Bowie.
Também Joni Mitchell e Tom Waits editam os meus discos favoritos dos respectivos catálogos (afinal, parece que o ano não foi tão mau como isso). O disco de Waits alterna entre o humor autodepreciativo e as narrativas capazes de fazer chorar as pedras da calçada. É o melhor disco de Waits antes de Swordfishtrombones e contém 2 das suas maiores canções. É a minha escolha para disco do ano. Apesar de Hejira.

O álbum dos Ramones é o disco mais importante do ano. Para muitos, marca o fim da década de 70 sem, contudo, marcar o início de 80. Percebe-se a ideia, mas não deixa de ser uma injustiça para uma das décadas que viu nascer um sem número de nomes e tendências que marcariam as décadas seguintes.

Hejira (Joni Mitchell)
Desire (Bob Dylan)
Ramones (Ramones)
The Modern Lovers (The Modern Lovers)
Kate and Anna McGarrigle (Kate and Anna McGarrigle)
Station To Station (David Bowie)
Small Change (Tom Waits)
Rastaman Vibration (Bob Marley & The Wailers)
Songs In The Key Of Life (Stevie Wonder)
Howlin' Wind (Graham Parker)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

1975 - Top 10+

1975: Para todos os efeitos, musicalmente, este é o meu ano zero. A entrada para o liceu e consequente acompanhamento de gajos mais velhos de partidos de extrema-esquerda entupiram o meu quarto de lixo (panfletos, livros de Mao, cassetes maradas). A minha banda favorita são os Black Sabbath, dos quais gravei todos os albuns. Também ouço umas coisas de Led Zeppelin, mas não gosto dos Deep Purple. O prog também começa a entrar com os Yes e os Genesis à cabeça. Compro o meu primeiro disco, uma edição espanhola de A Hard Day's Night, que ainda possuo, que apresenta o título 'Que Noche La De Aquel Dia!' na capa. Isto vai piorar.

Graças a um longo processo de divórcio, Dylan regressa da tumba com o seu melhor disco desde 'Blonde On Blonde', destilando veneno por todos os poros. Bowie continua a sua corrida por fora e apresenta o som de Filadélfia a um público branco abrindo caminho para o triunfo do Disco Sound. Os Neu! e os Kraftwerk continuam a lançar sementes que darão frutos estranhos e diversos ao virar da década. Joni Mitchell muda as agulhas, vira-se para ambientes jazzy e assina o seu melhor disco até ao momento (calma, pessoal, eu sei que o 'Blue' é do caraças, mas isto tem a ver com amoques pessoais). No ano seguinte, repetiria a dose com 'Hejira'.

O disco do ano é 'Born to Run'. Depois de dois disquitos engraçados mas que passaram, justamente, despercebidos, Springsteen apresenta um disco de Rock'n'Roll grandioso, com canções longas que contam histórias de esperança e ilusão adolescente, os seus protagonistas são James Deans sem os maneirismos artificiais de 'Rebel Without A Cause', a produção recupera a wall of sound que Phil Spector perdeu pelo caminho. Com 'Born To Run' a indústria viu nascer o maior nome do Rock'n'Roll da década de 70. Springsteen demoraria 3 anos a lançar um novo disco. Mas a espera seria recompensadora.

Algures em Nova Iorque, uma desconhecida abre o seu disco de estreia a vociferar: 'Jesus died for somebody sins, but not mine'.

Blood On The Tracks (Bob Dylan)
Young Americans (David Bowie)
Between The Lines (Janis Ian)
The Hissing Of Summer Lawns (Joni Mitchell)
Radio-Activity (Kraftwerk)
Neu! (Neu!)
Horses (Patti Smith)
Tonight's The Night (Neil Young)
All Around My Hat (Steeleye Span)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

1974 - Top 10+

1974: A revolução chegou mas nem por isso o meu interesse pela música aumentou. Lá em casa entram singles dos Abba e do Demis Roussos (cortesia de uns tios emigrantes) e albuns do GAC e de Sérgio Godinho (juntamente com a gaivota que voava). Na escola, o panorama era um bocadinho melhor. Graças a um gravador manhoso que uma professora de desenho levava para as aulas, ouvi, pela primeira vez, Joan Baez e Dylan (folkie) a que não liguei puto. Nem a uma canção sobre um desgraçado de um pescador cantada pelo Juan Manuel Serrat. A única canção que me chamava a atenção e ficou na memória (porque pedia para a repetir vezes sem conta - sim, já nessa altura era uma melga com estas coisas) era o Partisan do Leonard Cohen.

Mas se em casa o panorama era mau, lá por fora era bem pior. O rock'n'roll está morto e enterrado. Bowie pica o ponto com o seu album mais fraco da década (mas mesmo assim, muito acima da concorrência), os Genesis destacam-se da boçalidade do prog apontando os caminhos por onde Gabriel iria seguir daqui a nada e os Kraftwerk atiram um ovni para o futuro, que seria agarrado pelo pessoal do hip-hop e da música de dança uns anitos mais tarde.

A folk britânica mantém viva a chama (os Steeleye Span também podiam estar aqui incluídos) e na América, três canadianos continuam a traçar o seu percurso negro e irregular (Cohen e Young) ou consistente e luminoso (Mitchell) que, no caso de Neil Young, virá a marcar uma geração 15 anos depois. Mais ao sul, na solarenga L.A., um copofónico com uma paixão por Jack Kerouac e com alma de Dean Martin apresenta-se ao mundo.

O álbum do ano é On The Beach, mas daqui a 5 minutos pode bem ser outro.

Diamond Dogs (David Bowie)
The Lamb Lies Down On Broadway (Genesis)
New Skin For The Old Ceremony (Leonard Cohen)
On The Beach (Neil Young)
I Want To See The Bright Lights Tonight (Richard and Linda Thompson)
Like An Old Fashioned Waltz (Sandy Denny)
The Heart Of Saturday Night (Tom Waits)
Grievous Angel (Gram Parsons)
Autobahn (Kraftwerk)
Court And Spark (Joni Mitchell)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

1973 - Top 10+

1973: ainda faltam 4 anos para Never Mind The Bollocks e o cheiro a mofo é insuportável. A minha jukebox continua a existir em Onda Média. Gosto dos Beatles, de Elton John e do Quarteto 1111, mas a música não entra no Top 10 das minhas prioridades, onde figuram os livros, apanhar caracóis, lagartixas e ranhosas, e dar um chuto numa bola de futebol sem bater com a tromba no chão.

Bryan Ferry mostra quem manda nos Roxy e depois da edição de For Your Pleasure dá um chuto no rabo a Eno e deslumbra com Stranded, o disco que o próprio Eno confessaria, mais tarde, ser o seu favorito. Bowie escreve algumas das suas melhores canções em Aladdin Sane, enquanto se prepara para matar Ziggy. Marley continua a dar pérolas a porcos, leia-se a um mundo que insiste em o ignorar, mas tudo iria mudar dois anos mais tarde. A complexidade de Dark Side Of The Moon deslumbra e vai tornar-se na principal arma de arremesso de uma espécie em rápida expansão, as Melgas Floidianas. No sentido contrário, os Genesis produzem um disco de um lirismo deslumbrante, desenhando os cenários de uma Inglaterra saída de um capítulo de Alice no País das Maravilhas. De todo o lixo que comprei antes de 1979, é dos raros discos que ainda mantenho.

O disco do ano é Berlin, de Lou Reed. Os momentos delicodoces e satíricos de Transformer foram substituídos pela solidão, depressão, dependência da heroína, violência. Lou vintage.

There Goes Rhymin' Simon (Paul Simon)
GP (Gram Parsons)
Aladdin Sane (David Bowie)
Raw Power (The Stooges)
For Your Pleasure (Roxy Music)
Stranded (Roxy Music)
Dark Side Of The Moon (Pink Floyd)
Selling England By The Pound (Genesis)
Catch A Fire (Bob Marley)
Innervisions (Stevie Wonder)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

1972 - Top 10+

1972, enquanto eu passeava na baixa portuense, após mais uma visita ao ortopedista, com umas botas que, anos mais tarde, viriam a ser incluídas numa adenda à Convenção de Genebra, Bowie e a tropa glam apresentavam ao mundo plataformas de metro e meio, make-up exageradíssimo e roupas capazes de fazer corar o António Variações. E música. A melhor música do planeta.

Se o album estreia dos Roxy Music é o disco do ano, 1972 pertence a David Bowie. Hunky Dory já tinha sido um grande disco, a primeira obra-prima, mas ninguém conseguiria antecipar o monumental sucesso de Ziggy Stardust, o disco e o personagem que marcariam os dois anos seguintes da carreira de David. Os Roxy Music apanharam boleia e ultrapassaram Bowie pela direita alta e neo-chique. Mas o ponto alto do ano de David é a recuperação de Lou Reed, morto e esquecido desde o abandono dos Velvet Underground. Transformer, o disco que mais vezes ouvi, é o grande regresso e o disco mais importante da carreira de Lou, pós-Velvet.

Obviamente que só apanhei estes discos alguns anos depois. O primeiro deve ter sido Talking Book de Stevie Wonder, por volta de 75 ou 76. Acabei por rapinar todos os discos de Wonder da década, excepção feita a Secret Life Of Plants, que acho um bocado maçador. Hotter Than July tinha umas cançõezitas trauteáveis e o que se seguiu não pode nem deve ser aqui mencionado.

Harvest (Neil Young)
Exile On Main Street (The Rolling Stones)
Ziggy Stardust (David Bowie)
Transformer (Lou Reed)
Foxtrot (Genesis)
Catch A Fire (Bob Marley)
Can't Buy A Thrill (Steely Dan)
Talking Book (Stevie Wonder)
Close To The Edge (Yes)

domingo, 16 de setembro de 2012

1971 - Top 10+

1971, a música que ouvia em casa da minha avó, na Rádio Renascença, não me deixou grandes (nem pequenas) memórias. A coisa mais antiga que me lembro de ouvir eram os fados de Coimbra do José Afonso e não posso garantir que tenha sido em 1971. Mas fora da minha esfera pessoal, e por incrível que pareça, andavam uns caramelos a fazer alguma coisa de jeito. Da minha colheita pessoal resolvi destacar os seguintes:

Blue (Joni Mitchell)
Who's Next (The Who)
The Low Spark Of High-Heeled Boys (Traffic)
Sticky Fingers (The Rolling Stones)
L.A. Woman (The Doors)
Dersertshore (Nico)
Hunky Dory (David Bowie)
Tago Mago (Can)
What's Going On (Marvin Gaye)

O álbum do ano é Songs Of Love And Hate de Leonard Cohen que conheci 7 ou 8 anos mais tarde (o disco, não o Lenny). Não foi o primeiro disco de Cohen que conheci mas foi, seguramente, o que mais ouvi e mais discuti. Teses de doutoramento foram feitas a horas tardias sobre o significado das canções, em especial o magnum opus, Famous Blue Raincoat. Tanto tempo perdido à volta de algumas palavras quando o verdaadeiro sentido da canção só podia ser um: o meu.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

1970 - Top 10+

Tal como prometido, começo aqui a apresentação do Top 10 elástico dos meus álbuns favoritos (e consequentemente, na Lista Rebelde). Deixo de fora a década de 60 por ter alguma dificuldade em perceber a importância que foi dada a muitos dos discos dessa época que por aqui se encontram empilhados.  Nestas coisas, prefiro os exageros contemporâneos à visão histórica e distanciada da coisa.

Bridge Over Troubled Water (Simon & Garfunkel)
Déjà Vu (Crosby, Stills, Nash & Young)
After The Gold Rush (Neil Young)
If I Could Only Remember My Name (David Crosby)
Loaded (Velvet Underground)
III (Led Zeppelin)
Black Sabbath (Black Sabbath)
Christmas and The Beads Of Sweat (Laura Nyro)
Fotheringay (Fotheringay)
John Barleycorn Must Die (Traffic)
Atom Heart Mother (Pink Floyd)

domingo, 26 de agosto de 2012

50 anos, 50 álbuns

Fazer uma lista dos 50 álbuns favoritos era, como devem calcular, demasiado óbvio (por isso, lá iremos, daqui a pouco). Como tal, resolvi fazer uma lista dos meus álbuns favoritos, ao longo destes 50 anos de vida, mas introduzi algumas regras para tornar a coisa mais aliciante:

Discos ao vivo, colectâneas e versões, não valem.
Só foi escolhido um disco por ano.
Não pode haver mais que um disco por autor, incluíndo discos a solo de membros de bandas.

Parece fácil? Tentem e vão ver. Aqui ficam as minhas escolhas:

Autor, Álbum, Ano
Getz/Gilberto, Getz/Gilberto, 1963
The Kinks, Kinks, 1964
Bob Dylan, Highway 61 Revisited, 1965
The Velvet Underground, The Velvet Underground & Nico, 1966
The Doors, The Doors, 1967
Van Morrison, Astral Weeks, 1968
Led Zeppelin, Led Zeppelin II, 1969
Neil Young, After The Gold Rush, 1970
Leonard Cohen, Songs Of Love and Hate, 1971
Lou Reed, Transformer, 1972
Roxy Music, For Your Pleasure, 1973
Genesis, The Lamb Lies Down On Broadway, 1974
Joni Mitchell, The Hissing of Summer Lawns, 1975
David Bowie, Station To Station, 1976
Sex Pistols, Never Mind The Bollocks, 1977
Bruce Springsteen, Darkness on the Edge of Town, 1978
Talking Heads, Fear of Music, 1979
Joy Division, Closer, 1980
Echo & The Bunnymen, Heaven Up Here, 1981
John Cale, Music For A New Society, 1982
Tom Waits, Swordfishtrombones, 1983
Lloyd Cole & The Commotions, Rattlesnakes, 1984
The Jesus and Mary Chain, Psychocandy, 1985
The Smiths, The Queen Is Dead, 1986
Pixies, Surfer Rosa, 1987
Nick Cave & The Bad Seeds, The Mercy Seat, 1988
Mekons, Mekons Rock'n'Roll, 1989
Jane's Addiction, Ritual de lo Habitual, 1990
Nirvana, Nevermind, 1991
Pearl Jam, Ten, 1992
Morphine, Cure For Pain, 1993
Jeff Buckley, Grace, 1994
Tricky, Maxinquaye, 1995
Barry Adamson, Oedipus Schmoedipus, 1996
Tindersticks, Curtains, 1997
Mercury Rev, Deserter's Songs, 1998
The Flaming Lips, The Soft Bulletin, 1999
Calexico, Hot Rail, 2000
The White Stripes, White Blood Cells, 2001
Queens Of The Stone Age, Songs For The Deaf, 2002
Robert Wyatt, Cuckooland, 2003
Franz Ferdinand, Franz Ferdinand, 2004
Arcade Fire, Funeral, 2005
Arctic Monkeys, Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, 2006
Beirut, The Flying Club Cup, 2007
TV On The Radio, Dear Science, 2008
Grizzly Bear, Veckatimest, 2009
John Grant, Queen of Denmark, 2010
Dirty Beaches, Badlands, 2011
Mark Lanegan Band, Blues Funeral,  2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Memórias difusas de Vilar de Mouros (30 anos depois) - parte 2


(continuação)

 A manhã seguinte demonstrou que a nossa opção não foi a melhor. Ao longo das primeiras horas começaram a chegar grupos de gente aos magotes e, tal como nós, optaram pela solução mais fácil, acampar na praia. Correndo o risco de vermos o local onde estávamos alcançar um índice populacional superior à baixa de Tóquio, resolvemos arrumar as trouxas e subir o rio em algumas centenas de metros, á procura de um local com sombra e com pouca gente. Não foi preciso procurar muito. Rapidamente assentamos arraiais junto a uma pequena clareira, a uns bons 30 metros da margem do rio, no meio do mato bravo mas, por enquanto, limpo e sossegado. No local ainda foi possível aproveitar o que restava de uma antiga fogueira, rodeada por enormes calhaus, a que daríamos bastante uso.

 Nos primeiros dias, o tempo passava-se entre o tasco e o local do festival, totalmente aberto aos transeuntes, devido ao facto de cortar a meio uma rua á qual, com muito boa vontade, se poderia chamar de “principal”. À distância de 30 anos, uma primeira visão do espaço onde o Festival iria decorrer era reveladora do completo amadorismo e da dimensão do potencial desastre que se aproximava. À época, o entusiasmo juvenil, a sensação de liberdade e a total inconsciência no sentido lato do termo, faziam tábua rasa de tudo o resto.

 As casas de banho, e por casas de banho entenda-se retretes ou sanitas, conforme preferirem, seriam insuficientes se estivéssemos a falar da comunhão solene de um órfão de pai e mãe com um enorme défice de competências sociais. Como se tratava de um festival onde eram esperadas cerca de 20,000 pessoas na primeira noite (números avançados pela organização), rapidamente se chega à conclusão que o técnico que planeou esta parte do evento tinha um mórbido sentido de humor, era um perfeito incompetente ou sofria de prisão de ventre desde o regicídio de 1908.

 No que toca à alimentação, e tirando o já referido tasco da azenha, sobrava a boa vontade de alguns indígenas que vendiam sandes a preços nada especulativos, ao contrário do que se poderia esperar. O resto era o zero absoluto. Da parte da organização, que me lembre, nada foi providenciado. Segundo julgo saber existia um ou dois parques de campismo “oficiais” onde a situação poderá ter sido diferente. A maioria das pessoas que ocorreu ao Festival e que, tal como nós, acamparam no meio do mato e tinham pouco ou nenhum dinheiro, passaram fome e/ou roubaram a fruta dos pomares vizinhos. Desde já, aqui ficam as minhas desculpas pelos actos à época cometidos e um muito obrigado pela compreensão dos locais que sempre nos trataram com o maior carinho, em vez de nos aviarem umas sacholadas na cornadura que era aquilo que merecíamos.

 O palco, uma minúscula estrutura de betão de pouco mais de metro e meio de altura, era ladeado por uns frágeis andaimes que ameaçavam desmoronar-se à primeira rajada de vento e serviam de suporte às colunas do PA que, alguns dias mais tarde, seriam cobertas por uns plásticos, devido ao anúncio de uns chuviscos de verão. Junto ao palco, abandonados à sua sorte, repousavam meia-dúzia de gradeamentos que, durante os primeiros 5 minutos do concerto dos Bunnymen, serviu para manter o público afastado do palco. Na cobertura de zinco, era visível um conjunto de lamparinas, que constituía o sistema de luzes e  seria utilizado ao longo dos nove dias do evento.

 Tudo aquilo parecia mais apropriado a um arraial minhoto que a um Festival de música onde estariam presentes milhares de pessoas. Mal sabíamos nós que, alguns dias depois, estaríamos mesmo a assistir, atónitos, a uma verdadeira desfolhada minhota.

 (continua)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Memórias difusas de Vilar de Mouros (30 anos depois) - parte 1

Não me recordo quanto custou o bloco de 9 bilhetes para o Festival de Vilar de Mouros de 1982. Recordo-me de ir comprá-lo, com o Berto, companheiro inseparável de concertos e afins durante uma boa meia-dúzia de anos, à Tubitek, uma loja de discos que existia na Praça D. João I. O valor nominal dos bilhetes é 2,350 escudos mas, como foram comprados com muita antecedência, no regresso a casa após uma manhã passada na Feira de Vandoma, a coisa deve ter ficado pelas 2 milenas.

As notícias avançadas semanalmente pelo jornal Sete anunciavam um manancial de bandas que valiam bem a deslocação a Caminha e o sacrifício de estourar 2 conteiros em bilhetes com tanto tempo de antecedência. Afinal, tratava-se do primeiro festival de música do pós-25 de Abril e, de uma assentada, seria possível assistir a concertos tão apetecidos como Durutti Column, A Certain Ratio, New Order, U2, Bunnymen, The Fall e muitos mais. Os Hawkwind estavam referenciados como cabeças de cartaz.

A vontade era tanta que resolvemos arrancar para Caminha alguns dias antes do início das festividades. Penso que viajamos no dia 26 de Julho, 5 dias antes do início, mas posso bem estar enganado. Este pormenor é importante porque, durante a fase de orçamentação (?) da empreitada, estes dias adicionais não foram tomados em conta. Mas disso falarei mais para a frente.

Ao sair do comboio, na estação de Caminha, deparamo-nos com o vazio total. Do anunciado mar de gente, uma chusma de peregrinos em busca do seu próprio verão do amor (pois, pois), não havia qualquer sinal. A falta de dinheiro e a certeza de arranjar uma boleia levou-nos a meter os pés ao caminho até Vilar de Mouros. 6 quilómetros percorridos a pé, debaixo de um sol quente de Verão. A boleia foi uma miragem, mas não para a outra margem.

Seguindo a indicação de alguns simpáticos indígenas aterramos no tasco da azenha, um excelente local para comer umas sandes e atestar uns copázios de tintol a um preço catita, com uma excelente vista para a, como o nome indica, azenha. A azenha era um local bonito, com uma queda de água modesta que tombava sobre uma pequena praia e formava um lago, excelente para a prática da higiene diária. De um dos lados sobressaía um conjunto de edifícios de pedra, em ruínas, talvez um antigo moinho, que despontava no meio do arvoredo que o rodeava. À primeira vista, um excelente local para montar o estaminé. Tinha tudo o que era preciso, um tasco, uma praia e uma gigantesca banheira, a 5 minutos a pé do local do festival. (continua)

domingo, 1 de julho de 2012

Um coelho no purgatório

Numa memorável cena do ainda mais memorável filme High Fidelity, de Stephen Frears, após recusar a venda do infame single "I Just Called To Say I Love You" de Stevie Wonder a um cliente, o empregado Jack Black inicia uma discussão com o dono da loja, John Cusack, colocando a seguinte questão: 'Rob, top five musical crimes perpetuated by Stevie Wonder in the '80s and '90s. Go. Sub-question: is it in fact unfair to criticize a formerly great artist for his latter day sins, is it better to burn out or fade away?'

O que têm em comum Velvet Underground, The Doors, Talking Heads, Joy Division, The Smiths e os The Stooges? A ausência de gorduras na sua obra discográfica com o reconhecimeento que o fim criativo tinha chegado. Que o fim seja causado pela morte de um dos membros (Doors e Joy Division) ou pelo abandono do líder (VU e Talking Heads) ou por implosão (Stooges), é perfeitamente irrelevante.

Se tomarmos como exemplo o nome mais bem sucedido da história da pop, os Beatles, apesar de todas as cisões internas, perceptíveis desde a concepção do White Album, foi necessária a edição do medíocre Let It Be para comprovar que a banda estava fora do seu tempo.

Ian McCulloch sabe que, caso a sua banda tivesse parado após a edição de Ocean Rain teria o seu merecido lugar no Olimpo da pop, ao lado das bandas que mencionei anteriormente. A cisão esteve para acontecer mas, graças aos esforços de Pete de Freitas, a banda tentou ir mais além do que era capaz e ultrapassar o seu magnum opus de 84. Espalharam-se ao comprido e editaram o autointitulado disco de 87 a que se seguiu a separação.

Por isso, não espanta que dos 19 temas apresentados ontem à noite (sem contar com os já habituais medleys, que incluíram Walk On The Wild Side de Lou Reed, In The Midnight Hour de Wilson Picket, Sex Machine de James Brown, A Promise dos próprios Bunnymen e mais uma ou duas que me escapam), 12 pertençam ao período 80-84. Isso ou a tentativa de agradar á geração sub-50 que enchia a Serra do Pilar.

Abriram com Going Up e, ao fim de 5 temas, já tinham aviado 4 do período Crocodiles, Going Up, Rescue, Do It Clean e Villiers Terrace. Mais para a frente, revisitariam ainda All That Jazz. Para quem os tinha visto 2 vezes no período Pete de Freitas, a inclusão de 2 elementos adicionais causava alguma expectativa, principalmente a utilização de teclados. No entanto, de uma forma geral, os temas apresentados mantiveram-se fiéis aos originais, não acrescentando grandes novidades.

Após Seven Seas, a primeira incursão em Ocean Rain, seguiu-se Bring On The Dancing Horses. Ao meu lado, Zeca Tuga resmungava 'isto é música para gajas' e abria caminho para mais uma visita ao stand das cervejas, de onde regressaria aos primeiros acordes de Never Stop. Pelo caminho ficaram os pouco interessantes Rust e The Fountain, com All My Colours pelo meio. A surpresa da noite foi a inclusão de The Disease do segundo LP Heaven Up Here, com McCulloch a cantar 'A minha vida é uma doença' enquanto pedia alegres palminhas à audiência.

Daí até ao final foi sempre a subir. Never Stop, um tema que em 84 quase causou um motim no Pavilhão do Infante Sagres, desta vez passou quase despercebido. Mas Villiers Terrace, The Killing Moon (apresentada como 'uma canção que nunca fizemos ao vivo, ou se calhar fizemos mas pouco', e 'the best song ever written') e The Cutter encerraram o alinhamento com enorme galhardia.

Os encores abriram de forma promissora com o magnífico Over The Wall, mas a escolha do bolorento mas bem sucedido Nothing Last Forever fez-nos temer o pior. A coisa compôs-se com a ligação a Walk On The Wild Side e In The Midnight Hour e o fim chegou com Lips Like Sugar, um dos favoritos do povo que já clamava por ele desde o início do concerto.

Voltando ao início do texto e a Jack Black, será que 'better to burn out than fade away' só se aplica aos artistas? Qual é a nossa responsabilidade como audiência, ao recusarmos enfrentar os novos tempos e ao refugiarmo-nos nas glórias passadas, num saudosismo bacoco e doentio? Será que não é esta atitude passiva dos consumidores que leva os artistas a tornarem-se auto-complacentes e caricaturas do seu próprio passado?

Entretanto os Bunnymen continuam o seu caminho e, como diria Chico Buarque, foi bonita a festa, pá!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Grazie Gianluca!

Antes que comecem os comentários rafeiros a acusarem-me de colocar fotos de gajas boas para ver se melhoro o número de acessos ao blogue, quero deixar aqui bem claro que esta posta é sobre futebol e que não alinho nessas merdas sexistas (ok, chega de aplausos).

Não tenho visto muitos jogos do Euro mas, felizmente, acho que vi os jogos todos da selecção italiana. Numa altura em que um dos meus ídolos futebolísticos (o senhor que faz a faxina em casa da menina da foto) se prepara para arrumar as botas, é um privilégio vê-lo actuar ao mais alto nível (como diria o Freitas Lobo) ou a top (como diria o Carlos Carvalhal). E se tudo correr bem, irei vê-lo levantar o caneco no próximo Domingo à noite, contra os espanhóis. Com jeitinho, ainda leva no trombil quando chegar a casa com mais entulho, já não deve haver lugar para mais troféus.

Esquecerem-se do Gianluca quando andam a fazer aquelas listas de melhores de todos os tempos e da galáxia de Andrómeda, onde incluem a tropa do costume, sem esquecer o Puskas, o Stanley Matthews e o Jeremiah McChicken, do tempo do arroz de 15, é não perceber que o futebol se joga com onze jogadores.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O Retorno - Dulce Maria Cardoso


Soube dele (e dela) pelo Público, após ter sido nomeado Melhor Romance de 2011. Adicionei-o por isso à minha lista "Um dia talvez compre". Esse dia chegou há coisa de dois meses e o livro foi direitinho para a estante "Um dia talvez leia".

Li-o há cerca de 3 semanas, em menos de 3 dias. É um bom livro, uma descrição comovente, mas não lamechas, de um tempo histórico com o qual me identifico - a tragédia dos que regressaram (regressaram?) de África, com os seus caixotes de madeira toscamente pregados e pintados com um nome, um apelido, uma terra. Tive família que de lá voltou e alguma que lá ficou também. E, como co-transmontano, assisti aos "bairros de retornados" que cresceram como míscaros por todo o lado.

O livro é fascinante, a prosa é fluída e hipnotizante. Não é politicamente correcto, é escrito por quem lá esteve, não por quem se limitou a ouvir falar do assunto. Fala de pretos e diz que alguns eram maus. E fala de brancos e de como  alguns eram maus também.

Gostaria de tecer algumas considerações sobre o final, mas não quero estragar a história a quem ainda a não tenha lido. Direi no entanto isto: é como a Coca-Cola do Pessoa, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Já comprei outro livro da Senhora na Feira do Livro: "Os Meus Sentimentos". Este já foi para a estante "Bute lá que entras a seguir".


O Dupond Disse Que Ia Comprar Cigarros E Nunca Mais Soube Dele...

... e afinal anda aqui todo lampeiro a debitar postas.
Mas neste País, já se sabe: nada que seja bom dura muito, por isso também eu arrasto para aqui a minha cadeirinha de praia e a minha prosa de taxista. Ou não...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ferrugem Americana

Gosto de livros assim. Ao fim de 65 páginas tenho a certeza de estar em presença de um clássico muito pessoal. Um daqueles livros que daqui a 20 anos estará no monte, raramente tocado, para uma nova leitura.

Por enquanto vou continuar a ler e a descobrir, muito devagarinho, para que o prazer se estenda, o mais possível, no tempo.

Se este livro fosse uma canção, era o Factory, do Bruce Sprinsteen.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Análise científica às selecções do Euro 2012

Terminada a primeira jornada da fase de grupos do Euro, cabe ao analista fazer uma avaliação das equipas em competição de modo a identificar os verdadeiros candidatos. Tive a oportunidade de ver dois jogos (Itália-Espanha e Holanda-Dinamarca) e meio (Alemanha-Portugal) e de ouvir opiniões abalizadas de comentadores experientes, acção desenvolvida enquanto programo a box para as gravações semanais da Fox Crime.

Como devem calcular isto não é tarefa fácil. Vou tentar simplificar ao máximo de modo a não confundir as vossas cabecinhas frágeis, preocupadas que estão em lembrar-se se colocaram o número suficiente de Super Bocks no congelador para oferecer aos colas dos vossos amigos que, tal como vocês, vão sair mais cedo do trabalho para se alaparem no vosso sofá a ver o Dinamarca-Portugal.

Candidatos a sério:
Na realidade, só há 2. A Alemanha e a Espanha. Os alemães, que já ganharam mais títulos internacionais que as outras equipas juntas, já estão há muito tempo sem deitar a luva ao caneco. Como tal, a estatística joga a favor deles. Os espanhóis, que a jogar como o Barcelona, ganharam as duas últimas competições de selecções, estão desfalcados do Messi, que foi golear brasileiros para os Estados Unidos. Mesmo assim, caso o Del Bosque se lembre que tem avançados no banco, deve dar para ganhar isto com uma perna às costas.

Candidato a brincar mas que pode ser levado a sério:
A Holanda. Tal como os portugueses, os holandeses têm um problema grave. Pensam que o futebol se joga com uma só baliza. Mas ao contrário de Portugal, pensam que é a baliza do adversário. O que os leva a borrifarem-se para a defesa com resultados, por vezes, menos interessantes, mesmo quando jogam contra equipas como os sornas dos dinamarqueses.

Candidatos a brincar que não podem ser levados a sério:
Inglaterra e Portugal. Duas equipas que, por mistério insondável, são colocados nas listas de candidatos de 2 em 2 anos, mas que nunca ganharam a ponta de um corno. Ou melhor, a Inglaterra já ganhou, mas nessa altura a TV ainda era a preto-e-branco. Tecnicamente, não conta. É como dizer que o Uruguai já foi bicampeão do mundo. Para os ingleses, o futebol é atletismo com bola e a única coisa relevante nesta equipa, é saber quem é o jogador que tem uma namorada/mulher que o John Terry ainda não conheceu, como Abraão conheceu Sara.

Candidatos que jogam um futebol "inteligente":
Itália, Grécia, Dinamarca. Na gíria futebolística, futebol "inteligente" é sinónimo de equipas que não saem do coqueiro nem que na baliza adversária esteja a Hope Solo (quem não sabe quem é, ver foto em anexo - corja de ignorantes!), equipas cujos jogos representam a cura para a insónia e que no seu plantel têm um número significativo de armários que dão lenha como se não houvesse amanhã.

domingo, 10 de junho de 2012

Os Flaming Lips e o resto do dia 2 do Primavera Sounds - uma reportagem telegráfica (parte 2)

22h45 - A fome aperta e a sede desperta. Está na hora de comer qualquer coisa e os Wilco podem esperar. Asneira nº 2. As filas para os morfos são intermináveis e esperar 20 minutos para trincar qualquer coisa é contra a minha religião. Mas ficar com fome até chegar a casa também é uma opção pouco inteligente. Duas fatias de pizza e uma coca-cola passadas, sou convencido pelo António Alberto, que me acompanhou nesta promenade, a entrar numa casa de banho destinada a um sexo distinto do meu. A intervenção pronta e convincente de um amável cavalheiro vestido de preto evitou males maiores.

23h15 - Pequeno passeio para esticar as pernas na zona do merchandising da qual saí sem gastar um cêntimo, o que prova que sou um novo homem ou que preciso de voltar ás consultas de psiquiatria.

23h30 - Deslocação para o Palco Optimus onde se encontram já os Wilco, nome maior saído do movimento alt-country ou Americana, que apareceu em meados dos anos 90. Confesso que não sou fã dos Wilco. Tenho um par de discos lá por casa, anteriores ao Yankee Foxtrot Hotel, disco que tem o condão de me fazer adormecer antes de chegar à terceira faixa. Mas isso é outra conversa. Sentei-me a observar o bonito chapéu do Tweedy e, ao fim de uns bons 20 minutos acordei com o meu próprio ressonar. Propus ao Alberto, que contava as estrelas cadentes, passarmos para o Palco Club, onde actuavam os Neon Indian.

23h35 - Mais uma vez, enganamo-nos no caminho e aterramos em pleno Palco ATP onde tocavam os Shellac.

23h40 - Chegada ao Palco Club para ver os Neon Indian. O espaço estava quase lotado, e a rapaziada que estava em cima do palco tentava, com sucesso, recordar os ambientes da pop electrónica do início da década de 80. No entanto, a qualidade do som era muito fraca e prejudicou seriamente a prestação dos Neon Indian. Justiça seja feita, uma boa parte do público aderiu com entusiasmo ao bailarico proporcionado e a mim ajudou-me a despertar da narcolepsia causada pelos Wilco.

00h30 - Nova voltinha pela zona do merchandising com paragem longa na tenda da Louie Louie onde namorei, longamente, um disco dos The Sonics. Infelizmente, a relação, que tinha pés para andar, não se concretizou e regressei ao Palco Club, de mãos a abanar, para ver os Beach House, a banda que maior interesse me despertava neste segundo dia de Festival. Asneira nº 3.

01h00 - Chegada ao Palco Club para ver os Beach House. O espaço estava completamente lotado. Com algum esforço conseguimos arranjar um sítio pouco decente para assistir ao concerto. O mau som que tinha brindado a prestação dos Neon Indian, piorou. Os Beach House mostraram claramente não estarem preparados para o seu próprio sucesso. A banda, que pratica um som frágil, próximo de um cruzamento entre os Mazzy Star e os Cocteau Twins, mas mais entusiasmante, não se deu bem com o espaço da área reservada que era manifestamente insuficiente para a procura. O enorme sucesso dos dois últimos trabalhos transformou os Beach House num segredo mal guardado do povo indie, mas a sua música não está, por estranho que pareça, preparada para o anunciado sucesso. Estou convencido que daqui a 2 ou 3 anos, quando actuarem no Optimus Alive com uma outra formação, com mais um guitarrista, um baixista e, quem sabe, um percursionista, a sua música resultará em pleno em grandes espaços apropriados às multidões de fãs que merecem ter. Nessa altura, estarei à sombra de uma azinheira a ouvir os Wilco.

sábado, 9 de junho de 2012

Portugal-Alemanha, um ensaio para a final

Tal como eu não previ, Portugal não foi esmagado pela Alemanha e a Dinamarca não perdeu (nem empatou) com a Holanda. Ainda por cima, ao contrário da Holanda que merecia ganhar (de longe) à Dinamarca, a Alemanha não jogou um charuto. Houve aqui grande mérito de Paulo Bento que, ao conseguir vulgarizar a Alemanha iniciando o jogo com Pereira, Veloso, Coentrão e Postiga, no onze titular, resolveu mostrar que na final, onze contra onze, não daremos a mínima hipótese. Ainda pensei que o seleccionador alemão, ao ver a linha portuguesa, retirasse de campo Khedira, Ozil e Shweinsteiger e mandasse alinhar Huguinho, Zézinho e Luisinho. Mas Joachim Low não demonstrou qualquer tipo de fairplay.
Portugal teve azar na forma como sofreu o golo. Moutinho tentou evitar o cruzamento com o rabo mas a dimensão do seu traseiro foi manifestamente insuficiente para o efeito. Estivesse em campo a Monica Belucci com a camisola de Portugal e a conversa seria outra. E depois, como Pepe estava a trocar SMS com o Mourinho, o Pereira ficou a marcar o Mario Gomez. Ora, isto equivale a dizer que um dos 7 anões tinha como missão marcar o Godzilla. E foi o que se viu. O Bosingwa é que se deve estar a rir...

Nota final: acabei de ver um senhor de óculos a dizer, na TV, que o Paulo Bento mostrou aos portugueses os motivos porque convocou o Nelson Oliveira. Também acho. O moço correspondeu às espectativas, mantendo a média de golos marcados na Liga nacional.

Os Flaming Lips e o resto do dia 2 do Primavera Sounds - uma reportagem telegráfica (parte 1)

17h30 - Chegada ao recinto.

17h40 - Chegada ao Palco Primavera para ver os Linda Martini dizerem "Adeus e obrigado!". Tive sorte. Ainda tive direito a um encore e ao crowd surfing do baterista. Só por isso, tentei comprar uma bonita t-shirt cor-de-laranja da banda. Azar, não tinham o meu número.

18h15 - Chegada ao Palco Club para ver os Other Lives. Enganei-me no percurso e aterrei no Palco ATP. Vi uns 15 minutos dos Tall First. Gostei, mas a música intimista da banda foi muito prejudicada pelo ruído que vinha de outro palco e que se fazia ouvir distintamente. Desloquei-me para o Palco Club para ver os Other Lives. Asneira número 1, os Other Lives apresentam um prog retardado, uma espécie de Van Der Graaf de 3ª divisão. Ainda os aturei um bom bocado, mas antes de terminarem, dei à sola. Faltavam 5 minutos para os Yo La Tengo abrirem as hostilidades.

19h00 - Chegada ao Palco Primavera para ver os Yo La Tengo. Vi-os há um par de anos na Casa da Música com excelentes resultados. Voltei a ficar satisfeito. Apesar de manterem uma carreira de quase 30 anos, continuam a entusiasmar com a sua música pop que vai beber às melodias noise dos Velvet Underground e Sonic Youth parte de um encanto muito próprio. O primeiro momento da noite estava encontrado.

20h15 - Deslocação de alguns metros para a direita, até ao palco Optimus, onde ia actuar Rufus Wainwright. Momento social da noite, para trocar breves impressões com vários amigos que por lá encontrei. Um deles, que já tinha visto o moço anteriormente, afirmava ser qualidade garantida. E assim foi. Rufus é um entertainer competente, uma espécie de Elton John indie, sem os (muitos) desvios de mau gosto deste último. Pelo menos para já. A linhagem do músico e as suas mais recentes ligações familiares fazem acreditar que tais desvios não aconteçam. Foi um bonito momento de musicól. Não dei o tempo por perdido, mas também não posso dizer que me tenha enchido a barriga, a qual, por sinal, começava a dar horas. Quase me esquecia! Adorei os sapatos.

21h30 - Regresso ao Palco Primavera para ver os Flaming Lips. Tal como os Yo La Tengo, os Flaming Lips são uns veteranos com início de carreira registado em meados de 80. Fazem um rock psicadélico ao qual, confesso, não liguei muito durante demasiado tempo. Estava errado, obviamente. Em 1999, editam o último grande disco do milénio, The Soft Bulletin, o disco que me fez abrir as orelhas de forma devida, para a música de Wayne Coyne. O primeiro grande disco do novo milénio seria, também, dos Flaming Lips, Yoshimi Battles the Pink Robots, o seu décimo LP, editado em 2002. Se, por acaso, a sua carreira se tivesse limitado a estes dois discos, tinham um lugar de destaque na História da música Pop, por mérito próprio. A expectativa era elevada por causa da música e pelo que já tinha escutado sobre os seus espectáculos. E quando a expectativa é muito alta, sofrem-se grandes desilusões. Não foi o caso. O concerto dos Lips foi o grande momento da noite, um dos melhores a que já assisti. Seguramente, aquele em que o aparato cénico esteve melhor integrado com a música executada, o pop psicadélico dos Flaming Lips era complementado de forma perfeita pelo nonsense excessivo e surrealista que a banda usa e abusa em palco. Nada de confusões, estamos longe do pretensiosismo barroco (e bacoco) das bandas prog e psicadélicas dos anos 70. Se o rock'n'roll é um circo, os Flaming Lips são os seus palhaços.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O génio, esse desconhecido

Andei a matutar sobre o que poderia escrever sobre o meio-campo da selecção nacional. Nomes dos jogadores à parte (e alguns nem conheço), não sobra muito para dizer.

Estava eu nisto, no meio da VCI, quando surge na Antena 1, um senhor do Sporting (que não me lembro o nome) a dizer que, no jogo com a Turquia, a Selecção tinha melhorado com a entrada do Custódio (foi ele que disse, não fui eu; eu nem vi o jogo). No entanto, continuou, com a saída do Miguel Veloso perdia-se o toque de genialidade no meio-campo português. Mais uma vez, foi ele que disse, não fui eu.

domingo, 3 de junho de 2012

Viva Portugal, a Super Bock e as alheiras de Mirandela!

Caso estejam a ler esta crónica em Marte e não tenham acesso a jornais e ligação à Internet (eu sei que sem ligação à Internet não liam esta crónica, não sou estúpido; e se vocês tivessem uma vida não liam estas merdas), no próximo fim-de-semana começa o Europeu de Futebol.

Tal como acontece desde o Euro 2000, somos os principais candidatos à vitória final. Ao que parece, jogamos ontem com a Turquia e só não empatamos por manifesto azar. Não vi o jogo, tal como não vi o jogo com a Macedónia ou Turquemenistão, ou lá o que foi, que acabou com uma quase vitória por 0-0. Tinha uma pizza ao lume e um homem tem de ter prioridades. Mas vi os últimos 5 minutos, o que deu tempo para apreciar aquele fantástico momento de vaudeville em que o Ricardo Costa chutou a bola contra o Pepe e deu origem ao terceiro golo do adversário. O Futebol Clube do Porto sempre formou centrais com veia goleadora.

Obviamente que vou torcer pela Selecção Nacional durante a fase de grupos. Depois, para manter o interesse e alimentar algumas apostas com os amigos, torço pela Holanda, como é habitual. Tal como Portugal, não ganham nada, mas jogam que se fartam. Não têm o melhor jogador do mundo, mas têm uns 14 ou 15 que, ao contrário do Ronaldo, sabem o que fazer a uma bola quando têm a camisola da Selecção vestida. Além disso produzem uns queijos excelentes, apresentam sempre umas claques de categoria e não têm vergonha na cara para aparecerem vestidos com um dos equipamentos mais azeiteiros da História do futebol.

Enquanto a chincha não começa a rolar no gramado, vou fazer uma pequena apreciação aos nossos representantes. Aqui vai:

Guarda-redes:
Excelente escolha! O guarda-redes titular é um rapaz que tem como ponto alto no CV não ter sido goleado pelo campeão inglês (ao contrário de uns e outros...). Pena é que se fique por aí. Nunca foi campeão e o seu registo nos jogos a sério (e não estou a falar em jogos com o Benfica, mas sim da Liga dos Campeões) não é o melhor. O guarda-redes suplente é também um jogador de prestígio. Podia ser oriundo do ilustre campeonato italiano, mas alguns problemas ao nível da competência devolveram-no à procedência. De qualquer modo, sofreu pouquíssimas derrotas ao longo da época, em que alinhou num considerável número de jogos (dois ou três). O terceiro guarda-redes é o único que sabe o que é ser campeão. Pena é que os tenha festejado no banco do Porto ou como titular de um clube de um país que tem tanto prestígio no futebol como Portugal no esqui alpino.